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CAMPO MINADO
Pesquisa da Unesp revela que movimento, que faz 20 anos amanhã, está presente em 45% dos assentamentos
MST lidera quase metade dos sem-terra
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
Sem existir juridicamente, mas
monopolizando as atenções dos
governos quando o assunto é reforma agrária, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) completa 20 anos amanhã
com seus militantes controlando
pouco menos da metade dos assentamentos de todo o país.
Segundo pesquisa feita pela
Unesp (Universidade Estadual
Paulista), em 5.223 assentamentos em 20 Estados, em 45%
(2.350) há famílias de trabalhadores rurais que participam ao menos de um setor de atividade do
MST, como produção, saúde,
educação, cultura e ambiente.
Os 2.873 assentamentos restantes são divididos entre dezenas de
outros movimentos sociais e sindicais, com destaque para a Contag (Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura) e
suas federações estaduais, que, segundo o coordenador da pesquisa, o geógrafo Bernardo Mançano
Fernandes, agrupam 30% dos
projetos desvinculados ao MST.
O maior índice de vinculação ao
MST, segundo o Dataluta (banco
de dados da luta pela terra da
Unesp), está no Rio Grande do
Sul. Lá, dos 294 assentamentos, só
3 não têm ligação com o MST.
Foi no Rio Grande do Sul que,
em setembro de 1979, ocorreu a
invasão que deu origem à fase de
"gestação" do movimento. O
MST seria criado seis anos depois,
entre os dias 20 e 22 de janeiro de
1984, em Cascavel (PR), num encontro que reuniu sem-terra de 12
Estados (RS, SC, PR, SP, MS, ES,
BA, PA, GO, RO, AC e RR).
Na região Sul, 94% dos 966 assentamentos pesquisados têm o
MST como base. Na seqüência
vêm Sudeste (49,25%, de 571),
Nordeste (40,37%, de 2.365), Norte (21,5%, de 582) e Centro-Oeste
(17%, de 739). Após o RS, o ranking dos Estados tem SC (95%),
PR (90%), ES (80%) e SP (62%).
Os pesquisadores da Unesp não
colheram dados no Distrito Federal e em outros seis Estados (AC,
AM, RR, TO, AP e BA). Além dos
5.223 assentamentos pesquisados, existem outros 893 no país.
Estados que lideram, respectivamente, o número de famílias
acampadas e de mortes causadas
por conflitos agrários, Pernambuco e Pará têm, nesta ordem, 56% e
17% de seus assentamentos (305 e
456) vinculados ao MST.
Influência política
Mesmo representando quase
metade das famílias assentadas
no país, o MST, sobretudo a partir
do governo Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002), protagonizou uma série de crises políticas.
O primeiro fato marcante ocorreu em 1996, quando 19 sem-terra
ligados ao MST foram mortos a tiros por policiais militares durante
a desobstrução de uma estrada
em Eldorado do Carajás (PA). O
massacre teve repercussão negativa para o Palácio do Planalto tanto no Brasil como no exterior.
No ano seguinte, uma marcha
do movimento levou cerca de 50
mil sem-terra a Brasília. Líderes
petistas receberam os trabalhadores rurais na Esplanada dos Ministérios e juntos cobraram do
governo FHC mais investimentos
na política de reforma agrária.
No segundo mandato, em razão
do crescimento do número de invasões, FHC editou, em maio de
2000, uma medida provisória que
freou as ações do MST. A MP,
mantida pela gestão Lula, proíbe
por dois anos vistorias em áreas
invadidas e exclui da reforma
agrária os sem-terra que participam de tais ações. O movimento
recuou, as invasões diminuíram.
Mesmo assim, dois anos depois,
uma única invasão chamaria a
atenção do país. Em março de
2002, cerca de 500 integrantes do
MST invadiram, no interior de
Minas Gerais, uma fazenda de familiares de FHC. Às vésperas da
eleição, o ato causou uma crise
política, com o PSDB acusando o
PT de conivência, e os petistas
condenando publicamente a invasão, com medo de que o fato
respingasse na candidatura Lula.
Eleito com o apoio do MST, Lula passou a receber críticas do movimento no primeiro mês de governo. O MST, aliás, seria mais
tarde o centro de uma crise entre
o governo e a oposição. Em julho,
em audiência com o MST, Lula
colocou o boné do movimento, o
que foi encarado pelo PFL como
um incentivo à violência no campo. A crise do boné rendeu a instalação da CPI da Terra no Congresso, que começa em fevereiro.
Outra polêmica surgiu quando
João Pedro Stedile classificou os
sem-terra de "um exército de 23
milhões de pessoas" que não podem "dormir enquanto não acabarem com eles [latifundiários]".
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