|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CELSO PINTO
Liberais e nem tanto
Superado o pior da crise
mundial, qual é a agenda de
crescimento para o Brasil?
Para o ministro da Fazenda,
Pedro Malan, e o presidente do
Banco Central, Armínio Fraga, a agenda é mais do mesmo.
É a agenda liberal típica: cabe
ao governo prover equilíbrio
fiscal, estabilidade monetária
e gastos prudentes na área social; ao setor privado, cabe investir e crescer.
Para o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, trata-se de eleger o desenvolvimento como prioridade, "não
como alternativa ao processo
do Plano Real, mas como garantia do Plano Real". O que
garantirá a continuidade do
Plano Real "não são mais os
métodos usados até aqui, mas
ousadia com o desenvolvimento".
A questão foi levantada pelo
Fórum Nacional organizado
pelo ex-ministro Reis Velloso e
que se transformou, nos últimos anos, num dos poucos espaços de debate sobre alternativas econômicas para o país.
Tradicionalmente, o fórum
abria reunindo a visão oficial
e a independente sobre questões econômicas. Ontem, num
novo formato, ficou apenas a
visão de Brasília. Não faltou,
contudo, alguma polêmica.
O que exatamente Pimenta
da Veiga quis dizer com novos
métodos para o desenvolvimento não está claro. O que está cristalino, contudo, é a expectativa da área política de
uma retomada firme do desenvolvimento, com uma
agenda positiva que a acompanhe.
Pimenta, é claro, fez questão
de assegurar que sua visão está em "absoluta identidade
com o ministro Malan". É natural que ele cuide da moeda,
disse. O crescimento não vem
como alternativa a essa postura e sim "em socorro, em apoio
a essa tese".
Um espírito conciliador diria que Pimenta vê o desenvolvimento como um copo meio
vazio com o que já existe e a
dupla Malan/Armínio como
um copo meio cheio. Ou, posto
de forma mais sofisticada, pode-se lembrar que é função do
ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central jogar
na defensiva e defender a austeridade, enquanto é natural
que ministros políticos prefiram jogar no ataque, para a
platéia.
Seria simples, não fosse o fato de que se sabe que o presidente Fernando Henrique, hoje, está mais para o desconforto de Pimenta do que para o
conservadorismo de Malan/
Armínio. Não que o presidente
negue a importância de consolidar a austeridade fiscal e
monetária. A lição do famoso
"Pacote 51" de ajuste econômico, adotado depois da crise
asiática e não-implementado,
parece ter sido assimilada.
O presidente tem deixado
claro a interlocutores recentes,
contudo, que sente falta de
uma ação mais clara e coordenada do governo na direção
dos projetos de desenvolvimento definidos em seu plano
de ação. Algo que dê mais sentido de direção de longo prazo
nas áreas econômica e social.
Quando discutia seu segundo mandato, em meados do
ano passado, o presidente
imaginava que esse papel mais
agressivo seria desempenhado
por Luiz Carlos Mendonça de
Barros, no novo Ministério do
Desenvolvimento. Sem bater
de frente com a austeridade,
ele daria o tom do que haveria
de positivo no segundo mandato, com um papel mais ativo
do Estado.
O grampo do BNDES enterrou o plano, mas o presidente
ainda se queixa da falta de alguém para esse papel. Não são,
por temperamento, nem o ministro Celso Lafer, nem o ministro Malan, nem Armínio
Fraga. Se essa inquietação
presidencial pode resultar em
mudanças, não se sabe, mas
está claro que Pimenta da Veiga não falou à toa.
O recado de Malan, contudo,
foi claro. "Desenvolvimentismo é a necessidade de responsabilidade fiscal, é ter compromisso com as políticas monetária e fiscal", disse. "É não ter
demagogia, atos de voluntarismo explícito, canetadas presidenciais." A ação do Estado é
regulatória, aumentar a poupança reduzindo o déficit público, melhorar a qualidade
dos gastos sociais, identificar
prioridades, mas evitar créditos subsidiados.
Armínio, depois de dizer que
tinha vindo preparado para
"bater no pseudodesenvolvimentismo", definiu a principal contribuição do BC para o
desenvolvimento como zelar
por "inflação baixa, estável e
previsível". E a principal contribuição do governo é "não
gastar mais do que arrecada".
Ninguém discute que esses
são pré-requisitos para qualquer desenvolvimento sustentável. Mais duvidoso é saber se
o governo FHC, que passou
quatro anos oscilando entre
um liberalismo tímido e um
intervencionismo envergonhado, vai se contentar com
esse papel.
Texto Anterior: Violência: Brasil pede ajuda ao governo russo Próximo Texto: Crise federativa: Oposição propõe criação de fundo para gerar emprego Índice
|