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ELEIÇÕES 2004
Divulgação de contribuições de campanha na internet poderia constranger doadores, alegou Delúbio Soares
Tesoureiro pressiona, e PT não expõe contas
DA REPORTAGEM LOCAL
O tesoureiro nacional do PT,
Delúbio Soares, vetou ontem, na
reunião do Diretório Nacional do
partido, a proposta de prestação
de contas on-line dos candidatos
petistas a prefeito e vereador. Alegou que a prática causaria "mal-estar aos doadores".
A proposta, que previa a divulgação a cada 15 dias das doações e
dos gastos de campanha, havia sido apresentada ontem pelo deputado federal Chico Alencar (RJ)
como uma emenda à resolução
sobre financiamento eleitoral.
A idéia tinha, até então, a simpatia da cúpula do PT. Serviria, diziam os petistas, na esteira do caso
Waldomiro Diniz, como uma
tentativa de evitar a eclosão de novos escândalos no partido.
Para derrubar a proposta, Delúbio argumentou que os financiadores das campanhas poderiam
ficar constrangidos em doar valores distintos aos candidatos.
"Se um empresário doar R$ 10
mil para o Chico [Alencar] e R$ 15
mil para o [José] Genoino, por
exemplo, vai criar um mal-estar
se isso se tornar público pela internet", disse o tesoureiro, segundo relatos de petistas.
Delúbio faz parte do Campo
Majoritário, que detém o controle
do partido e do qual participam,
entre outros, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e
a prefeita Marta Suplicy.
O deputado federal Chico Alencar considerou "fraco" o argumento de Delúbio. "Perdemos
uma ótima oportunidade para fazer com que o PT agisse de forma
pioneira e vanguardista nessa
questão da prestação de contas."
Como alternativa, o partido decidiu que a bancada de parlamentares deverá apresentar um projeto de lei tornando obrigatória a
prestação de contas on-line para
todos os partidos, e não apenas
para o PT. O presidente do PT, José Genoino, afirmou que "o princípio que o partido defende é que
a Justiça Eleitoral defina [uma regra]. Tem de valer para todos".
"O PT continua na vanguarda
da defesa da luta pela ética na política. Não temos o patrimônio exclusivo, mas travamos essa luta."
Após a reunião, Genoino foi
questionado pelos jornalistas se a
decisão de não disponibilizar os
dados refletia um receio do PT de
que adversários pudessem utilizá-los para atacar os candidatos petistas. "O PT não teme nada. Em
matéria de ética, está à vontade,
com toda a transparência para
discutir sua história, suas campanhas e prestar contas na hora que
for necessário", respondeu.
Bingos
Na reunião, o PT decidiu que os
candidatos do partido estarão
proibidos de receber doações de
pessoas ou empresas envolvidas
com jogos de azar, jogo do bicho,
bingos e assemelhados, "ou que
mantenha qualquer outra atividade ilícita ou comércio ilegal".
Quem infringir a regra, pelo texto,
ficará sujeito a "punições disciplinares". O partido estabeleceu
também um teto para as doações:
10% dos rendimentos brutos de
pessoa física e de 2% do faturamento no caso de pessoa jurídica.
A decisão é uma resposta à crise
provocada pelo caso Waldomiro,
então assessor do Planalto, que foi
flagrado em gravação de 2002 pedindo propina e contribuição para campanhas políticas. Por causa
da denúncia, o governo Lula proibiu o funcionamento dos bingos .
O PT também vetou doações de
concessionários ou permissionários de serviços públicos. Na última eleição municipal, os maiores
financiadores da campanha de
Marta foram empreiteiras de lixo
que mantém contratos públicos.
Mudança na burocracia
Marcelo Sereno assumiu a Secretaria de Comunicação do PT.
Por conta disso, deixou a assessoria de José Dirceu na Casa Civil.
Em razão da eleição, Marta pediu licença, por 180 dias (entre 15
de maio e 15 de novembro) da primeira vice-presidência. Mônica
Valente, mulher de Delúbio, assumirá. A Secretaria Geral do PT será ocupada por Sílvio Pereira, em
lugar do deputado federal Jorge
Bittar (RJ), em licença para disputar a eleição no Rio de Janeiro. Pereira é ligado a Dirceu.
(CHICO DE GOIS E JULIA DUAILIBI)
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