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CELSO PINTO
Sumiram US$ 25 bilhões em créditos
D e 1997 até o final do ano
passado, US$ 25 bilhões
de linhas de financiamento ao
comércio exterior desapareceram. É uma ótima notícia.
Sumiram US$ 15 bilhões em
diferentes modalidades de financiamento às importações e
US$ 10 bilhões em financiamentos às exportações, segundo o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz
Fernando Figueiredo. Apesar
da redução significativa na
oferta desses créditos, seu custo
caiu bastante e o prazo subiu,
se comparado ao período da
crise russa.
A explicação é simples. Os
US$ 25 bilhões que sumiram
não eram usados, de fato, para
financiar comércio exterior, e
sim para arbitragens no mercado financeiro. Ou seja, exportadores e importadores tomavam dólares mais baratos,
transformavam em reais e
aproveitavam as taxas de juros
estratosféricas internas.
Esses US$ 25 bilhões que sumiram são da mesma qualidade das dezenas de bilhões de
dólares especulativos de curto
prazo, o chamado "hot money", que passaram por aqui
nos tempos do câmbio controlado e dos juros estratosféricos.
O coração do "hot money", as
aplicações externas em renda
fixa no Brasil, hoje está reduzido a quase zero, segundo Figueiredo.
Só se descobre que o desaparecimento desse dinheiro é
mesmo uma boa notícia quando volta-se a viver um ciclo de
maior incerteza externa, como
tem acontecido nos últimos
meses, pela conjugação da alta
dos juros americanos e da forte
queda em suas bolsas. Quando
o Brasil tinha US$ 70 bilhões
em reservas, parecia seguro. Ao
perder quase US$ 50 bilhões
em poucos meses, mostrou que
o "hot money" era virtual. Pior:
a rápida saída de dólares agravou o nervosismo e minou as
expectativas.
O Brasil, por enquanto, passou pela turbulência externa
sem perda de reserva, exceto
pelo repagamento voluntário
feito pelo Brasil de US$ 10 bilhões do dinheiro emergencial
(e caríssimo) tomado do FMI e
do G-7. Ponto para o câmbio
flutuante.
Outra vantagem teórica do
novo regime cambial é absorver choques externos na taxa
de câmbio e permitir maior liberdade na política monetária.
Bastou mudar o humor externo, no entanto, para o juro básico empacar em 18,5% e até
provocar algumas previsões de
alta. Faz sentido?
Figueiredo concorda que os
juros no Brasil continuam insanamente altos. Diz que o desafio do BC é administrar os juros sem ser visto nem como leniente, por reduzir os juros
num cenário externo adverso,
nem como insano, por considerar os juros atuais razoáveis. O
risco maior, no entanto, a seu
ver, é ser considerado leniente.
O BC resistirá, de todo modo,
a altas exageradas. É interessante, a propósito, a visão de
Figueiredo sobre a recente queda-de-braço entre o mercado e
o BC em relação aos juros dos
títulos públicos. Para início de
conversa, ele não concorda que
tenha havido uma queda-de-braço, mas um ajuste técnico.
O período de otimismo que
durou até março levou muito
banco a alavancar-se (usar recursos seus e emprestados) em
apostas de queda futura de juros. Houve banco que chegou a
apostar em posições prefixadas
a 22% ao ano, pelo prazo de
dois anos, tal a confiança na
queda.
As instituições financeiras
trabalham normalmente com
modelos de risco VAR ("Value
at Risk"), que medem o risco
das carteiras, dada uma certa
volatilidade e uma certa liquidez. Quanto maior a volatilidade e menor a liquidez, maior
o risco da carteira e, portanto,
menor o espaço para apostas
alavancadas.
Figueiredo lembra que movimentos de queda de juros, como aconteceu no início do ano,
tendem a ser persistentes e com
baixa volatilidade, induzindo
a alavancagens mais ousadas.
Quando a tendência inverte e
os juros sobem, a volatilidade
dá um salto. O modelo induz as
instituições a zerar posições, o
que tende a reforçar a subida
dos juros e a volatilidade.
Foi esse ajuste técnico, mais
do que uma piora sensível nas
expectativas, que teria levado o
BC a resistir à força do primeiro movimento de aumento dos
juros. O BC, a propósito, padronizou modelos VAR para
regular a alavancagem sobre o
capital em diversos mercados,
mas seu uso só será compulsório no segundo semestre.
Figueiredo argumenta que
nunca a economia brasileira
reuniu tantos indicadores tão
positivos ao mesmo tempo: o
mais baixo déficit público nominal da história, inflação em
queda, retomada de crescimento e financiamento do déficit externo via investimentos
diretos. Por essa razão, acredita que a subida dos juros americanos, a menos que descambe
para uma crise, não vai impedir uma retomada gradual da
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