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Esconder a verdade é erro, diz Dirceu
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Coordenador da recém-criada
Comissão de Averiguação e Análise de Informações do governo,
José Dirceu (Casa Civil) disse ontem que há "setores inconformados" com a abertura dos arquivos
oficiais e afirmou que é um "erro
grave não contar toda a verdade
para o país imediatamente".
"Eu, particularmente, tenho dito ao presidente e àqueles que são
responsáveis no país por essa
questão que é um erro grave não
contar toda a verdade para o país
imediatamente", disse, em entrevista, no Planalto, durante balanço de dois anos do governo.
Em seguida, justificou: "Por
quê? Porque a cada semana, a cada mês, a cada semestre, vamos
ter fatos novos que só fazem mal
ao país. O melhor para o país é toda a verdade ser dita e contada.
Não temos nada para esconder".
Dirceu considerou um "problema" o fato de documentos oficiais
estarem em poder de militares da
reserva e de ex-integrantes do governo federal. "É evidente que
muitos desses documentos estão
em posse de oficiais da reserva,
ex-ministros. E existem também
setores inconformados que criam
incidentes e procuram tumultuar
o ambiente democrático do país."
Sobre quem seriam os tais "inconformados", declarou: "Aqueles que não se conformam com a
redemocratização, com a Anistia
[de 1979], que muitas vezes insistem em voltar ao passado".
Nesta semana, o caso dos arquivos voltou à tona depois que reportagem da TV Globo mostrou
documentos da Aeronáutica parcialmente queimados dentro da
Base Aérea de Salvador, na Bahia.
Segundo avaliação interna no
comando da Aeronáutica, os papéis, produzidos a partir da ditadura militar (1964-1985), podem
ter sido colocados no local por
militares da reserva que resistem
à abertura dos arquivos.
"O governo tem uma posição
clara: a verdade sobre os mortos e
desaparecidos tem de ser dita ao
país. O país não pode conviver
com a ocultação de tudo o que
aconteceu", disse o ministro.
Segundo Dirceu, somente documentos "muito específicos" serão mantidos sob sigilo eterno.
"Serão pouquíssimos documentos, documentos muito restritos,
muito específicos com relação à
política externa do país." Os papéis da Guerra do Paraguai (1864-1870), por exemplo, seguirão vetados pelo governo, segundo noticiou a Folha ontem.
Dirceu, que viveu exilado e com
identidade falsa na ditadura, disse
que tem "dívida histórica". "Não
podemos transigir quando se diz
respeito à justiça e à verdade histórica e, principalmente no meu
caso, que tenho uma dívida histórica com companheiros e companheiras que morreram lutando
pela liberdade do país."
(EDUARDO SCOLESE e JULIA DUAILIBI)
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