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JANIO DE FREITAS
Os destruidores em ação
Seja qual for a natureza do interesse que comprometeu Francisco Lopes, quando presidente
do Banco Central, com a "ajuda" governamental ao banqueiro Salvatore Cacciola, o
que se comprova nesse episódio
vai muito além de um escândalo circunscrito. É a entrega da
economia e das finanças do
país à prepotência suspeita de
uma turma de economistas-tecnocratas, para os quais não há
limitações éticas nem legais.
São os sucedâneos dos coronéis
e generais da linha-dura nos
tempos ditatoriais.
O comportamento de Francisco Lopes no Banco Central vem
a ser outra amostra da liberdade de manipulação do processo
privatizador, como no caso
grampeado das telefônicas, ou
de esbanjamento de fabulosos
R$ 21 bilhões na suposta prevenção de crise bancária, sem
qualquer regra estabelecida para isso, senão apenas pela vontade ou interesse de um grupinho sempre avesso às discussões
públicas. E ao próprio público,
no sentido de povo.
Mesmo no episódio dos dólares baratinhos que foram do
Banco Central para as contas
externas do dono do Banco
Marka, foi uma parte da turma
de economistas-tecnocratas
que decidiu contra os cofres públicos. Francisco Lopes coordenou-se com Salvatore Cacciola,
advertiu-o para amansar a divergência de Cláudio Mauch,
também diretor do Banco Central. Mas foi a turminha da direção do BC que combinou entre si e mandou vender a Cacciola dólares do Banco Central
a preços mais baixos que os do
mercado.
O poder concedido a esses economistas-tecnocratas, desprovidos de ética e de sujeição à lei,
é a essência do tipo de governo
iniciado com Fernando Henrique Cardoso. Nele, o presidente
se incumbe das encenações do
protocolo, da política e da propaganda, mas as decisões já lhe
chegam prontas, ditadas pelos
economistas-tecnocratas. É isso
que explica a exótica inexistência de despachos administrativos de rotina, entre o presidente
e cada ministro. De tempos em
tempos, fazem uma grande reunião ministerial, que nada tem
a ver com governar, é só para
efeitos publicitários.
Nesse tipo de governo sem
presidente-governante, são
apenas lógicos os espetáculos
do presidente-publicitário louvando, hoje, o que ontem assegurava ser um ato impatriótico
que seu governo jamais cometeria. Por exemplo, a desvalorização do real, como lembrou nesta semana um agudo editorial
da Folha. Mas se explica: o presidente-propagandista diz o
que os economistas-tecnocratas
estabelecem; logo, se há mudança nesse grupinho, muda o
que deve ser dito. E ao propagandista só cabe propagandeá-lo.
Felizes os que não privaram,
nem um pouco, com essa espécie proliferante que é o economista-tecnocrata. Um ser inculto e, portanto, suficiente; ambicioso como só um certo sociólogo alcança ser; fascinado pela
riqueza alheia e pela caça indiscriminada à própria. Prepotente como requer a ignorância
bem situada -que o digam os
seus predecessores fardados da
ditadura-, odeia a reflexão,
apegado a umas poucas fórmulas que supõe científicas. Felizes
os que não privaram com essa
espécie, porque assim não sabem quem e como está destruindo o Brasil, um país agora
quebrado.
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