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PONTOS DE VISTA
"O MST está numa situação muito boa"
DA AGÊNCIA FOLHA
Ao admitir que o MST se tornou "mais político e social" e
"menos corporativo e camponês"
ao longo dos últimos 20 anos, o
economista gaúcho e principal líder dos sem-terra, João Pedro Stedile, 50, insinua a participação do
movimento no governo federal.
"Nos orgulhamos de ter entre
nossos militantes muitos companheiros que hoje são ministros,
prefeitos, deputados", disse, em
entrevista por e-mail à Agência
Folha. Ele não citou os nomes dos
supostos simpatizantes ou dirigentes do MST que integram cargos no Executivo e no Legislativo.
Leia a seguir trechos da entrevista que foi concedida à Agência
Folha.
(EDS)
Agência Folha - Quando realizaram o primeiro encontro nacional,
em 1984, tinham a idéia de que o
movimento chegaria aos 20 anos?
João Pedro Stedile - Quando realizamos o primeiro encontro nacional, nem um nome havia. Era
apenas um encontro, para tentar
dar unidade nacional a um processo de lutas localizadas e estaduais dos movimentos camponeses. A importância do encontro é
que ele conseguiu mostrar que tínhamos que criar um movimento
nacional, com objetivos unificados, com plataforma única. E que
fosse autônomo das igrejas, dos
partidos, do governo e do Estado.
Agência Folha - Entre os objetivos
gerais do MST, sempre esteve o
combate ao capitalismo como uma
forma de enaltecer os valores socialistas. Daí que talvez venha a
idéia de alguns de que o MST não
quer terra, e sim a revolução. Como
vocês lidam com isso?
Stedile - Nossa base doutrinária
não é sectária nem dogmática.
Nós nunca nos expressamos contra o capitalismo porque alguém
nos deu uma aula de que o capitalismo é perverso. O movimento
sempre se expressou contra a exploração do trabalho dos camponeses. E debatemos a idéia de que
a reforma agrária pode ser uma
forma de eliminar a exploração.
Agência Folha - Especialistas na
questão agrária dizem que o MST
está hoje numa situação muito delicada, talvez a mais problemática
de sua história. Isso porque, em
pleno governo Lula, está sendo
obrigado a recuar, não tendo força
para ser oposição...
Stedile - Ao contrário. O MST
está numa situação muito boa,
acho que a melhor em todos os
seus 20 anos. Por quê? Porque
existe uma consciência maior na
sociedade da necessidade de se
eliminar o latifúndio como combate à pobreza e ao desemprego.
Porque já temos muita experiência e capacidade organizativa. [...]
Nunca na história do Brasil tivemos tantas famílias de pobres do
campo mobilizadas como agora.
Já somos quase 200 mil famílias.
Agência Folha - Quais foram as
conquistas dos trabalhadores rurais sem terra nos últimos 20 anos
que o sr. destaca por causa do MST?
Stedile - Construir um movimento social organizado, autônomo, com a capacidade que tem o
MST, em nível nacional, por si só
é uma conquista enorme para a
classe trabalhadora brasileira.
Mas evoluímos também nesses
20 anos ao compreendermos que
a solução para a pobreza e para a
desigualdade social que existem
no meio rural não é apenas a distribuição de terras.
Precisamos democratizar o capital, organizando as agroindústrias de forma cooperativada nas
mãos dos agricultores. Precisamos democratizar a educação como uma forma de levar a cidadania para a população do campo.
O MST se transformou mais social, mais político e menos corporativo, menos camponês não porque planejamos. Porque a sociedade moderna é assim.
Nos orgulhamos de ter entre
nossos militantes muitos companheiros que hoje são ministros,
prefeitos, deputados. Mas também nos orgulhamos de ter mais
de 80 militantes em mestrado e
doutorado, e centenas estudando
nas universidades, alguns no exterior. É isso que preocupa as elites, elas sim, cada vez mais ignorantes, estúpidas e colonizadas.
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