São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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JANIO DE FREITAS
A volta sem ida

Com um comentário que não tomou mais de 15 segundos, o senador Antonio Carlos Magalhães, refletindo também o PFL, reduziu a uma insignificância política o esforço da cúpula do PSDB nos últimos dez dias, para que a sua convenção de sábado admitisse, mesmo a contragosto, Luiz Carlos Mendonça de Barros como um dos cinco vice-presidentes do partido.
A operação peessedebista, dificultada pelas resistências ao Mendonça de Barros do grampo no BNDES, foi a etapa inicial da preparação para sua volta ao governo, desejada por Fernando Henrique Cardoso. Há algum tempo Mendonça de Barros ocupa-se em montar um pretenso plano de crescimento econômico, do qual teria o comando no ministério.
""Ele estava havia muito tempo sem falar, por isso está falando tanto (em plano de governo). Mas ele precisa ficar mais humilde, até porque o cargo dele (vice-presidente do PSDB para assuntos econômicos) não tem lá essa importância, não." Sem falar em ministério, Antônio Carlos emitiu o aviso: o PFL, que sabe muito bem as intenções de Fernando Henrique, não aceitará a tentativa de reintrodução de Mendonça de Barros no ministério, ainda mais em um posto que equivaleria ao de chefe de fato do governo.
A operação em torno de Mendonça de Barros objetiva a retomada do plano traçado para o segundo mandato, quando a ele seria entregue um tal Ministério da Produção com superpoderes. Como o plano conflita com a política defendida por Pedro Malan, o retorno de Mendonça de Barros significaria, no começo do ano ou agora, a substituição na Fazenda. Para o lugar de Malan, um nome considerado era o de José Serra, que foi quem levou Mendonça de Barros para o governo. Hoje há também o nome de Celso Lafer, que precisaria deixar o Ministério do Desenvolvimento.
Esse cenário, além de explicar a resistência do PFL ao rolo compressor, proporciona a explicação para um fato que a princípio foi esquisito. Parte do noticiário, dando até capa de revista, sobre a presença de Malan na sala em que era acertada a ""ajuda" ao Banco Marka, contou com informações saídas do próprio Planalto. Para meia palavra, bom entendedor basta.
Ao considerar sua possível volta ao governo e a oposição no PSDB mesmo à sua indicação para dirigente, por causa do grampo e da aventura espanhola (a do hotel com fatura falsa), Mendonça de Barros tem opinião interessante: ""Isso não tem importância, (...) foi uma questão jornalística explorada politicamente".
Na melhor hipótese, seria o contrário: uma questão política explorada jornalisticamente. Foi mais, porém. Nos dois casos, muito mais.

O fisiológico
Agora é por decreto presidencial: os ministros podem usar aviões da FAB para idas e voltas entre suas casas e Brasília quantas vezes quiserem.
Nos Estados Unidos e nos países europeus, essas viagens são pagas do bolso ministerial. Mas esses são países pobres, coitados. E não têm a decência pessoal do governante de um país com sobra de recursos, como o Brasil.


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