São Paulo, quarta, 17 de setembro de 1997.



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QUESTÃO AGRÁRIA
Grupo de proprietários entra em fazenda e expulsa 40 famílias que haviam invadido terra há dois anos
Ruralistas tiram sem-terra de área no PR

FERNANDO MENDONÇA
da Agência Folha, em Curitiba


Cerca de 80 fazendeiros entraram na madrugada de ontem na fazenda Saudade, em Santa Izabel do Ivaí, noroeste do Estado, para expulsar cerca de 40 famílias de trabalhadores rurais sem terra que estavam acampadas no local havia dois anos.
As barracas pegaram fogo durante a ação. Segundo o MST, foram os fazendeiros que atearam fogo em todo o acampamento. A UDR nega. Não houve feridos.
As famílias saíram da fazenda e estão alojadas no salão paroquial da igreja de Santa Izabel do Ivaí.
A ação contra os invasores aconteceu pela manhã. Segundo um dos coordenadores regionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Antônio das Neves, 34, os ruralistas entraram na fazenda encapuzados, atirando para o alto, xingando e ordenando para que todos deixassem o acampamento.
"Pela forma como agiram, eles não são amadores, têm treinamento e sabiam o que estavam fazendo. Além do capuz, eles usavam coletes à prova de balas."
Outro coordenador do movimento, Arlei Escher, disse que os invasores gritavam que eram policiais e que ninguém deveria reagir.
Neves e Escher acreditam que a ação foi conjunta dos fazendeiros com policiais, fato negado pela UDR e a Secretaria da Segurança.
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista) na região noroeste do Paraná, Marcos Prochet, 38, disse que os ruralistas se responsabilizam pela ação.
"Os proprietários se cansaram de esperar. Foi uma forma de desabafo", afirmou Prochet.
José Carlos Mascarello, 33, um dos donos da fazenda Saudade, afirmou que não houve violência na ação de ontem.
Ele disse que a desocupação foi pacífica, que ninguém estava encapuzado nem armado, e que o fogo foi provocado acidentalmente por fogões à lenha que estavam acesos no acampamento.
A fazenda Saudade foi vistoriada em 1995 pelo Incra e considerada improdutiva.
Por meio de uma liminar, os donos conseguiram no ano passado a reintegração de posse da propriedade, que tem 1.020 hectares.
Em entrevista a uma rádio de Curitiba, o secretário da Segurança do Paraná, Cândido Martins de Oliveira, condenou a ação "paralela" dos ruralistas da região de Santa Izabel do Ivaí (574 km de Curitiba) e disse que a PM não participou dela. Segundo o secretário, "por trás de atos como esse existe uma maldosa intenção política".


Colaborou FLÁVIO ARANTES, da Agência Folha, em Curitiba


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