São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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Sociedade civil participa de mudança

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MIRANTE DO PARANAPANEMA

Historicamente um dos municípios mais pobres de São Paulo, Mirante do Paranapanema está conseguindo dar a volta por cima na área de educação. Ações da comunidade, do Ministério Público, ou encabeçadas por organizações como o MST e uma ONG, são apontadas como co-responsáveis por essa transformação.
No estudo do Seade, o município aparecia em 1991 com 55 pontos no quesito escolaridade. Cinco anos depois, esse número subiu para 68 pontos.
No item riqueza, a qualidade de vida de seus moradores saltou de 23 pontos para 28 em cinco anos, a partir de 1992. Embora tenham subido, os números estão longe de padrões desejáveis de riqueza.
A Direção Regional de Ensino, ligada à Secretaria da Educação do Estado, atesta os dados do levantamento sobre escolaridade do Seade. A evasão escolar no ensino fundamental, que em 1994 era de 12,5%, caiu gradativamente até chegar a 2% no ano passado. O índice de aprovação de alunos, no mesmo período, saltou de 76% para 97%. No ensino médio, o resultado foi ainda melhor.
Os índices apresentam evolução significativa a partir de 1997, ano em que o governo estadual realizou o maior número de assentamento de sem-terra no extremo oeste do Estado. De 85 assentamentos implantados no Pontal do Paranapanema, 26 estão em Mirante (640 km de São Paulo), que tem 16.209 habitantes. Cerca de 1.200 famílias são ex-sem-terra.

Sem-terra
A ação do MST levou à construção de duas escolas na zona rural. Uma delas, conhecida como "Pé de Galinha", serve a 800 alunos de 15 assentamentos. Cada um tem um representante do movimento para acompanhar passo a passo erros e acertos da escola.
"Se falta transporte escolar, no dia seguinte eles estão na prefeitura cobrando. Não deixam passar nada", disse o dirigente de ensino do município, Sebastião Canevari. No ano passado, mais de cem alunos, que se auto-intitulam "sem-terrinha", invadiram o fórum da cidade para cobrar ação do Ministério Público. O índice de evasão no "Pé de Galinha" foi de 3,4% em 2000.
Mais que transporte e aulas, o MST luta por transformações políticas na educação que se chocam com a política oficial do governo. Eles querem, por exemplo, mudar o nome da escola para Che Guevara. Discutem para adotar o método Paulo Freire nas aulas. E reivindicam a adoção de professores do próprio assentamento.
"Para nós, educação não é só estar na escola. É conhecer seus direitos, sua história, é ter cidadania", disse José Rainha Júnior, principal líder do MST na região.
Com uma ação menos política, o Centro de Formação e Promoção Humana, uma ONG (organização não-governamental) ligada à Igreja Católica, faz diariamente a extensão do trabalho da escola ao abrigar cerca de cem alunos cujos pais trabalham. A maioria é da cidade. Eles têm atividade esportiva e cultural, aulas de computação e reforço escolar.


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