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DAVOS
Presidente será o primeiro governante a participar, no mesmo ano, do evento na Europa e do Fórum em Porto Alegre
Lula chegará à Suíça em dia de protestos
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva desembarca em Davos,
nos Alpes suíços, exatamente no
mesmo sábado, 25, para o qual está programada a já habitual manifestação de protesto contra o encontro anual do Fórum Econômico Mundial.
Mas, desta vez, Lula estará do lado de dentro da barricada que
protege governantes, acadêmicos
e empresários que formam a
clientela básica dos encontros
anuais que o Fórum promove todo mês de janeiro faz 33 anos.
Será o primeiro governante a
participar, no mesmo ano, do encontro na Suíça, tido como a reunião dos ricos, e do Fórum Social
Mundial em Porto Alegre, criado
como contraposição a Davos.
Antes de Lula, apenas um dirigente de organização internacional participou das duas reuniões:
o chileno Juan Somavía, diretor-geral da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Somavía usou argumento muito parecido ao que a assessoria de
Lula esgrime agora para rebater
as críticas à sua presença em Davos: "É preciso levar a mensagem
de Porto Alegre a Davos, para que
o povo de Davos entenda que é
preciso mudar e o povo de Porto
Alegre entenda que é preciso sentar-se para discutir com os outros
que mudanças podem ser feitas".
Paradoxo
Esse mesmo argumento foi usado por Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Internacional
e veterano de Davos, para convencer Lula a comparecer ao encontro na Suíça: "O senhor é o
único que pode fazer a ponte entre Porto Alegre e Davos", disse o
ministro ao presidente.
Na perspectiva de quem vê de
fora, essa ponte é definida como
"genial iniciativa" pelo embaixador da Alemanha no Brasil, Uwe
Kaestner. "Genial" porque, acha o
embaixador, Davos inclui na sua
agenda os temas sociais que são o
forte da retórica do PT e de Lula.
De todo modo, o paradoxo de
um homem com raízes fincadas
em Porto Alegre comparecer a
Davos aumenta quando se sabe
que a representação brasileira na
cidade suíça foi sempre esquálida.
Depõe, por exemplo, o empresário Roberto Teixeira da Costa,
um dos executivos brasileiros de
maior quilometragem em eventos
internacionais:
"Percebe-se em Davos e em outros importantes foros internacionais a que tenho comparecido,
que não somos muitos. Busco explicações e as encontro na nossa
timidez, domínio modesto de línguas estrangeiras, complexo de
inferioridade e baixa vocação internacional."
O governo Lula rompe o molde:
além do presidente, a comitiva
brasileira incluirá cinco ministros, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a prefeita
de São Paulo, Marta Suplicy, o senador Aloizio Mercadante (SP), o
assessor internacional de Lula,
Marco Aurélio Garcia, o porta-voz André Singer e o assessor de
imprensa Ricardo Kotscho.
De muito longe, a maior delegação que o governo brasileiro jamais mandou ao convescote suíço nesses 33 anos.
Quando foi a Davos, em 1998, o
presidente Fernando Henrique
Cardoso não levou um único ministro da área econômica.
"Carnegie Hall"
Lula usará a tribuna de Davos
para dar a sua mensagem ao
mundo, na avaliação obtida pela
Folha.
Não será muito diferente do discurso que fez na posse, mas, conforme ouviu a Folha, "se você quiser ser ouvido pelo mundo, não
basta tocar no bar da moda do
bairro; é preciso estar no Carnegie
Hall", alusão a uma das salas de
espetáculos mais notórias do planeta, situada em Nova York.
Davos é um pouco o Carnegie
Hall do mundo empresarial, governamental e acadêmico, pelo
menos nos seis dias de janeiro em
que se desenvolve o Fórum.
Lula chega sábado, o dia do protesto, e à noite participa de um
jantar com representantes ibero-americanos, entre os quais os presidentes Álvaro Uribe (Colômbia), Gonzalo Sánchez de Lozada
(Bolívia) e Vicente Fox (México).
Língua predominante
No domingo, será o dia do discurso formal, embora o formato
preveja mais uma espécie de sabatina conduzida em espanhol por
José María Figueres, ex-presidente da Costa Rica (social-democrata) e hoje diretor do Fórum.
Já é uma cortesia ao presidente
brasileiro, porque a língua predominante em Davos é, de longe, o
inglês. Será, claro, uma sabatina
amigável. Um dos temas que Figueres levantará será o Fome Zero, o programa social que é a menina dos olhos do brasileiro.
Mas a mensagem básica de Lula, de acordo com a programação
do encontro de Davos e as informações de seus assessores, será
sobre "governança global".
Lula falará sobre a necessidade
de mudanças na ordem mundial,
"mas sem um viés ideológico",
antecipa Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência. Enfocará
muito mais os interesses concretos dos países.
Não se trata, sempre segundo
Dulci, de fazer uma denúncia dos
formidáveis desequilíbrios da globalização, mas de "afirmar uma
perspectiva de um país que tem
peso para ser ouvido internacionalmente".
Conceitos à parte, Lula repetirá
o apelo que fez nos Estados Unidos, ainda antes de assumir, pela
retomada dos investimentos no
Brasil. O público-alvo não poderia ser melhor: entre 800 e mil executivos das principais multinacionais, incluindo os principais bancos do planeta.
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