São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

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Esconder a verdade é erro, diz Dirceu

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Coordenador da recém-criada Comissão de Averiguação e Análise de Informações do governo, José Dirceu (Casa Civil) disse ontem que há "setores inconformados" com a abertura dos arquivos oficiais e afirmou que é um "erro grave não contar toda a verdade para o país imediatamente".
"Eu, particularmente, tenho dito ao presidente e àqueles que são responsáveis no país por essa questão que é um erro grave não contar toda a verdade para o país imediatamente", disse, em entrevista, no Planalto, durante balanço de dois anos do governo.
Em seguida, justificou: "Por quê? Porque a cada semana, a cada mês, a cada semestre, vamos ter fatos novos que só fazem mal ao país. O melhor para o país é toda a verdade ser dita e contada. Não temos nada para esconder".
Dirceu considerou um "problema" o fato de documentos oficiais estarem em poder de militares da reserva e de ex-integrantes do governo federal. "É evidente que muitos desses documentos estão em posse de oficiais da reserva, ex-ministros. E existem também setores inconformados que criam incidentes e procuram tumultuar o ambiente democrático do país."
Sobre quem seriam os tais "inconformados", declarou: "Aqueles que não se conformam com a redemocratização, com a Anistia [de 1979], que muitas vezes insistem em voltar ao passado".
Nesta semana, o caso dos arquivos voltou à tona depois que reportagem da TV Globo mostrou documentos da Aeronáutica parcialmente queimados dentro da Base Aérea de Salvador, na Bahia.
Segundo avaliação interna no comando da Aeronáutica, os papéis, produzidos a partir da ditadura militar (1964-1985), podem ter sido colocados no local por militares da reserva que resistem à abertura dos arquivos.
"O governo tem uma posição clara: a verdade sobre os mortos e desaparecidos tem de ser dita ao país. O país não pode conviver com a ocultação de tudo o que aconteceu", disse o ministro.
Segundo Dirceu, somente documentos "muito específicos" serão mantidos sob sigilo eterno. "Serão pouquíssimos documentos, documentos muito restritos, muito específicos com relação à política externa do país." Os papéis da Guerra do Paraguai (1864-1870), por exemplo, seguirão vetados pelo governo, segundo noticiou a Folha ontem.
Dirceu, que viveu exilado e com identidade falsa na ditadura, disse que tem "dívida histórica". "Não podemos transigir quando se diz respeito à justiça e à verdade histórica e, principalmente no meu caso, que tenho uma dívida histórica com companheiros e companheiras que morreram lutando pela liberdade do país." (EDUARDO SCOLESE e JULIA DUAILIBI)


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