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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PAGAMENTO SUSPEITO
Parlamentares terão acesso a dados de Paulo Okamotto; compadre do presidente é convocado
CPI quebra sigilo de amigo que pagou dívida de Lula
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
A CPI dos Bingos quebrou ontem os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Paulo Okamotto, presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e amigo de Luiz
Inácio Lula da Silva. Em outra decisão, reconvocou para prestar
depoimento o advogado Roberto
Teixeira, compadre de Lula.
Okamotto é investigado pela
CPI por ter pago, entre dezembro
de 2003 e março de 2004, uma dívida de R$ 29.436,26 do presidente Lula com o PT, como revelou a
Folha em agosto passado.
Tesoureiro da campanha de Lula ao Planalto em 1989, Okamotto
depôs na CPI dos Bingos em novembro passado, mas não explicou com quais recursos quitou o
débito do presidente. Os senadores da CPI suspeitam que a dívida
pode ter sido quitada com recursos de caixa dois do esquema de
Marcos Valério de Souza e apuram uso indevido de dinheiro público, do fundo partidário.
"Essa quebra de sigilo foi feita
para saber se a dívida do Lula foi
paga dentro do caixa dois", disse
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), relator da CPI.
A quebra de sigilo é uma grande
derrota governista na CPI, controlada pela oposição e que investiga casos como a morte do prefeito petista Celso Daniel, de Santo
André, e supostas irregularidades
na gestão de Antonio Palocci (Fazenda) em Ribeirão Preto.
Anteontem, Okamotto tornou-se suspeito na CPI também de
operar caixa dois em prefeituras
petistas desde 1993, com o conhecimento de Lula. Essa acusação
partiu do economista e ex-militante do PT Paulo de Tarso Venceslau, durante depoimento à
CPI, e levou o senador Antero
Paes de Barros (PSDB-MT) a pedir a quebra de sigilos. Segundo o
ex-militante petista, Okamotto
pegava listas de empresas fornecedoras de prefeituras petistas para arrecadar dinheiro destinado
ao caixa dois.
Compadre
Já Teixeira era, segundo Venceslau, o operador da empresa
Cpem, supostamente beneficiada
na Prefeitura de São José dos
Campos (SP) para dar dinheiro à
campanha de Lula, em 1994.
Teixeira, que na década de 80
emprestou uma casa para Lula
morar em São Bernardo do Campo (SP), passou ontem por uma
cirurgia cardíaca no hospital Sírio
Libanês, em São Paulo. O hospital
não divulgou informações sobre
seu estado de saúde.
A CPI já havia aprovado a convocação de Teixeira em novembro, com apenas quatro senadores na sala. Ontem, houve nova
votação e aprovação unânime.
Venceslau entregou à CPI cópia
de relatório de sindicância feita
pelo PT em 97 sobre o caso Okamotto. No ano seguinte, foi expulso, apesar de, no relatório, o atual
líder do governo Arlindo Chinaglia (PT-SP) admitir que havia
"comentários" sobre caixa dois e
de Okamotto falar sobre seu trânsito em administrações petistas.
A deputada Angela Guadagnin
(PT-SP), prefeita de São José dos
Campos em 93, confirmou que
Okamotto a procurou atrás de
uma lista de empresas fornecedoras, mas não foi atendido.
Okamotto, segundo sua assessoria, não comentou as acusações
e a quebra de sigilo. Teixeira sempre negou as acusações. O Planalto não se manifestou.
A quebra dos sigilos de Okamotto foi aprovada por 11 a 2. Votaram contra os senadores Tião
Viana (PT-AC) e Wellington Salgado de Oliveira (PMDB-MG).
Eduardo Suplicy (PT-SP) votou a
favor. "Essa denúncia tem 12 anos
e aparece de novo nas vésperas da
eleição", disse Viana, para quem a
CPI virou palanque eleitoral.
O comando da CPI nega uso
eleitoral do caso Okamotto. "Não
há intenção nenhuma de atacar o
PT. Nós queremos a verdade",
disse o presidente da comissão,
senador Efraim Morais (PFL-PB).
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