São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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Vianna rebate catastrofismo da crítica da USP

DA REDAÇÃO

Animar "o lado nacional-desenvolvimentista" do governo é o papel da crítica à esquerda segundo o cientista político Luiz Werneck Vianna, do Iuperj, no Rio. Para ele, o lado financista já ganhou a disputa, mas vale a pena alimentar os divergentes para um próximo round: "Quem sabe eles não se sobressaem nas eleições?"
Vianna vê com "irritação" as análises de Paulo Arantes e Francisco de Oliveira, da USP, a quem atribui um "diagnóstico furado".

 

Folha - O que há na crítica à esquerda? Incômodo?
Luiz Werneck Vianna
- Entre os militantes petistas propriamente há desanimados. Já houve desistências, mas há por aí análises catastróficas, não da situação brasileira, mas mundial. Só vêem coisa negativa. Uma anti-cultura material, uma coisa filosofante que domina na USP, que anda organizando as cabeças. É um diagnóstico furado. Não vejo o mundo assim.

Folha - E como vê?
Vianna
- Acho que vai, que vai indo... A democracia avança. Aqui e alhures. Estava lendo exatamente filósofos paulistas, numa irritação danada. É de um humanismo abstrato, vê a economia como inimiga...

Folha - Qual o papel que uma crítica à esquerda pode ter?
Vianna
- Animar. Esse governo é dois. Tem o lado dominante, que é do Palocci. Tem outro que se inclina mais na tese do nacional-desenvolvimentismo (representante mais visível é o Carlos Lessa [BNDES]).

Folha - Ainda há disputa entre esses lados ou o 1º já ganhou?
Vianna
- É um jogo ganho para o Palocci, mas que não leva à eliminação do outro. O governo vai avançando com as duas patas. O importante para quem é de esquerda é observar que é um governo que não reprime o movimento popular, que é sensível na audiência -pelo menos. Não vejo na perspectiva claro-escuro como veêm. Temos de animar esse 2º lado. Quem sabe eles não se sobressaem nas eleições?

Folha - O sr. foi a um encontro acadêmico na UFMG neste mês do qual foram dois ministros. Qual o limite da interlocução?
Vianna
- Não deixa de ser uma tentativa do governo de participar. Foram intervenções políticas [ a dos ministros Luiz Dulci e Patrus Ananias]. Foram bem aceitos, não houve mal-estar. Interpretaram bem essas duas faces do governo. Uma dominante e a outra que fica assuntando para ver se vai para algum lugar, mas não vai para lugar nenhum. Está lá o Palocci e está lá o Lula garantindo o Palocci. Mas do jeito que falam, não se contrapõem ao Palocci (por incrível que pareça). Usam o argumento da contingência aí o confronto não se estabelece. Eles vão assim até o final dos tempos, e acho que vão conseguir alguns resultados. O país pode crescer 4,5%, o que não é pouco. Mas, é uma percepção naturalístico-vegetativa da economia, bem regada e cuidada pelo Palocci. Crescimento que interfere pouco, não cria emprego.


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