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QUESTÃO INDÍGENA
Ministério Público Federal anuncia que abrirá ação judicial contra portaria do ministro da Justiça
Acordo para redução de reserva é anulado
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os três procuradores titulares
da 6ª Câmara de Coordenação e
Revisão da Procuradoria Geral da
República, em Brasília, decidiram
ontem anular o acordo assinado
entre fazendeiros e índios do sul
do Pará, usado pelo ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
para baixar portaria que reduziu
em 17,2% a Terra Indígena Baú,
originalmente com 1,85 milhão de
hectares, em Altamira (PA).
A câmara, que trata de comunidades indígenas e minorias étnicas, considerou o acordo inconstitucional. Ontem também ficou
decidido que dois procuradores
do Distrito Federal vão entrar
com ação judicial para tentar anular a portaria do ministro.
A notícia da decisão de Bastos
-vista pelos procuradores como
um "precedente perigoso", que
pode dar margem ao agravamento de conflitos em diversas áreas
no país- provocou reação imediata do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, que
manteve reunião em Brasília com
o procurador no Pará Nilo Marcelo de Almeida Camargo.
Camargo havia afiançado o
acordo assinado entre fazendeiros, índios, Prefeitura de Novo
Progresso e Funai (Fundação Nacional do Índio), pelo qual os produtores pagariam R$ 120 mil
anuais, ao longo de dez anos, à
prefeitura, que prometeu repassar o dinheiro aos índios na forma
de "benfeitorias". O procurador,
que está há três meses na função,
foi chamado para que explicasse a
Fonteles e aos integrantes da 6ª
Câmara as razões pelas quais aceitou intermediar e fechar o acordo.
"A decisão [ministerial] é muito
grave. Ele [governo] disse que é
um caso específico, mas é lógico
que poderá haver repercussão em
outras áreas", disse a coordenadora da 6ª Câmara, Ela Wiecko.
"Nós não podemos admitir isso
[o acordo]. É incompatível com a
proteção dada às terras indígenas
pela Constituição", afirmou.
A procuradora da 6ª Câmara
Deborah Duprat também vê "risco enorme de [o caso de Baú] servir de exemplo" para outras situações de conflito. "A questão dos limites das terras indígenas é definida antropologicamente, não
por critérios de conveniência ou
oportunidade", disse Duprat.
Camargo foi procurado pela Folha para comentar o assunto, mas
não foi localizado ontem e anteontem. A reportagem apurou
que ele argumentou, na reunião
em Brasília, que a situação na área
Baú era de conflito iminente entre
fazendeiros e índios, e alguma decisão precisava ser tomada. Ele teria dito ainda que era sua obrigação "dar uma resposta" aos pedidos das partes.
A presidência da Funai divulgou ontem uma nota pela qual
afirma que a decisão de Bastos
"contribui para consolidar a área
de 14 milhões de hectares do território caiapó", colocando na conta
todas as áreas caiapós ou de subgrupos caiapós do Pará e de Mato
Grosso, demarcadas ao longo de
mais de 30 anos.
Segundo a Funai, o acordo assinado na área Baú tinha "como objetivos principais o estabelecimento da fronteira do território e
a proteção do rio Curuá".
O rio Curuá já fazia parte da
área indígena descrita na portaria
original, do ministro Renan Calheiros, publicada em 1998, e na
portaria de 1991, do ministro Jarbas Passarinho, que reconheceu
Baú como território indígena.
A assessoria de imprensa do ministro Bastos informou que ontem ele estava na Argentina e não
poderia ser localizado para comentar a decisão dos procuradores federais.
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