São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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Barueri tem duas realidades opostas que não convivem

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O alto índice de riqueza e a crescente oferta de trabalho em Barueri, a 32 km de São Paulo, estão longe da realidade de pelo menos 16 mil moradores da cidade que estão desempregados.
O município, com uma arrecadação "per capita" de R$ 1.738,80, vive hoje uma situação contraditória: "Há muita oferta de trabalho, mas falta qualificação profissional aos moradores de Barueri", diz o diretor de Planejamento da Secretaria da Indústria e Comércio, José Macedo de Oliveira. Segundo ele, 65% da mão-de-obra é "importada" de outras cidades.
A contradição econômica reflete-se na estrutura da cidade: dos 208.028 moradores, 10 mil (4,8%) moram em condomínios.
Para a arquiteta e urbanista Nádia Somekh, esse é um fator grave da desigualdade. "O condomínio é a destruição da cidadania, é a anticidade. Quanto mais muros, menos perspectivas tem um cidadão, que só encontra muros à sua frente, sentindo-se mais excluído e reagindo mais violentamente."
Na realidade dos condomínios há pouco espaço para os moradores de Barueri. O complexo comercial de Alphaville -mais antigo e conhecido condomínio da região-, com empresas, escritórios, restaurantes, lojas e bancos, emprega cerca de 75 mil pessoas.
Desse total, menos de 15% dos postos são ocupados por pessoas que nasceram em Barueri.
"Em Alphaville, há muitas oportunidades de trabalho. Mas, com a baixa qualificação profissional, os moradores ficam restritos às funções de baixa remuneração. São jardineiros, zeladores ou fazem pequenos serviços nas casas", diz Leonardo Rodrigues da Cunha, gerente-geral da Sociedade Alphaville Centro Industrial e Empresarial.
Uma das principais diferenças é a segurança. Alphaville tem um vigilante para cerca de 24 pessoas -nesse cálculo estão incluídos os 70 guardas civis cedidos pela prefeitura. Já na cidade, um guarda municipal é responsável pela segurança de 421 habitantes.
Além disso, a região de Alphaville tem um sistema de circuito fechado de TV, que acompanha a movimentação durante 24 horas.
"Temos cerca de cinco furtos de carros por mês. Se fosse proporcional a São Paulo, teríamos de 80 a 90 furtos", afirma Cunha.

Diferenças
Os moradores de Alphaville têm pouco contato com a rotina de Barueri. Com escolas particulares, centros comerciais e locais de lazer ao redor do condomínio, não há motivos para deixar a proteção dos condomínios fechados.
O engenheiro Angel Bermudez Ten e a mulher, Olga, moram há 13 anos em Alphaville e sentem-se mais próximos a São Paulo. "Vamos muito pouco ao centro de Barueri. Temos tudo aqui perto e, quando saímos à noite, preferimos São Paulo", diz Olga.
Angel, que dirige todos os dias 40 minutos para chegar ao escritório, em Franco da Rocha, afirma que compensa viver no condomínio. "Aqui temos uma qualidade de vida muito boa."
Os três filhos do casal estudam ou estudaram em colégio particular, falam quatro idiomas (português, espanhol, inglês e alemão) e viajam para o exterior todo ano.

Outra realidade
Do lado de fora dos muros, a vida do casal Maria da Rosa de Jesus e José Ferreira da Silva é bem diferente. Eles moram em uma casa pequena, estão desempregados e são analfabetos. A neta Dilma dos Santos, 26, que convive com o casal, também está desempregada e não concluiu os estudos. "Espero que as minhas duas filhas (de 7 e de 9 anos) tenham mais sorte."


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