São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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MICROCANDIDATOS
Candidato quer levar rio Amazonas ao NE
João de Deus quer reviver era Vargas

Rosane Marinho/Folha Imagerm
O candidato à Presidência da República, João de Deus (PT do B)


LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

João de Deus de Jesus, 66, é um político original. Em vez de prometer o futuro, como a maioria, o candidato do PT do B à Presidência oferece o passado.
Ele quer que o salário mínimo volte ao patamar da época em que foi instituído pelo presidente Getúlio Vargas, em 1940, restaurar a rede de saúde criada por Vargas, recriar os restaurantes populares do período Vargas. Em suma, ele quer voltar ao período Vargas, "o melhor presidente que o país já teve".
Sua paixão pelo ex-presidente é tão grande que um de seus filhos recebeu o nome de Alexandre Vargas.
Isso mesmo sem ter tido "maiores contatos" com o ex-presidente. "Só vi de longe, em desfiles de 7 de setembro. E, quando ele morreu, fui visitar o esquife", diz ele, um baiano de Salvador que, no suicídio de Vargas (1954), "fazia biscates" no Rio de Janeiro.
Ele não se considera seu sucessor político. "Getúlio era muito grande para ter um herdeiro como eu", diz ele, que pretende se apresentar aos eleitores com uma foto de Vargas.
Amazonas até o NE
Para quem acha que o candidato do PT do B fica apenas reprisando o discurso alheio, o candidato João de Deus revela algumas idéias próprias.
Pretende acabar com o desemprego, arranjar uma saída do Brasil para o oceano Pacífico, canalizar o rio Amazonas para acabar com a seca nordestina e povoar a Amazônia.
"Os cientistas disseram que a Amazônia tem capacidade para receber 1 bilhão de pessoas", diz ele, que usa um "blazer" azul rasgado no ombro, uma calça bege remendada no joelho e um par de sandálias como figurino de campanha.
Se alguém duvida da seriedade de sua candidatura, João de Deus adverte que sua campanha não é eleitoreira.
"Quem pensa que estamos nas ruas pedindo votos está enganado", discursou ontem em frente à Central do Brasil para seus 30 correligionários no primeiro dia de campanha. "Votem em quem quiser."
Seu alvo preferencial é o presidente Fernando Henrique Cardoso, por causa do processo de privatização. "Nem 1 milhão de FHCs valem uma sandália de Getúlio Vargas", diz, batendo a mão contra a própria sandália.
"Este presidente só sabe viajar e fica apertando a mão até desse ex-fumador de maconha, que é o (presidente dos Estados Unidos) Bill Clinton. O Getúlio nunca saiu do país."
O carro de som avança e fecha a rua, atrapalhando o trânsito. Os motoristas reclamam buzinando. O orador do partido aproveita e fala: "É isso aí, pessoal! É o buzinaço da vitória!".



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