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FOLCLORE POLÍTICO
Uma história de 78: Ulysses Guimarães e FHC
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES
Corria o ano de 1978. O Congresso Nacional havia acabado de eleger João Figueiredo como o último general-presidente
do ciclo militar em confronto com
o general Euler Bentes lançado
candidato pelo MDB, num lance
estratégico cuja importância, na
luta pela redemocratização, nunca foi devidamente avaliada.
A eleição politicamente mais
importante, com o Figueiredo já
eleito, ia se ferir em torno do
preenchimento da vaga de senador por São Paulo. Por isso, o comício final do MDB realizou-se
em São Bernardo do Campo, no
ABC paulista, ao qual o general
Euler Bentes compareceu num
palanque que reunia, também, o
Ulysses Guimarães, presidente do
MDB e os dois candidatos do partido ao Senado: Franco Montoro,
buscando a reeleição, e Fernando
Henrique Cardoso, este, em sublegenda, fazendo a sua estréia na
política eleitoral, representando o
engajamento da inteligência brasileira na luta político-partidária.
Comício de cerca de 100 mil pessoas, no coração do ABC, que começava a ser sacudido pela presença de um movimento sindical
autônomo, simbolizado pela figura do Lula, organizado sob inspiração da Igreja Católica em processo de decolagem do regime militar, e com amplo apoio da universidade paulista.
Fernando Henrique Cardoso tinha o apoio absoluto do Lula, dos
artistas e dos intelectuais. E o
Franco Montoro, de seu lado, tinha um apoio difuso da classe
média paulista e uma biografia
política irretorquível, formada
desde os tempos do PDC, quando
fora ministro do governo parlamentarista sob o "tandem" Tancredo Neves -João Goulart.
O comício foi um sucesso. Falaram todos com veemência e calor.
O Ulysses Guimarães, de volta à
sua casa, entusiasmado com o
êxito da manifestação popular,
comentou com o deputado Pacheco Chaves, com quem mantinha, desde os tempos de ambos no
PSD paulista, uma fraterna amizade que somente a morte interrompeu. "O Fernando Henrique
tem com ele todas as lideranças
sindicais, os artistas, os professores, os intelectuais, a universidade; mas, os trabalhadores, de verdade, como se verificou, hoje, preferem o Montoro. O professor, que
dizem até ser marxista, só terá votos aqui no Jardim. Meus vizinhos votam todos nele. É assim
mesmo: só a classe média vota
com a esquerda".
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES,
71, ex-governador da Guanabara e ex-ministro da Previdência do governo Sarney, escreve às quartas nesta seção
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