São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Hamilton Francisco de Assis Guedes foi diretor do Banpará quando senador foi governador do Estado

Amigo de Jader teria atuado em desvios

Paulo Amorim/Agência Folha
Hamilton Guedes, que foi diretor de Finanças do Banpará, quando Jader governou o Estado


WLADIMIR GRAMACHO
ENVIADO ESPECIAL A BELÉM

Dois ex-dirigentes e um ex-funcionário do Banpará apontam um amigo pessoal do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), como o mentor das operações que teriam desviado US$10 milhões do banco estadual para contas do peemedebista e de pessoas ligadas a ele.
Trata-se de Hamilton Francisco de Assis Guedes, um funcionário do Banco Central que foi alçado à diretoria de finanças do Banpará, em 1983, quando Jader assumiu o governo. Guedes até hoje mantém relações muito próximas ao presidente do Senado.
"Todas as aplicações financeiras eram de responsabilidade da diretoria de Hamilton Guedes, que sempre foi conhecido como um amigo pessoal do governador Jader Barbalho", lembra o ex-presidente do Banpará Nelson Ribeiro.
O ex-dirigente do banco deixou o cargo em 1986 para assumir o Ministério da Reforma Agrária no governo Sarney.
"Esses assuntos não passavam pela minha mão. Eram da competência da diretoria de finanças", diz o ex-diretor de Desenvolvimento do Banpará Victor Hugo da Cunha.

Juízo
Um dos subordinados de Hamilton Guedes no banco reforça as pistas.
"A ordem vinha da diretoria de finanças e eu tinha que cumprir. Eles é que deveriam saber que o negócio era errado", esquiva-se Marcílio Figueiredo, gerente da agência central do Banpará e signatário de diversos cheques administrativos usados para o desvio de recursos.
"Manda quem pode, obedece quem tem juízo", repete o ex-funcionário, assustado com o ressurgimento de um caso que julgava enterrado.
A partir de postos diferentes no banco, os três viram-se envolvidos num dos maiores desvios já investigados pelo Banco Central em instituições estaduais.
Três relatórios de fiscalização do Banco Central revelam que o Banpará foi usado na década de 80 para beneficiar empresas ligadas ao governo de Jader Barbalho e irrigar contas bancárias dele e de sua família.
Dois desses documentos já são conhecidos. O mais recente deles, concluído pelo inspetor Abrahão Patruni Júnior em 1990, tem uma cópia guardada pessoalmente pelo procurador-chefe do BC, José Coelho Ferreira.
É esse documento, segundo Patruni Júnior, que revela o caminho do dinheiro desviado das aplicações financeiras do Banpará e seus principais beneficiários. Um desfalque que chegaria a US$ 10 milhões.
O escândalo, que hibernou por mais de dez anos, vem desgastando Jader Barbalho desde que ele assumiu a presidência do Senado, há um mês, e tem incomodado a cúpula do PMDB, insatisfeita com as explicações dadas até aqui pelo senador. O que ainda não se sabia é que o presidente do Senado tem em seu círculo de amigos o pivô dos desvios no Banpará.

Colegial
Hamilton Guedes é amigo de Jader Barbalho desde os tempos do colegial, quando os dois estudaram juntos no Colégio Paes de Carvalho, ainda na década de 60.
Mantiveram-se distantes, profissionalmente, até os anos 80.
Enquanto Jader galgava postos e mandatos na política, Guedes progredia na carreira de inspetor do BC, em Belém.
Conseguiu o posto por influência de sua ex-mulher, Maria Leonor Conduru, que é filha do primeiro delegado do BC na capital paraense, Teófilo Pacheco Conduru. Em 1983, com a ascensão de Jader ao Palácio dos Despachos, Guedes recebeu o convite para comandar a diretoria de finanças do Banpará. Foi recebido pelos demais diretores como "o homem do governador" no banco.
Ele não explicitava suas relações com Jader e ninguém tampouco lhe perguntava nada. Agia com liberdade total em sua área.
A gestão no Banpará rendeu a Hamilton Guedes muitos processos, punições e dissabores.
Mas depois disso, ele contou com o apoio amigo de Jader, que o lançou candidato à Assembléia Legislativa em 1986.
Eleito, o ex-diretor foi deputado estadual de 1987 a 1990.
Depois, virou assessor especial do governador Jader Barbalho, já em seu segundo mandato, de 1991 a 1994. E, desde então, é advogado do diretório PMDB no Pará, que também tem Jader como presidente.
O advogado e ex-assessor do presidente do Senado é personagem conhecido há anos pela fiscalização do Banco Central.

Inabilitado
Ainda nos anos 80, Hamilton Guedes foi inabilitado pelo BC para atuar no sistema financeiro por dez anos.
Recorreu e em maio de 1995 o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional confirmou a punição.
Por causa disso, foi demitido por justa causa pelo BC, depois que os fiscais da autarquia provaram seu envolvimento com operações irregulares no Banpará. Apelou à Justiça e, novamente, não lhe deram razão.
Seu pedido para ser reintegrado aos quadros do BC aguarda um novo julgamento no Tribunal Regional Federal de Brasília.
Procurado pela Folha, o ex-diretor não quis falar sobre os casos que o envolvem.
"Não tenho nenhum interesse em tratar desse assunto. Nenhum, nenhum, nenhum", afirmou.
Guedes diz que só trata disso na Justiça. O que vem fazendo já há alguns anos.
O Ministério Público Federal tem duas ações contra ele e outros dirigentes do Banpará por má conduta bancária e pela concessão de empréstimos de alto risco, que depois viraram prejuízo na contabilidade do banco.
Na 5a. Vara Federal, em Belém, correm os processos 93.00.03332-8 e 95.00.02367-9.
Guedes também é réu em outra ação, na qual a Fazenda Nacional já conseguiu penhorar alguns de seus bens para reaver tributos não quitados.



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