São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

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IGREJA CATÓLICA

Para secretário, governo privilegia o capital

Política econômica com juros altos privilegia o capital, diz CNBB

GUILHERME BAHIA
DA REDAÇÃO

Há um ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi à 41ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e recebeu declarações de apoio. Era a primeira vez que um presidente ia ao encontro da entidade. Às vésperas da 42ª assembléia, que começa depois de amanhã, o tom mudou.
Dom Geraldo Majella Agnelo, presidente da conferência, afirmou há dez dias que "o Brasil não pode mais esperar pela reforma agrária" e que o programa Fome Zero "ainda não deu aquilo que se esperava dele".
Em entrevista à Folha, dom Odilo Pedro Scherer, secretário-geral da CNBB, também fez críticas ao governo. Disse que a política econômica privilegia o capital e que Lula não deverá cumprir a promessa de dobrar o poder de compra do salário mínimo.
A seguir, leia trechos da entrevista, concedida por e-mail na semana passada.
 

Folha - Há um ano, Lula foi à assembléia da CNBB e os bispos manifestaram apoio ao seu governo. Esse apoio ainda permanece?
D. Odilo Pedro Scherer -
A CNBB ainda deseja que Lula faça um bom governo, para o bem de todos os brasileiros e para corresponder aos anseios da população necessitada de trabalho, saúde, educação, segurança e justiça social. Ainda desejamos que o governo acerte e o que Brasil seja mais feliz.

Folha - Na assembléia de 2003, o sr. disse que ainda não se via claramente por onde iria a política econômica do governo. Hoje já se vê?
D. Odilo -
Creio que sim. As medidas da política econômica do governo têm sido voltadas para o controle da inflação, mantendo juros altos, mesmo que isso provoque desemprego e alegre o capital especulativo, em vez do sistema produtivo. O governo tem mantido fé aos compromissos com os credores externos, para não comprometer sua credibilidade internacional. Eu diria que essa política econômica está mais para a vantagem do capital, e menos para o trabalho. Já seria tempo de premiar o trabalho e o investimento produtivo.

Folha - A "Análise de Conjuntura" de fevereiro, que a CNBB disponibiliza em sua página na internet, afirma que o apoio do PMDB ao governo só ajuda a manter a atual política econômica. O sr. concorda?
D. Odilo -
Creio que a análise foi acertada. É o preço da necessidade de assegurar uma base de apoio ao governo no Congresso, o preço da governabilidade.

Folha - Mas o PMDB não vem atacando a política econômica?
D. Odilo -
Pode haver crítica a algum aspecto específico, mas não vejo uma desaprovação do PMDB à política econômica do governo.

Folha - O sr. acha que Lula cumprirá a promessa de dobrar o poder de compra do salário mínimo até o final do mandato?
D. Odilo -
Tenho a certeza de que o presidente desejaria que assim acontecesse, mas tudo leva a crer que a meta dificilmente será atingida. É uma pena.

Folha - Como o sr. vê as últimas ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), inclusive invasões de fazendas produtivas?
D. Odilo -
A causa defendida, certamente, é justa. Mas os métodos nem sempre são acertados, sobretudo quando se pratica a invasão de áreas produtivas.


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