São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PAGAMENTO SUSPEITO

Parlamentares terão acesso a dados de Paulo Okamotto; compadre do presidente é convocado

CPI quebra sigilo de amigo que pagou dívida de Lula

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

A CPI dos Bingos quebrou ontem os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Paulo Okamotto, presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e amigo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em outra decisão, reconvocou para prestar depoimento o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula.
Okamotto é investigado pela CPI por ter pago, entre dezembro de 2003 e março de 2004, uma dívida de R$ 29.436,26 do presidente Lula com o PT, como revelou a Folha em agosto passado.
Tesoureiro da campanha de Lula ao Planalto em 1989, Okamotto depôs na CPI dos Bingos em novembro passado, mas não explicou com quais recursos quitou o débito do presidente. Os senadores da CPI suspeitam que a dívida pode ter sido quitada com recursos de caixa dois do esquema de Marcos Valério de Souza e apuram uso indevido de dinheiro público, do fundo partidário.
"Essa quebra de sigilo foi feita para saber se a dívida do Lula foi paga dentro do caixa dois", disse Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), relator da CPI.
A quebra de sigilo é uma grande derrota governista na CPI, controlada pela oposição e que investiga casos como a morte do prefeito petista Celso Daniel, de Santo André, e supostas irregularidades na gestão de Antonio Palocci (Fazenda) em Ribeirão Preto.
Anteontem, Okamotto tornou-se suspeito na CPI também de operar caixa dois em prefeituras petistas desde 1993, com o conhecimento de Lula. Essa acusação partiu do economista e ex-militante do PT Paulo de Tarso Venceslau, durante depoimento à CPI, e levou o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) a pedir a quebra de sigilos. Segundo o ex-militante petista, Okamotto pegava listas de empresas fornecedoras de prefeituras petistas para arrecadar dinheiro destinado ao caixa dois.

Compadre
Já Teixeira era, segundo Venceslau, o operador da empresa Cpem, supostamente beneficiada na Prefeitura de São José dos Campos (SP) para dar dinheiro à campanha de Lula, em 1994.
Teixeira, que na década de 80 emprestou uma casa para Lula morar em São Bernardo do Campo (SP), passou ontem por uma cirurgia cardíaca no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O hospital não divulgou informações sobre seu estado de saúde.
A CPI já havia aprovado a convocação de Teixeira em novembro, com apenas quatro senadores na sala. Ontem, houve nova votação e aprovação unânime.
Venceslau entregou à CPI cópia de relatório de sindicância feita pelo PT em 97 sobre o caso Okamotto. No ano seguinte, foi expulso, apesar de, no relatório, o atual líder do governo Arlindo Chinaglia (PT-SP) admitir que havia "comentários" sobre caixa dois e de Okamotto falar sobre seu trânsito em administrações petistas.
A deputada Angela Guadagnin (PT-SP), prefeita de São José dos Campos em 93, confirmou que Okamotto a procurou atrás de uma lista de empresas fornecedoras, mas não foi atendido.
Okamotto, segundo sua assessoria, não comentou as acusações e a quebra de sigilo. Teixeira sempre negou as acusações. O Planalto não se manifestou.
A quebra dos sigilos de Okamotto foi aprovada por 11 a 2. Votaram contra os senadores Tião Viana (PT-AC) e Wellington Salgado de Oliveira (PMDB-MG). Eduardo Suplicy (PT-SP) votou a favor. "Essa denúncia tem 12 anos e aparece de novo nas vésperas da eleição", disse Viana, para quem a CPI virou palanque eleitoral.
O comando da CPI nega uso eleitoral do caso Okamotto. "Não há intenção nenhuma de atacar o PT. Nós queremos a verdade", disse o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB).


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