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BRASIL PROFUNDO
PF suspeita que índios obrigaram garimpeiros a caminhar e os amarraram; governo tenta pacificar área em RO
Mortes teriam ocorrido a 2 km do conflito
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PIMENTA BUENO (RO)
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal suspeita que os
últimos 26 garimpeiros encontrados mortos na terra indígena
Roosevelt, em Espigão D'Oeste
(534 km de Porto Velho), tenham
sido amarrados pelos índios cinta-larga e levados para um local a
2 km da área onde extraíam diamantes (ou a três horas e meia de
caminhada). Lá, de acordo com a
PF, foram assassinados.
Os 26 corpos foram achados na
sexta-feira pela Funai (Fundação
Nacional do Índio) e policiais florestais (da PM de Rondônia) que
fiscalizam a área indígena.
Ontem, três peritos da PF fizeram um levantamento das condições dos corpos e do local onde
ocorreu o crime. Eles chegaram
de helicóptero a uma clareira
aberta na mata perto do local onde foram achados os corpos.
Na volta, trouxeram lanças,
provavelmente retiradas dos corpos. O material foi levado para perícia a ser feita em Porto Velho.
Com a localização de mais 26
corpos, subiu para 29 o número
de mortos no conflito entre índios
cinta-larga e garimpeiros ocorrido no último dia 7, na área indígena. Hoje, os corpos devem seguir
para uma cidade vizinha à reserva, ainda não definida pela PF.
O delegado federal Mauro Sposito relatou, no final da tarde de
sábado, ao juiz Murilo Fernandes
de Almeida, da 2ª Vara Federal de
Porto Velho, uma hipótese sobre
como ocorreram os assassinatos:
1) cerca de 150 garimpeiros foram atacados pelos cinta-larga
onde extraíam diamantes; 2) no
local, os índios mataram três. Os
corpos deles foram os primeiros a
ser resgatados, no dia 11; 3) ao menos outros 26 garimpeiros foram
capturados. Amarrados, foram
levados a 2 km do local do ataque
e, horas depois, foram mortos; 4)
os últimos assassinatos ocorreram porque os garimpeiros se desamarraram e ameaçaram os índios mais jovens, que os vigiavam;
5) os mais velhos deixaram os
mais novos para perseguirem garimpeiros que fugiram pela mata;
Segundo o sindicato dos garimpeiros, ainda há 35 desaparecidos.
O juiz Almeida disse à Agência
Folha que provavelmente o massacre de garimpeiros será julgado
pela Justiça Federal em Rondônia.
Pacificação
O Ministério da Justiça está enviando policiais federais e servidores da Funai a Rondônia, numa
operação emergencial de pacificação e desarmamento para tentar
evitar um novo conflito.
A assessoria do ministério informou que alguns policiais já foram enviados na semana passada.
Outros poderão ser deslocados
nos próximos dias. Eles também
estão encarregados de ajudar na
localização de corpos.
Os policiais tentarão identificar
focos de mineração e convencer
os garimpeiros a deixar a área dos
cinta-larga, rica em diamantes. Os
funcionários da Funai irão atuar
diretamente com os índios.
Segundo a assessoria, já existem
conversas entre os ministérios da
Justiça e de Minas e Energia para
criar uma política de exploração
dos recursos do solo de terras indígenas. Essas áreas pertencem à
União e, por isso, somente ela poderia explorar os seus recursos
naturais. Entretanto, falta a regulamentação dessa atividade.
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