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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DE VOLTA ÀS BASES
Em discurso com várias referências às relações familiares, presidente diz na Bahia que "está com consciência limpa" e que "anda no meio do povo"
Lula diz ser maleável como "coração de mãe"
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA DA CONQUISTA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem, em Vitória da
Conquista (550 km de Salvador,
BA), que está com a "consciência
limpa" em relação à crise e "muito
mais aberto do que coração de
mãe", em um discurso repleto de
referências às relações familiares.
Afirmou também que sabe dos
"objetivos" dessa crise política e
que tem conhecimento de que
muitas pessoas querem envolvê-lo nas denúncias de corrupção.
Lula, porém, não especificou
quem seriam essas pessoas nem
disse qual seria a intenção delas
em supostamente tentar envolvê-lo nas acusações. Declarou ainda
que o ocupar o cargo de presidente da República o impede de dizer
tudo o que pensa.
"Eu sou um homem tranqüilo.
Tranqüilo porque tenho a minha
consciência limpa", declarou. "E
não são poucos os que querem jogar para dentro do Palácio algum
erro, algum processo de corrupção", afirmou.
Aplaudido pelas cerca de 3.000
pessoas que acompanhavam o
discurso de improviso no assentamento Amaralina, a 7 km da cidade, o presidente afirmou: "Estou mais aberto do que coração de
mãe. Muito mais aberto do que
coração de mãe. Não tem nada
mais maleável e mais sensível do
que coração de mãe".
Ele reconheceu, entretanto, que
às vezes se irrita, mas que não pode se comportar como "qualquer
cidadão", que "pode ficar nervoso, pode xingar".
Lula disse que a primeira-dama,
Marisa Letícia, que estava ontem
no palanque ao seu lado, é quem o
recomenda a "contar até dez"
quando está prestes a perder a calma. "Por mais que eu esteja irritado ou nervoso, não posso dizer
tudo o que penso em função do
cargo em que estou."
Outro motivo para não falar o
que pensa, disse, é que "o povo
não gosta de um presidente que
fica gritando, que fica berrando".
"O povo quer um presidente que
converse com ele, com a tranqüilidade que uma mãe conversa
com seu filho, que um pai conversa com seu filho."
No meio do povo
Lula reafirmou em público sua
crença em Deus e disse que nunca
teve a certeza de que seria fácil administrar o país e que não enfrentaria problemas no governo. "Eu
sei que tem esses [problemas] e
podem surgir muitos outros."
O presidente negou interferência nas investigações sobre as denúncias de corrupção e voltou a
defender a punição dos culpados.
Disse que não tem poder para punir os suspeitos e que "o máximo"
que pode fazer é afastá-los de seus
cargos públicos.
Lula afirmou também que vai
continuar a "andar no meio do
povo" durante suas viagens. E
aproveitou para criticar seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardos: "Pode ter presidente
que deixa a Presidência e vai morar em Paris [...]. Eu não tenho para onde ir, a não ser ao encontro
deste povo extraordinário que há
mais de 30 anos, junto comigo,
constrói o que nós conquistamos
hoje", afirmou.
Cerca de meia hora depois do
fim da cerimônia, o presidente
quebrou o protocolo e foi até a
cerca onde aproximadamente
cem pessoas o chamavam. Ele
distribuiu apertos de mão, deu
autógrafos e ouviu reivindicações.
"13 mil horas"
Em Vitória da Conquista, o presidente liberou recursos para rodovias, inaugurou obras de eletrificação rural no assentamento
-que tem 249 casas- e comemorou o atendimento de 1,3 milhão de pessoas pelo programa federal "Luz para Todos".
Ao ligar simbolicamente o interruptor que acionava oito lâmpadas instaladas em frente ao palco, houve um momento de
apreensão. Uma sirene tocou,
mas as lâmpadas demoraram para acender. "Esta luz demorou para acender porque veio para ficar.
A que acende rápido dura mil horas. Essa dura 13 mil horas", justificou o ministro das Minas e
Energia, Silas Rondeau.
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