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Caixa-preta da Infraero faz governo temer CPI do Apagão
Com contratos suspeitos, estatal seria alvo em comissão que depende de decisão do STF
Suspeitas nas obras em
Congonhas levaram Justiça
a determinar a quebra de
sigilos de ex-presidente e
de duas altas funcionárias
IURI DANTAS
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A quebra dos sigilos bancário
e fiscal do ex-presidente e de
duas altas funcionárias da Infraero (Empresa Brasileira de
Infra-Estrutura Aeroportuária), determinada pela Justiça,
ajuda a explicar o temor do governo em transformar a estatal
em alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.
A investigação feita pelo Ministério Público a partir de relatórios de auditoria do TCU
(Tribunal de Contas da União)
poderá dar fôlego aos trabalhos
da eventual CPI do Apagão Aéreo, que a oposição tenta instalar e o governo quer evitar.
Com base em suspeita de irregularidades nas obras do aeroporto de Congonhas, a Justiça Federal de São Paulo determinou em 25 de outubro passado a quebra dos sigilos bancário
e fiscal do deputado Carlos Wilson (PT-PE), ex-presidente da
estatal e amigo de Lula.
A atual diretora de Engenharia, Eleuza Therezinha Manzoni dos Santos, e a procuradora
jurídica da estatal, Josefina Valle de Oliveira Pinha, também
tiveram os sigilos quebrados.
Dois engenheiros completam a
lista de pessoas investigadas.
À exceção de Wilson, que disputou a eleição no ano passado,
os demais permanecem nos
cargos, sob a chancela do ministro Waldir Pires (Defesa).
O juiz-substituto da 21ª Vara
Federal, Danilo Almasi, acatou
parcialmente pedido do Ministério Público Federal com base
em relatórios do TCU. Ele negou temporariamente o bloqueio de bens dos envolvidos.
Em seu pedido, os procuradores listaram 12 irregularidades na reforma de Congonhas.
Investigam-se os supostos superfaturamento de mais de R$
16 milhões e o direcionamento
da licitação, numa violação da
Lei de Licitações. Os envolvidos negam irregularidades.
O Planalto teme a CPI por
dois outros motivos. Primeiro,
CPIs sempre podem sair de
controle. Segundo, quer evitar
eventual exposição do advogado Roberto Teixeira, compadre
de Lula que trabalha para empresas do setor aéreo.
O orçamento de investimentos da Infraero chama a atenção desde o início do governo.
Os gastos, que não chegavam a
R$ 400 milhões por ano, beiraram os R$ 900 milhões no ano
da reeleição de Lula.
As obras são tantas e tão caras que o TCU resolveu concentrar as auditorias, no ano
passado, a contratos superiores
a R$ 250 milhões. No mais caro
dos contratos investigados, o
tribunal reduziu em mais de R$
100 milhões o custo de edital
para a construção do terceiro
terminal de passageiros do aeroporto de Guarulhos.
A Infraero diz que não teve
de parar nenhuma obra em decorrência das auditorias do
TCU. A decisão mais grave do
tribunal entre as obras em andamento levou ao bloqueio dos
pagamentos ao consórcio Camargo Corrêa, Mendes Júnior
e Estacon pelas obras de expansão do aeroporto de Vitória.
Nos relatórios de auditoria
do tribunal, há um padrão de irregularidades que se repete. O
TCU enxerga restrições impostas ao processo de licitação das
obras. "São tantas que inviabilizam qualquer tentativa de disputa de preços entre as licitantes", diz o relatório sobre o aeroporto de Macapá, no Amapá.
Problemas em contratos da
Infraero não são exclusividade
da gestão Lula. No governo
Fernando Henrique Cardoso, a
construtora OAS teve bloqueados bens no valor de R$ 30 milhões por supostas irregularidades na construção do aeroporto de Salvador. As obras foram suspensas por um ano.
A criação de uma CPI para
investigar o apagão aéreo está
nas mãos do ministro Celso de
Mello, do Supremo Tribunal
Federal. A oposição recorreu à
Justiça após uma manobra da
base governista ter impedido a
instalação da comissão.
Para mostrar, em eventual
CPI, que não teria cruzado os
braços, a Infraero reuniu dados
da auditoria interna. O documento aponta 92 problemas,
segundo a Folha apurou, com o
envolvimento de 40 pessoas.
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