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SISTEMA FINANCEIRO
Presidente fala em "volta do arbítrio", mas não contesta legalidade da operação realizada pela PF
FHC critica "invasão" da casa de Lopes
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Lisboa
O presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou ontem da opinião pública que "repudie a volta
do arbítrio no Brasil", ao se referir
ao que o governo chama de "invasão" da casa do ex-presidente do
Banco Central, Francisco Lopes.
A "invasão" foi feita anteontem
pela Polícia Federal, com base em
requerimento do Ministério Público, para procurar documentos relativos às operações entre o BC e os
bancos Marka e FonteCindam.
O presidente não contestou o aspecto legal da operação mas disse
que "o arbítrio, às vezes, existe por
parte daqueles que devem coibi-lo.
Me parece que estamos em um
desses casos".
FHC chegou a fazer uma comparação sinuosa entre a ação policial
de sexta-feira e o regime militar do
período 1964/1985:
"Lutei muito contra o regime militar, fui vítima dele. Acho que é
preciso respeitar o estado de direito e acho grave que, no estado de
direito, aqueles que são os detentores do poder legal para decisões
dessa natureza não reflitam mais
ao tomar decisões desse tipo, porque realmente não existe um motivo, pelo menos que tenha sido trazido ao conhecimento púbico, para esse tipo de ação".
Em seguida, engatou: "Como democrata que sou, respeito a lei,
mas acho que quem tem o poder
executivo máximo, como tenho,
deve procurar contê-lo nos limites
não só da lei, mas do bom senso.
Não creio que tenha havido bom
senso".
A catilinária contra a operação
foi além, ao dizer que estava falando em termos de "defesa da democracia, dos direitos individuais, até
dos direitos humanos". Considerou o episódio uma "exploração
escandalosa" em torno de "um
problema que pode ser real ou não.
Nem isso se sabe. Não há nada que
justifique o que aconteceu".
Mas FHC disse acreditar que as
investigações sobre a ajuda aos
bancos não se imporão permanentemente na agenda política: "Creio
que passado esse momento que
pode, evidentemente, inflamar
certos corações e mentes, se voltará a uma situação de equilíbrio".
Tratou também de desvincular a
operação na casa de Francisco Lopes dos trabalhos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos
Bancos, ao lembrar que fora uma
ação determinada pelo Ministério
Público, e não pela CPI.
"Não tem nada a ver com a CPI",
reforçou FHC, em entrevista coletiva concedida no Centro Cultural
de Belém, em Lisboa, ao lado do
primeiro-ministro português António Guterres.
Constrangimento
Como as perguntas dos jornalistas brasileiros ficaram, quase todas, centradas no episódio, criou-se natural constrangimento para
Guterres, que resolveu tomar a iniciativa de fazer elogios à economia
brasileira e ao governo.
Mas era evidente o ambiente tenso na comitiva brasileira que está
em Lisboa. O próprio presidente
informou que falara pelo telefone
com os ministros Pedro Malan
(Fazenda) e Renan Calheiros (Justiça) para se manter informado.
Também o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, articulador político do governo, estava informado e igualmente constrangido. Tanto que considerou
"um constrangimento desnecessário" a operação executada pela PF.
Pimenta da Veiga disse que "há
uma competição de vários setores
pelas luzes da CPI". Depois, especificou que setores: a própria Polícia Federal e o Ministério Público.
Pedreiro
Diante de um documento datado
de 1571, FHC fez uma brincadeira
ao tentar explicar o significado da
palavra pedreiro no período. "Os
pedreiros naquela época eram como os nossos empreiteiros de hoje,
mas roubavam menos", disse ele,
diante do primeiro-ministro português António Guterres.
FHC visitou na tarde de ontem a
exposição "O Brasil na Torre do
Tombo - Séculos 15 a 19". O prédio
é a sede do mais importante arquivo da história portuguesa.
Colaborou
Haroldo Ceravolo Sereza, enviado
especial a Lisboa
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