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JUSTIÇA
Celso de Mello afirma que projeto de lei aprovado na Câmara na última semana é inconstitucional
Ministro do STF critica "Lei da Mordaça"
da Sucursal de Brasília
O ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Celso de Mello
afirmou ontem que é inconstitucional o projeto de lei que proíbe
juízes, membros do Ministério
Público e delegados de polícia de
dar informações sobre casos em
investigação.
O projeto, apelidado de "Lei da
Mordaça", foi aprovado pela Câmara dos Deputados e depende
da aprovação do Senado, que já
sinalizou que deverá modificá-lo.
"Constitui estranho paradoxo
impor-se, na vigência de um regime que reclama transparência, a
regra do silêncio obsequioso,
transformando perigosamente
em regra o que deveria revestir-se
de excepcionalidade absoluta",
disse o ministro.
Inconstitucional
Ele considerou que a iniciativa é
inconstitucional por causa do
princípio da publicidade, pelo
qual qualquer cidadão tem direito
a obter das autoridades públicas
informações de interesse pessoal
ou geral (artigo 5º, inciso 33, da
Constituição).
"A publicidade representa uma
norma básica das relações entre o
Estado, seus agentes e a coletividade a que servem."
Segundo ele, esse princípio é
"verdadeira pedra angular sobre a
qual se edifica o Estado Democrático de Direito, pois a exigência de
transparência na prática governamental qualifica-se como prerrogativa inalienável que assiste a todos os cidadãos".
Mello disse que "o cidadão tem
o direito subjetivo de ser informado sobre os fatos que afetam a vida política, econômica, jurídica,
social, cultural, administrativa e
institucional do Estado".
O ministro afirmou que os
agentes públicos deverão ser responsabilizados por eventuais declarações que lesem gravemente o
patrimônio moral de pessoas.
"O que não tem sentido, contudo, é estabelecer-se a inaceitável
presunção de que magistrados,
membros do Ministério Público,
policiais e outros agentes públicos
são levianos e irresponsáveis",
disse o ministro.
Mello considerou que a nova
ordem constitucional instaurada
no Brasil consagrou um modelo
político-jurídico "que não tolera o
poder que oculta nem admite o
poder que se oculta". Disse que
essa é uma certeza "irrecusável" e
que tem reproduzido essa afirmação em decisões no Supremo Tribunal Federal.
Anteontem, a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores
da República) protestou contra a
possibilidade de aprovação da
"Lei da Mordaça".
A entidade afirmou que irá propor ação contra a lei ao Supremo
se o projeto for aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
(SILVANA DE FREITAS)
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