São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

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DANÇA DOS MINISTROS

Moderados querem manter o petista na Previdência

PT tenta salvar Berzoini; reforma deve sair até 4ª

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Numa articulação de última hora, petistas da ala moderada do partido e membros do governo tentam manter Ricardo Berzoini na Previdência na reforma ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará nesta semana. É uma operação difícil -a vaga de Berzoini está na negociação para dar ao PMDB duas pastas.
Depois de refletir no final de semana, em São Bernardo do Campo, Lula dedicará a agenda de hoje e de amanhã aos ministros que sairão e aos candidatos ao primeiro escalão. A decisão final deve sair até amanhã ou quarta-feira.
Apesar de Berzoini ter cometido um erro político grave (obrigar idosos acima de 90 anos a se recadastrar no fim de 2003 para combater fraudes no INSS), ele é avaliado pelo governo como um dos ministros mais eficientes.
Coordenou a reforma da Previdência, mais impopular que a tributária, desgastando-se com os servidores. Sua saída poderia levar a área a ter problemas gerenciais na hora da implementação das mudanças na seguridade.
Ou seja, Lula puniria um ministro que apresenta resultados. O próprio Lula, no ano passado, disse que Berzoini perdera um "pênalti", mas que fazia bom trabalho e ficaria com ele nos seus quatro anos de mandato.
A Folha apurou que também pesam contra Berzoini choques nos bastidores com dois ministros poderosos do "núcleo duro", José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Dirigentes do PT e do governo ouviram de empresários e de investidores financeiros que a saída de Berzoini seria um mau sinal fiscal. A implementação de uma reforma estratégica para equilibrar as contas públicas e garantir aposentadoria aos trabalhadores no futuro poderia ser perdida devido a uma operação fisiológica.
O principal motivo da reforma ministerial é abrigar o PMDB no governo em troca de apoio congressual e de alianças com o PT nas eleições de 2004 e de 2006. A segunda razão é melhorar o gerenciamento do governo.
Olívio Dutra (Cidades), cujo desempenho não é bem avaliado, salvou-se porque o PT e seus prefeitos não querem perder o controle de verbas em ano eleitoral.
Das poucas decisões que Lula já tomou, uma é a escolha do líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira (CE), para as Comunicações. Mas a segunda pasta está indefinida. Apesar de a Previdência ainda ser a mais provável, Lula analisa a opção Transportes.
Se cogitou dar Integração Nacional, poderia oferecer Transportes. No governo FHC, houve acusação de irregularidades contra peemedebistas nas duas pastas. Além disso, serviria como desculpa para tirar o ministro Anderson Adauto (PL), bancado pelo vice-presidente José Alencar.
O governo vê Adauto como fraco executivo. Empresários do setor se queixaram de sua capacidade operacional, e a pasta ficou grande para o PL, que perdeu peso em 2003 na comparação com o aliado PTB, por exemplo.
A ida de Berzoini para o superministério social é defendida por setores do PT caso seja inevitável dar a Previdência ao PMDB. Mas o desgaste com aposentados e com Dirceu e Palocci dificulta a "promoção". Outros três petistas têm chances de ocupar o superministério: o senador Aloizio Mercadante (SP), o ministro Tarso Genro (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e o deputado Patrus Ananias (MG).
Favorito a ministro na bancada de senadores do PMDB durante bom período, Garibaldi Alves (RN) é ameaçado por Maguito Vilela (GO), aliado de Lula desde o governo FHC e que seria premiado pela fidelidade.
Mas o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que tem boa relação com Lula, é contra porque não quer fortalecer o grupo de Maguito. Garibaldi tem a favor o perfil conciliador, mas apoiou o tucano José Serra em 2002. Seus aliados defendem a nomeação como aceno à ala que ficou com Serra para agregar mais apoio no PMDB.


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