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Barueri tem duas realidades opostas que não convivem
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O alto índice de riqueza e a crescente oferta de trabalho em Barueri, a 32 km de São Paulo, estão
longe da realidade de pelo menos
16 mil moradores da cidade que
estão desempregados.
O município, com uma arrecadação "per capita" de R$ 1.738,80,
vive hoje uma situação contraditória: "Há muita oferta de trabalho, mas falta qualificação profissional aos moradores de Barueri",
diz o diretor de Planejamento da
Secretaria da Indústria e Comércio, José Macedo de Oliveira. Segundo ele, 65% da mão-de-obra é
"importada" de outras cidades.
A contradição econômica reflete-se na estrutura da cidade: dos
208.028 moradores, 10 mil (4,8%)
moram em condomínios.
Para a arquiteta e urbanista Nádia Somekh, esse é um fator grave
da desigualdade. "O condomínio
é a destruição da cidadania, é a
anticidade. Quanto mais muros,
menos perspectivas tem um cidadão, que só encontra muros à sua
frente, sentindo-se mais excluído
e reagindo mais violentamente."
Na realidade dos condomínios
há pouco espaço para os moradores de Barueri. O complexo comercial de Alphaville -mais antigo e conhecido condomínio da
região-, com empresas, escritórios, restaurantes, lojas e bancos,
emprega cerca de 75 mil pessoas.
Desse total, menos de 15% dos
postos são ocupados por pessoas
que nasceram em Barueri.
"Em Alphaville, há muitas
oportunidades de trabalho. Mas,
com a baixa qualificação profissional, os moradores ficam restritos às funções de baixa remuneração. São jardineiros, zeladores ou
fazem pequenos serviços nas casas", diz Leonardo Rodrigues da
Cunha, gerente-geral da Sociedade Alphaville Centro Industrial e
Empresarial.
Uma das principais diferenças é
a segurança. Alphaville tem um
vigilante para cerca de 24 pessoas
-nesse cálculo estão incluídos os
70 guardas civis cedidos pela prefeitura. Já na cidade, um guarda
municipal é responsável pela segurança de 421 habitantes.
Além disso, a região de Alphaville tem um sistema de circuito fechado de TV, que acompanha a
movimentação durante 24 horas.
"Temos cerca de cinco furtos de
carros por mês. Se fosse proporcional a São Paulo, teríamos de 80
a 90 furtos", afirma Cunha.
Diferenças
Os moradores de Alphaville têm
pouco contato com a rotina de
Barueri. Com escolas particulares,
centros comerciais e locais de lazer ao redor do condomínio, não
há motivos para deixar a proteção
dos condomínios fechados.
O engenheiro Angel Bermudez
Ten e a mulher, Olga, moram há
13 anos em Alphaville e sentem-se
mais próximos a São Paulo. "Vamos muito pouco ao centro de
Barueri. Temos tudo aqui perto e,
quando saímos à noite, preferimos São Paulo", diz Olga.
Angel, que dirige todos os dias
40 minutos para chegar ao escritório, em Franco da Rocha, afirma que compensa viver no condomínio. "Aqui temos uma qualidade de vida muito boa."
Os três filhos do casal estudam
ou estudaram em colégio particular, falam quatro idiomas (português, espanhol, inglês e alemão) e
viajam para o exterior todo ano.
Outra realidade
Do lado de fora dos muros, a vida do casal Maria da Rosa de Jesus
e José Ferreira da Silva é bem diferente. Eles moram em uma casa
pequena, estão desempregados e
são analfabetos. A neta Dilma dos
Santos, 26, que convive com o casal, também está desempregada e
não concluiu os estudos. "Espero
que as minhas duas filhas (de 7 e
de 9 anos) tenham mais sorte."
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