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JANIO DE FREITAS
Antes do estopim
Não só a soldadesca é despreparada; também a oficialidade, precipitando blindados pelas ruas
DESDE O COMEÇO da década de
90 discute-se a inclusão do
Exército nas ações repressoras de tumultos urbanos criminosos. Discussão até agora inútil. E,
pior, sem sinal promissor de progresso, por pequeno que seja.
Era em intervenções de sentido
político que os militares pensavam
quando, durante a Constituinte,
pressionaram para que a atribuição
constitucional das Forças Armadas
fosse a da "segurança externa e interna", e não só a primeira, como é
próprio dos países civilizados e
constava do projeto original da
Constituição. Já por aquela motivação se explicaria a resistência do
Exército, em numerosas ocasiões, a
participar de ações pela ordem pública. A primeira experiência de participação no Rio comprovou que havia mais motivos. E, portanto, que os
refratários à idéia, fossem militares
ou civis, tinham razão. Embora a diferença de seus argumentos.
Não só a soldadesca é despreparada. Também a oficialidade, logo precipitando blindados e artilharia pelas ruas e diante de favelas, mostrou
total incompreensão tanto da natureza da desordem como do modo de
prestar colaboração real para solucioná-la. O espetáculo, em suas três
ou quatro representações idênticas,
não resultou favorável ao Exército nem à cidade. Mas, pelo que se viu de
tanques à procura de um punhado
de fuzis há pouco roubados, não serviu de ensinamento algum.
O que não quer dizer que as Forças Armadas não tenham contribuições a dar. E que não as estejam de-
vendo. A questão é quais e como devam ser. Ao menos para suscitar tal
debate os tumultos de São Paulo deveriam servir, se formos capazes de
entendê-los pelo que têm de mais
profundo: são prenúncios de outros
episódios perigosos, assim como foram precedidos de ocorrências que a
irresponsabilidade imaginou restritos ao Rio, e não como decorrências
parciais de uma realidade nacional
que só depende de um estopim.
Sem resposta
As mortes de civis libaneses ultrapassaram as 200, pelo noticiário
preliminar de ontem à tarde sobre
os efeitos dos ataques israelenses
ao Líbano. Ocasião em que o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, incluiu interessante concepção em um discurso: "O governo do
Líbano é contra [o Hizbollah] mas é
o responsável [pelo seqüestro de
dois soldados israelenses pelo Hizbollah, causa alegada dos bombardeios israelenses que arrasam o Líbano]". Com a conclusão serena:
"Os ataques vão continuar até que
os soldados sejam devolvidos".
Uma questão que não sei se ainda
tem algum sentido humano ou já se
trata só de aritmética: a quantos libaneses equivalerá um soldado a
serviço do extremismo belicista
que se impõe em Israel?
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