São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Funcionários da instituição eram cotistas de fundos socorridos
Ajuda do BC beneficiou sócios do FonteCindam

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local


Os sócios e os funcionários do FonteCindam tinham aplicações pessoais nos fundos de investimento do banco que foram ajudados pela operação de venda de dólares do Banco Central a preços menores do que os de mercado.
É o que mostra uma carta encaminhada aos clientes do banco no dia 20 de janeiro e assinada pelo principal sócio da instituição, Roberto Steinfeld. "Vale notar que todos nós do FonteCindam somos também investidores desses fundos, ou seja, ganhamos e perdemos junto com nossos clientes", diz um trecho da carta.
"É uma coisa muito normal que nós tivéssemos dinheiro nos nossos fundos. Sinal de que acreditávamos naquilo que estávamos vendendo", disse Roberto Steinfeld ao ser procurado pela Folha.
O problema é que, no relatório encaminhado à CPI dos Bancos, o BC diz que aprovou a ajuda sem saber que os fundos eram de cotistas. O BC afirma ter feito a operação pensando que se tratava apenas de dinheiro do banco, o que colocava em risco a saúde da instituição e, por extensão, do sistema financeiro. Também em nenhum momento o BC informa ter conhecimento de que os sócios do banco teriam economias pessoais nos fundos.
Já o FonteCindam afirma que o BC foi informado desde o início de que o dinheiro nos fundos pertencia a cotistas e não só ao banco.
O FonteCindam negociou com o BC, no dia 14 de janeiro, a venda de dólares futuros a R$ 1,322 no mercado futuro tanto para a tesouraria (operações com caixa próprio) do banco quanto para os fundos de investimentos, o que limitou os prejuízos dos cotistas. No caso do Marka, os fundos ficaram fora da operação, que só socorreu o banco.
Na carta, Steinfeld reconhece o erro na avaliação do risco de desvalorização, assumindo a responsabilidade pelas perdas ocasionadas aos clientes.
Segundo Steinfeld, as aplicações de sócios e funcionários não chegava a 1% do total administrado pelo banco, que na época era de R$ 500 milhões aproximadamente. Os fundos tinham cerca de 1.500 clientes.
De fato, é comum no mercado financeiro que pessoas que trabalhem em determinado banco apliquem seu próprio dinheiro na instituição. "Agora, daí a se imaginar que a nossa atitude foi tomada pensando no nosso próprio dinheiro não faz sentido", disse Steinfeld.


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