São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


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IMPEACHMENT
Em uma das anotações, prefeito teria relacionado 8 vereadores
Nicéa exibe agenda de Pitta com supostas propinas

Evelson de Freitas/Folha Imagem
A ex-primeira-dama Nicéia Pitta chora durante seu depoimento à comissão processante na Câmara Municipal de São Paulo


JOÃO CARLOS SILVA
JULIA DUAILIBI


DA REPORTAGEM LOCAL

Desafiada a apresentar provas das denúncias que faz contra seu ex-marido, Nicéa Pitta entregou ontem à comissão que analisa pedido de impeachment de Celso Pitta (PTN) uma agenda com anotações do prefeito que supostamente provariam a existência de um esquema de pagamento de propina a vereadores.
"Infelizmente tenho essas provas. Infelizmente porque é doloroso (ter as provas)", disse a ex-primeira-dama ao passar a um assessor da comissão uma agenda de capa preta de 97, supostamente do prefeito paulistano.
Em uma das anotações da agenda, o prefeito teria relacionado o nome de oito vereadores que tinham cargo na Câmara na época -todos da base que dava sustentação ao prefeito no Legislativo.
Na agenda, aparecem números que, segundo Nicéa, correspondem à propina que eles teriam recebido. Os valores supostamente vão de R$ 60 mil a R$ 130 mil.
Os nomes que aparecem na agenda são dos vereadores Antônio Goulart (PMDB), Mário Dias (PPB) e de Armando Mellão (PMDB), presidente da Câmara, e Brasil Vita (PPB), que continuam na Câmara.
Também aparecem na agenda os ex-vereadores Nelo Rodolfo (PMDB), José Índio (PMDB), Maeli Vergniano e Hanna Garib.
Rodolfo e Índio são atualmente deputados federais, mas, no Legislativo paulistano, integravam a base governista de Pitta.
Maeli foi cassada na Câmara no ano passado. Garib também perdeu o cargo de deputado estadual depois de deixar, em 99, sua vaga na Câmara. "Acho um absurdo isso tudo. O pior é que estão dando guarida a isso", disse o vereador Vita ontem que, como os outras que aparecem na agenda, nega o pagamento de propina.

Jantar

Em outro trecho da agenda, Pitta teria programado um jantar com vereadores. Segundo Nicéa, um número que aparece na anotação representaria a quantia de R$ 1,5 milhão. O valor teria sido pago por Pitta e dividido entre parlamentares governistas.
O jantar teria ocorrido em 20 de março de 97. Dois dias antes, vereadores governistas tinham vetado na Câmara a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar suposta irregularidade no pagamento de precatórios na Prefeitura de São Paulo. A apuração havia sido proposta pelo vereador José Eduardo Cardozo, líder do PT na Câmara.
Apesar de ter apresentado a agenda como suposta prova das denúncias que faz, Nicéa não pôde se manifestar sobre o caso.
Os advogados de defesa, que acompanhavam ontem o depoimento de Nicéa à comissão de impeachment, alegaram que a ex-primeira-dama não poderia falar a respeito de provas que não constavam antes do processo.
Os documentos foram entregues aos advogados ontem, e Nicéa deve voltar a depor à comissão. Também foi cogitada a possibilidade de Pitta e Nicéa serem chamados pela comissão para serem acareados.

Processo

A denúncia de compra de vereadores faz parte das acusações que o prefeito responde no processo de impeachment em que é acusado de cometer crimes de corrupção e improbidade administrativa e de usar o cargo para obter vantagens pessoais.
Anteontem, em um depoimento que durou quase sete horas, ele negou todas as acusações que pesam contra ele.
Parte das denúncias, feitas oficialmente por integrantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), foi apresentada pela ex-primeira-dama.
Por essa razão, ela foi convocada para depor ontem à comissão de impeachment.
O depoimento dela começou às 9h50 e a até o fechamento desta edição não havia terminado. Ontem a comissão também ouviria o depoimento de Victor, filho de Nicéa e do prefeito. Outros 15 depoimentos estão programados.


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