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IGREJA CATÓLICA
Para secretário, governo privilegia o capital
Política econômica com juros altos privilegia o capital, diz CNBB
GUILHERME BAHIA
DA REDAÇÃO
Há um ano, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva foi à 41ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil) e recebeu declarações de
apoio. Era a primeira vez que um
presidente ia ao encontro da entidade. Às vésperas da 42ª assembléia, que começa depois de amanhã, o tom mudou.
Dom Geraldo Majella Agnelo,
presidente da conferência, afirmou há dez dias que "o Brasil não
pode mais esperar pela reforma
agrária" e que o programa Fome
Zero "ainda não deu aquilo que se
esperava dele".
Em entrevista à Folha, dom
Odilo Pedro Scherer, secretário-geral da CNBB, também fez críticas ao governo. Disse que a política econômica privilegia o capital e
que Lula não deverá cumprir a
promessa de dobrar o poder de
compra do salário mínimo.
A seguir, leia trechos da entrevista, concedida por e-mail na semana passada.
Folha - Há um ano, Lula foi à assembléia da CNBB e os bispos manifestaram apoio ao seu governo.
Esse apoio ainda permanece?
D. Odilo Pedro Scherer - A CNBB
ainda deseja que Lula faça um
bom governo, para o bem de todos os brasileiros e para corresponder aos anseios da população
necessitada de trabalho, saúde,
educação, segurança e justiça social. Ainda desejamos que o governo acerte e o que Brasil seja
mais feliz.
Folha - Na assembléia de 2003, o
sr. disse que ainda não se via claramente por onde iria a política econômica do governo. Hoje já se vê?
D. Odilo - Creio que sim. As medidas da política econômica do
governo têm sido voltadas para o
controle da inflação, mantendo
juros altos, mesmo que isso provoque desemprego e alegre o capital especulativo, em vez do sistema produtivo. O governo tem
mantido fé aos compromissos
com os credores externos, para
não comprometer sua credibilidade internacional. Eu diria que
essa política econômica está mais
para a vantagem do capital, e menos para o trabalho. Já seria tempo de premiar o trabalho e o investimento produtivo.
Folha - A "Análise de Conjuntura"
de fevereiro, que a CNBB disponibiliza em sua página na internet,
afirma que o apoio do PMDB ao governo só ajuda a manter a atual política econômica. O sr. concorda?
D. Odilo - Creio que a análise foi
acertada. É o preço da necessidade de assegurar uma base de
apoio ao governo no Congresso, o
preço da governabilidade.
Folha - Mas o PMDB não vem atacando a política econômica?
D. Odilo - Pode haver crítica a algum aspecto específico, mas não
vejo uma desaprovação do PMDB
à política econômica do governo.
Folha - O sr. acha que Lula cumprirá a promessa de dobrar o poder
de compra do salário mínimo até o
final do mandato?
D. Odilo - Tenho a certeza de que
o presidente desejaria que assim
acontecesse, mas tudo leva a crer
que a meta dificilmente será atingida. É uma pena.
Folha - Como o sr. vê as últimas
ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), inclusive invasões de fazendas produtivas?
D. Odilo - A causa defendida, certamente, é justa. Mas os métodos
nem sempre são acertados, sobretudo quando se pratica a invasão
de áreas produtivas.
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