São Paulo, sexta, 18 de setembro de 1998

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CELSO PINTO
O preço da ajuda externa


O governo já recebeu um aceno do FMI de que seria possível montar um pacote de apoio em torno de US$ 25 bilhões. Tem gente no governo, contudo, que acha pouco.
O raciocínio é que, se a Indonésia recebeu, ano passado, mais de US$ 40 bilhões, então o Brasil mereceria, no mínimo, algo parecido. O dinheiro teria que vir do FMI, do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do G-7.
Não é simples, nem existe nada amarrado, mas as negociações continuam. O desfecho, contudo, vai esperar as eleições presidenciais.
O pacote, obviamente, vai exigir um programa de ajuste fiscal com o FMI. O desenho do pacote pode ser brasileiro, desde que atenda as metas que o FMI julgue necessárias.
O Brasil já anunciou sua meta para o próximo ano, quando enviou o orçamento da União para o Congresso. Está disposto a gerar um superávit fiscal primário (receitas menos despesas, exceto juros) de R$ 8,7 bilhões, equivalente a 0,87% do PIB. Até 15 de novembro o governo prometeu detalhar como seria possível garantir este superávit primário.
E o que o FMI quer? Há indicações no governo de que o FMI deve insistir num superávit primário de até 3% do PIB para o próximo ano. Isso implicaria num esforço adicional muito significativo. Mesmo que o governo conseguisse produzir mais 1% do PIB em cortes adicionais de gastos, seria difícil evitar um aumento de impostos. É uma hipótese que não agrada ao governo e que seria mal recebida na área política. Será evitada, se for possível.
A aposta é que seria possível gerar um choque de credibilidade com um ajuste fiscal mais expressivo, com algum selo de aprovação do FMI, respaldado por um pacote externo razoável de recursos. Ao mesmo tempo, o Congresso examinaria a reforma previdenciária e, talvez, uma reforma fiscal.
Se persistisse a instabilidade dos mercados, os juros seriam mantidos altos, pelo menos até o final do ano. Os cortes fiscais adicionais anunciados permitiriam manter os juros altos chegando ao fim do ano com o déficit de 7,6% do PIB previsto pelo BC.
O Banco Central opõe-se de forma veemente a qualquer tipo de controle sobre o câmbio. O argumento, como se sabe, é que isso seria uma quebra de confiança. Ao mesmo tempo, contudo, não há dúvida de que o governo não gostaria que as reservas cambiais caíssem abaixo de US$ 40 bilhões.
Isso implica numa conta de chegar, que o mercado tem feito com cuidado. Se a saída, ontem, ficou em torno de US$ 300 milhões, as reservas devem estar ao redor de US$ 48,5 bilhões. Portanto, de hoje até o dia da eleição, 4 de outubro, a perda de recursos não poderia superar uma média de US$ 770 milhões por dia útil.
Setembro está sendo ajudado por US$ 380 milhões da privatização da Gerasul, mas ainda existem vencimentos importantes da chamada "63 caipira".
Em compensação, sobrou menos dólares para sair de aplicações externas através do câmbio comercial. Os fundos de renda fixa, que chegaram a ter US$ 9 bilhões, hoje teriam apenas US$ 1,5 bilhão, calcula um grande banco. As aplicações em Bolsa, que já foram de US$ 45 bilhões, hoje estariam em uns US$ 13 bilhões, calcula outro banco, dos quais uns US$ 3 bilhões seriam recursos mais especulativos.
A chave está no câmbio flutuante, por onde sai o dinheiro dos brasileiros preocupados com uma desvalorização, de empresas que recompram bônus e de multinacionais que antecipam remessas de dividendos. O BC não quer restringir o flutuante.
Em outubro, devem entrar outros US$ 380 milhões da Gerasul e, mais no final do mês, US$ 2,1 bilhões da compra do Real pelo ABN. Não vai ser simples administrar expectativas, especialmente até as eleições.
E o câmbio? Existe uma larga percepção no mercado de que será difícil o Brasil evitar um ajuste no câmbio. O governo recusa-se a mexer no câmbio a curto prazo. Mesmo no mais fantástico cenário, contudo, o BC terá que pensar em como atenuar a pressão do câmbio sobre as taxas de juros em 99.
Uma forma seria desacelerar a desvalorização, como chegou-se a discutir antes da quebra da Rússia. Outra, seria abrir a banda de flutuação, permitindo alguma desvalorização, mas tentando mantê-la sob controle.




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