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PODER E VIOLÊNCIA
Cabo Camata tem sofrido cerco da polícia
"Prefeito-xerife" é
suspeito em mortes
XICO SÁ
enviado especial a Cariacica (ES)
Na dupla missão de prefeito e
"xerife" da maior cidade do Espírito Santo, Cariacica, na Grande
Vitória, Dejair Cabo Camata
(PFL), 40, sofre um cerco da cúpula da Polícia Civil do Estado.
Há oito dias, foi preso por conduzir armas contrabandeadas do
Paraguai e agora é posto sob a suspeita de ter apoiado grupos de extermínio que seriam responsáveis,
segundo a Secretaria de Segurança
Pública capixaba, pelo menos por
200 mortes na região.
O Cabo Camata, ex-policial militar, conhecido por expulsar pessoalmente "bandidos" da sua cidade, foi solto, após uma noite na
prisão, devido a um habeas-corpus do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
Emboscada
"Caí em uma emboscada política", disse o prefeito à Folha, na
noite de quinta-feira, em seu gabinete. "Um flagrante preparado,
que não vale nada perante a lei".
Na tarde de quarta-feira, Camata
fez um pronunciamento na tribuna da Assembléia Legislativa do
Estado, onde tem o apoio da direção da Casa, com ataques ao governador Vitor Buaiz (PV), a
quem culpa pela prisão.
"O caso é um assunto de polícia e
não de política", contra-atacou
Buaiz, ex-petista que disputou e
venceu Camata na eleição de 1994.
Exame de balística
As armas encontradas em poder
do Cabo Camata e com dois dos
seus seguranças serão submetidas,
ainda esta semana, a uma perícia
da Polícia Federal, em Brasília.
Por meio de um exame de balística, a Secretaria de Segurança do
Espírito Santo quer saber se as armas foram utilizadas nos crimes
ligados aos grupos de extermínio
da Grande Vitória.
Segundo o chefe da Polícia Civil,
Carlos Lucchi, há, entre o material
apreendido, uma escopeta calibre
12 com uma particularidade: o seu
número de série estava raspado,
impossibilitando que se saiba o
dono, procedência e se já foi utilizada em crimes.
Além da escopeta, o prefeito e os
seus dois seguranças foram presos
com três pistolas calibre 40 (de uso
limitado às Forças Armadas e de
venda proibida no Brasil) e um revólver calibre 38.
Grupo de elite
O Cabo Camata mantinha, até a
semana passada, um grupo, chamado de "elite" ou "inteligência",
composto por 22 homens.
A maioria desses seguranças era
ex-colega do prefeito na Polícia
Militar, corporação a qual pertenceu entre 1976 e 1987.
Ele suspendeu as atividades do
grupo depois da prisão. "O governador agora que cuide da segurança da cidade", disse. "Depois disso, o índice de criminalidade em
Cariacica já voltou a crescer."
O grupo dos 22 estava ligado diretamente ao gabinete do prefeito,
a quem cabia dar a "palavra final"
sobre as suas atividades.
Segundo o Cabo Camata, o grupo não se tratava de esquadrão da
morte, como suspeitavam setores
da cúpula da Secretaria da Segurança Pública. A equipe era responsável, segundo ele, por alertar
os "bandidos" a "cair fora" do seu
território.
Os que não deixam a cidade, pagam caro, relata o próprio "xerife": "Sempre disse que, entre um
trabalhador e um marginal, sempre ficaria com o trabalhador, não
importariam as consequências".
Na tarde da última quinta-feira,
a reportagem viu de perto o que
essas palavras significam.
O Cabo Camata, solicitado por
moradores do município, agiu
com rapidez.
Telefonou para policiais militares conhecidos e ordenou que fossem resolver o problema. Cedeu
dois carros da Prefeitura de Cariacica para o serviço. Os veículos foram guiados por seguranças do
prefeito.
"E que não morra nenhum policial", disse. Duas horas depois, o
próprio Cabo Camata narrava o
resultado: "Foram ao esconderijo
dos bandidos, prenderam dois e
mataram um. Por mim, matariam
os três".
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