São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

Uma história de 78: Ulysses Guimarães e FHC

RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES

Corria o ano de 1978. O Congresso Nacional havia acabado de eleger João Figueiredo como o último general-presidente do ciclo militar em confronto com o general Euler Bentes lançado candidato pelo MDB, num lance estratégico cuja importância, na luta pela redemocratização, nunca foi devidamente avaliada.
A eleição politicamente mais importante, com o Figueiredo já eleito, ia se ferir em torno do preenchimento da vaga de senador por São Paulo. Por isso, o comício final do MDB realizou-se em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ao qual o general Euler Bentes compareceu num palanque que reunia, também, o Ulysses Guimarães, presidente do MDB e os dois candidatos do partido ao Senado: Franco Montoro, buscando a reeleição, e Fernando Henrique Cardoso, este, em sublegenda, fazendo a sua estréia na política eleitoral, representando o engajamento da inteligência brasileira na luta político-partidária.
Comício de cerca de 100 mil pessoas, no coração do ABC, que começava a ser sacudido pela presença de um movimento sindical autônomo, simbolizado pela figura do Lula, organizado sob inspiração da Igreja Católica em processo de decolagem do regime militar, e com amplo apoio da universidade paulista.
Fernando Henrique Cardoso tinha o apoio absoluto do Lula, dos artistas e dos intelectuais. E o Franco Montoro, de seu lado, tinha um apoio difuso da classe média paulista e uma biografia política irretorquível, formada desde os tempos do PDC, quando fora ministro do governo parlamentarista sob o "tandem" Tancredo Neves -João Goulart.
O comício foi um sucesso. Falaram todos com veemência e calor. O Ulysses Guimarães, de volta à sua casa, entusiasmado com o êxito da manifestação popular, comentou com o deputado Pacheco Chaves, com quem mantinha, desde os tempos de ambos no PSD paulista, uma fraterna amizade que somente a morte interrompeu. "O Fernando Henrique tem com ele todas as lideranças sindicais, os artistas, os professores, os intelectuais, a universidade; mas, os trabalhadores, de verdade, como se verificou, hoje, preferem o Montoro. O professor, que dizem até ser marxista, só terá votos aqui no Jardim. Meus vizinhos votam todos nele. É assim mesmo: só a classe média vota com a esquerda".


RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES, 71, ex-governador da Guanabara e ex-ministro da Previdência do governo Sarney, escreve às quartas nesta seção


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