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MÍDIA
Limite para capital estrangeiro divide as empresas de comunicação do país
FHC arbitra debate entre grupos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Fernando Henrique Cardoso transformou-se no
árbitro de uma disputa que opõe
as Organizações Globo e algumas
empresas de comunicação do
país. Caberá a FHC mediar o conflito, que envolve a entrada do capital estrangeiro no mercado.
FHC participou anteontem de
jantar com dirigentes de alguns
dos maiores grupos de comunicação do país. Discutiram a proposta de emenda constitucional, cuja
última versão permite a participação dos estrangeiros em empresas
nacionais de comunicação até o
limite de 30% do capital.
O jantar aconteceu na casa do
presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Ficou claro que
a aprovação da proposta depende
quase que exclusivamente do empenho do governo.
A Globo, embora publicamente
se diga favorável ao projeto, pressiona para que sua votação seja
adiada ao máximo. O projeto está
parado há oito meses na Câmara,
desde a aprovação do relatório do
deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) em comissão especial. São necessários 308 votos
na votação em plenário.
O texto admite a participação
estrangeira de até 30% no capital
com direito a voto. Nas empresas
de radiodifusão, haveria uma restrição extra: o restante do capital
(70%) deve permanecer nas mãos
de brasileiros natos ou naturalizados há dez anos. No caso de jornais e revistas, empresas brasileiras podem assumir 70% do capital, além dos brasileiros natos ou
naturalizados.
Algumas empresas defendem a
aprovação imediata da proposta
-vêem na mudança as chances
de manterem seus negócios.
A lista de convidados do jantar
foi discutida com FHC. Acertou-se que a Globo ficaria de fora. O
presidente já havia se reunido
com representantes da emissora.
Encontraram-se com FHC: Luís
Sandoval (SBT), Johnny Saad
(Bandeirantes), Paulo Cabral
(Diários Associados e Associação
Nacional dos Jornais), Roberto
Civita (Grupo Abril) e Domingo
Alzugaray (Editora Três).
Todos foram enfáticos na defesa
da abertura do mercado ao capital
estrangeiro. Consultado ontem
pela Folha, FHC preferiu não manifestar sua opinião. O ministro
Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral da Presidência) prometeu, porém, o empenho do governo para aprovar a emenda.
A Folha apurou que a Globo
utiliza nos bastidores principalmente dois argumentos contra a
proposta. A empresa afirma temer uma avalanche de produtos
culturais estrangeiros em detrimento da produção nacional.
Sustenta também que o ingresso do capital estrangeiro pode estimular políticos a cortar incentivos fiscais concedidos à compra
de papel por jornais e editoras,
sob o argumento de que os benefícios não poderiam ser estendidos ao capital estrangeiro.
A posição oficial do governo
mais recente foi tornada pública
pelo ministro das Comunicações,
Pimenta da Veiga. Ele defendeu
que a participação estrangeira se
desse no limite de 20% do capital,
podendo ser ampliado depois.
O relator Alves, integrante da família que controla a TV Cabuji,
afiliada da Globo no Rio Grande
do Norte, avalia que, sem o apoio
do governo, não haverá votação
antes das eleições. Temer não colocará a emenda em votação antes
de um acordo.
(JOSIAS DE SOUZA, MARTA SALOMON e ELVIRA LOBATO)
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