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ARTIGO
A revisão dos sistemas de pensão na Europa
ARNAUD LEPARMENTIER
DO ""LE MONDE", EM BRUXELAS
O ministro dos Assuntos Sociais
da França iniciou na quinta-feira,
16 de janeiro, uma viagem pela
Europa para estudar os diferentes
sistemas de aposentadoria praticados no interior da União Européia (UE). A reforma prometida
por Jean-Pierre Raffarin para junho de 2003 também está sendo
estudada por vários outros países.
Nos últimos meses, a Comissão
Européia vem pedindo aos Estados-membros que façam uma revisão de seus sistemas de pensões,
para evitarem o risco de uma explosão dos déficits públicos.
É essa a tecla que vem sendo tocada sem parar no último ano pela Comissão Européia, que não
perde nenhuma chance de dar
uma bronca em seus Estados-membros, a começar pela França:
os "Quinze" precisam reformar
seus sistemas de aposentadoria.
Teoricamente, essa área diz respeito exclusivamente a cada Estado.
Mas, cada vez mais, o tema vai
se tornando de interesse comum.
A curto prazo, isso se deve ao euro: os Estados-membros terão
que enfrentar juntos o custo crescente das aposentadorias devido
ao envelhecimento da geração do
""baby boom", somado à queda
dos índices de natalidade e ao aumento dos índices de expectativa
de vida.
A carga financeira é tão grande
que corre o risco de provocar uma
explosão nos déficits dos Estados-membros, provocando uma alta
vertiginosa de suas dívidas
-com a notável exceção do Reino Unido, cuja dívida atual é pequena. Assim, segundo a Comissão Européia, o peso das aposentadorias nas finanças públicas,
que hoje é de 10% do PIB, vai subir para aproximadamente 13,6%
até 2040.
A segunda limitação é mais generalizada. Existem hoje na Europa quatro pessoas em idade economicamente ativa para cada
uma com mais de 65 anos. Em
2050, essa proporção será de apenas duas para uma.
Para não tornar exorbitante o
peso dos impostos e contribuições, penalizando o emprego, os
"Quinze" vão adotar a estratégia
de longo prazo de fazer a população trabalhar mais e por mais
tempo.
""Quanto mais pessoas houver
com emprego, mais haverá quem
ajude a financiar os aposentados", escreve a Comissão. Na cúpula de Lisboa, em 2000, os chefes
de Estado e de governo da UE fixaram como objetivo alcançar
um índice de emprego de 70% até
o fim da década. O modelo visado
é o dos EUA, onde mais de 75%
das pessoas de 15 a 64 anos de idade trabalham e onde a riqueza gerada por habitante é 20% superior
à gerada por cada habitante da
União Européia.
Na Europa, se o Reino Unido, a
Holanda, a Suécia e a Dinamarca
alcançaram esse objetivo, a Grécia, Itália e Espanha estão muito
longe disso. Para alcançar o índice
de 70%, os "Quinze" pretendem
fazer os jovens começar a trabalhar mais cedo, aumentar o índice
de emprego das mulheres -para
isso, será preciso aumentar as facilidades de atendimento às
crianças na Alemanha e nos países do sul da Europa- e, sobretudo, fazer os europeus trabalhar
por mais tempo, evitando as aposentadorias precoces.
França atrasada
Em Barcelona, em março de
2002, os "Quinze" fixaram o objetivo de aumentar em cinco anos a
idade efetiva -não a legal- da
aposentadoria. Hoje ela é de 60
anos, em média, e não de 64, como afirmou François Fillon. Aposentam-se mais cedo os habitantes do Luxemburgo, com 56,8
anos em média, enquanto os que
trabalham por mais tempo são os
irlandeses: 63,1 anos.
Essa iniciativa provocou reações de ultraje na França -que se
encontrava em plena campanha
eleitoral na época-, tanto por
parte do candidato François Bayrou, da UDF, quando do sindicalista Marc Blondel, da FO. Essas
reações ocorreram apenas na
França, isso porque, apesar das
negativas expressas por Jacques
Chirac e Lionel Jospin, a iniciativa
era incompatível com o direito de
aposentadoria aos 60 anos. Os outros países não tiveram o mesmo
problema, na medida em que já
tinham ampliado a idade mínima
para a aposentadoria legal para 65
anos ou mais, pelo menos no caso
dos homens. De modo geral, a
França está atrasada em relação a
seus parceiros, embora a Grécia e
a Espanha também tenham sido
repreendidas por Bruxelas. Os europeus se dirigem a um modelo
de aposentadoria baseado em três
pilares, mais ou menos fortes, segundo os países: uma aposentadoria por distribuição, completada pelos planos de previdência
privada de empresa, e os fundos
de pensão ou poupanças individuais.
Assim, em 2001 a Alemanha começou a adotar a aposentadoria
por capitalização, enquanto a Itália iniciou suas reformas nessa
área nos anos 90. A questão é explosiva na França, mas as perspectivas demográficas parecem
ser mais favoráveis neste país. De
fato, a França tem o segundo
maior índice de natalidade na Europa, atrás da Irlanda e à frente da
Holanda, sendo que Alemanha,
Grécia e Itália tiveram um crescimento natural negativo de suas
populações em 2002.
Numa Europa que, em 2002, registrou o menor número de nascimentos desde a guerra (4 milhões
apenas), três quartos do crescimento da população (que aumentou ao todo 0,36% em 2002) se explicam pela imigração. Apesar
disso, os demógrafos explicam
que esta não pode resolver o problema das aposentadorias, já que
os imigrantes levam apenas uma
geração para adotar os hábitos
demográficos dos países que os
acolhem.
Tradução de CLARA ALLAIN
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