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QUESTÃO AGRÁRIA
Grupo de proprietários entra em fazenda e expulsa 40 famílias que haviam invadido terra há dois anos
Ruralistas tiram sem-terra de área no PR
FERNANDO MENDONÇA
da Agência Folha, em Curitiba
Cerca de 80 fazendeiros entraram na madrugada de ontem
na fazenda Saudade, em Santa
Izabel do Ivaí,
noroeste do Estado, para expulsar cerca de 40 famílias de trabalhadores rurais sem
terra que estavam acampadas no
local havia dois anos.
As barracas pegaram fogo durante a ação. Segundo o MST, foram os fazendeiros que atearam
fogo em todo o acampamento. A
UDR nega. Não houve feridos.
As famílias saíram da fazenda e
estão alojadas no salão paroquial
da igreja de Santa Izabel do Ivaí.
A ação contra os invasores aconteceu pela manhã. Segundo um
dos coordenadores regionais do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Antônio
das Neves, 34, os ruralistas entraram na fazenda encapuzados, atirando para o alto, xingando e ordenando para que todos deixassem o acampamento.
"Pela forma como agiram, eles
não são amadores, têm treinamento e sabiam o que estavam fazendo. Além do capuz, eles usavam coletes à prova de balas."
Outro coordenador do movimento, Arlei Escher, disse que os
invasores gritavam que eram policiais e que ninguém deveria reagir.
Neves e Escher acreditam que a
ação foi conjunta dos fazendeiros
com policiais, fato negado pela
UDR e a Secretaria da Segurança.
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista) na região noroeste do Paraná, Marcos Prochet,
38, disse que os ruralistas se responsabilizam pela ação.
"Os proprietários se cansaram
de esperar. Foi uma forma de desabafo", afirmou Prochet.
José Carlos Mascarello, 33, um
dos donos da fazenda Saudade,
afirmou que não houve violência
na ação de ontem.
Ele disse que a desocupação foi
pacífica, que ninguém estava encapuzado nem armado, e que o fogo foi provocado acidentalmente
por fogões à lenha que estavam
acesos no acampamento.
A fazenda Saudade foi vistoriada
em 1995 pelo Incra e considerada
improdutiva.
Por meio de uma liminar, os donos conseguiram no ano passado a
reintegração de posse da propriedade, que tem 1.020 hectares.
Em entrevista a uma rádio de
Curitiba, o secretário da Segurança do Paraná, Cândido Martins de
Oliveira, condenou a ação "paralela" dos ruralistas da região de
Santa Izabel do Ivaí (574 km de
Curitiba) e disse que a PM não participou dela. Segundo o secretário,
"por trás de atos como esse existe
uma maldosa intenção política".
Colaborou FLÁVIO ARANTES, da Agência Folha,
em Curitiba
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