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PREVIDÊNCIA
De 19 nações pesquisadas, maioria tem plano especial de aposentadoria
Militar recebe mais em país que sofreu regime de exceção
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O Ministério da Defesa preparou um estudo em 19 países para
mostrar que, na grande maioria
deles, as Forças Armadas têm um
regime especial de Previdência. O
que o ministério não destacou é
que as melhores aposentadorias
estão concentradas nos países que
tiveram governos militares. Naqueles com longa tradição democrática, a tendência é a de o militar
entrar para a reserva ganhando
menos do que na ativa.
Essa pesquisa foi apresentada a
vários ministros do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reforçar a tese de que os militares do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica não podem ser incluídos na reforma da Previdência -que prevê um regime único
de aposentadoria para todos os
servidores e trabalhadores da iniciativa privada.
De todas as nações estudadas,
em apenas uma os militares não
têm um regime de aposentadoria
especial -a exceção é a Noruega,
que tem sistema único e considerado eficaz. Em dois países (China
e Coréia do Sul), os dados apresentados são incompletos. Por isso, a Folha optou por trabalhar
com o resultado de 17 países.
Pelo mapa da Previdência, os
países em que os militares se aposentam com o último salário da
ativa, como no Brasil, são: Chile,
Paraguai, Argentina, Uruguai, Peru, Portugal, Espanha e Venezuela. Em muitos casos, o militar recebe "prêmios" quando entra para a reserva. No Chile, por exemplo, são 24 salários. No Peru, cerca
de US$ 30 mil.
O único desses países que não
passou por um governo de exceção é a Venezuela, apesar de o
atual presidente, Hugo Chávez,
ser coronel reformado. Em compensação, a contribuição dos militares sobre o salário é de 11,5%
-no Brasil, é de 7,5%.
Os dois países europeus, Espanha e Portugal, conviveram com
um regime militar até 1975 e 1974,
respectivamente. Os espanhóis,
com o general Francisco Franco, e
Portugal, com Antônio de Oliveira Salazar. Os demais países da
América Latina enfrentaram,
quase concomitantemente, os regimes militares.
"Paraguai, Argentina, Chile e
Peru são altamente hierarquizados, com castas militares. São sociedades com grandes desigualdades sociais e, nesse cenário, os
militares foram mais beneficiados", afirmou Maria Celina D'Araújo, cientista política e historiadora da FGV (Fundação Getúlio
Vargas) do Rio.
No Peru, por exemplo, o regime
é considerado menos conservador. Deu início, por exemplo, à reforma agrária. Porém as Forças
Armadas gozam de uma tradição
muito forte. "É uma instituição de
brancos em um país de índios",
disse Maria Celina.
No Chile, os militares têm muita
influência política e poder constitucional. Os comandantes, quando se aposentam, tornam-se senadores vitalícios. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o general
Augusto Pinochet, que governou
o país de 1973 a 1990.
No Paraguai do general Alfredo
Stroessner (1954-1989), os militares eram automaticamente filiados ao partido militarizado, o Colina, e não pagavam impostos.
Nos países com longa tradição
democrática, os militares vão para a reserva recebendo menos do
que ganhavam na ativa. Nos Estados Unidos, na Alemanha e no
Reino Unido eles recebem 75%
do último salário. Na França, a relação entre os vencimentos da reserva e da ativa é de 60%.
"O militar vai para a reserva ganhando menos, mas ele tem muitos benefícios sociais", disse a historiadora. Também paga menos
aos militares a Colômbia, que
nunca teve regime militar.
A Bolívia é a exceção no grupo
dos "democráticos". "Os bolivianos tiveram regime militar, mas
as Forças Armadas perderam
prestígio, perderam terras e perderam todas as guerras em que se
envolveram nos anos 50", disse
Maria Celina.
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