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PODER E VIOLÊNCIA
Quem é considerado assaltante ou assassino por "prefeito-xerife' corre risco de vida se ficar na cidade
Prefeitura dá passagem a "bandidos"
do enviado especial
A Prefeitura de Cariacica (ES)
emite uma espécie de "passaporte
do crime". É um serviço criado pelo prefeito Dejacir Cabo Camata
que fornece passagem grátis para
que "bandidos" deixem imediatamente a cidade.
A Folha conheceu de perto o
funcionamento dessa atividade.
Quem é considerado bandido e fica no território do "prefeito-xerife" pode pagar com a própria vida.
"Mas isso não é grupo de extermínio", diz Camata.
Para o ex-cabo da Polícia Militar, trata-se de um esforço para levar a paz, a todo custo, à população da cidade.
Camata costuma conversar com
líderes de grupos de assaltantes e
assassinos, com quem se reuniu
oficialmente várias vezes entre os
meses de janeiro e março do ano
passado. Para dizer o que pensa e
falar sobre o risco que correm ao
desobedecerem às ordens.
Alvo
Antes da agenda oficial do prefeito, no entanto, as pessoas consideradas perigosas na cidade passam por outro crivo. São alvo de
investigação e "alertas" do grupo
armado e de confiança do prefeito.
Formado por 22 homens, quase
todos com origem na Polícia Militar, como o "prefeito-xerife", esse
grupo é responsável pelo chamado
"passaporte do crime".
Somente o prefeito conhece os
22. Ninguém mais. Os seus nomes
são mantidos sob sigilo.
"Eles pesquisam, investigam, sabem a vida "todinha' de um sujeito. Chegam lá e dizem: olha, você
tem tantas horas para deixar Cariacica, nós damos a passagem,
mas você não volta nunca mais",
conta o Cabo Camata.
O prefeito diz que perdeu a conta
do número de passagens fornecidas, embora reconheça que a
maioria vai se instalar em cidades
vizinhas, como Vila Velha e Vitória. "Lá, eles têm moleza. Quando
eu for governador, a lei vai valer
para todo o Estado", diz.
Limpeza
As pessoas vão embora, na avaliação do prefeito, por uma questão simples: "Como policial, sempre fiz limpeza por onde passei".
O "passaporte do crime", segundo Camata, é uma das principais
causas da queda da criminalidade
de Cariacica, onde o pavor aumenta conforme cai a noite.
Quando o ex-cabo da Polícia Militar assumiu o cargo, em 97, o
município liderava as estatísticas
de criminalidade.
O último levantamento, feito no
final de 97 pela Secretaria de Segurança Pública, aponta Cariacica
em quarto lugar entre as cidades
mais violentas, ultrapassada por
Vila Velha, Vitória e Serra.
O que é contado como vantagem
pelo Cabo Camata, é visto com a
maior desconfiança pelos próprios dirigentes da secretaria, fonte das estatísticas oficiais.
Na cúpula da Polícia Civil do Estado, a interpretação dos números
é a seguinte: pessoas ligadas ao Cabo Camata estariam "desovando
os cadáveres" nos municípios vizinhos. Pessoas seriam localizadas
em Cariacica e eliminadas em Vitória e Vila Velha, por exemplo.
"Isso é desespero dos adversários políticos", diz Camata. "Enquanto o governador deixa fugir
dos presídios, eu não dou moleza
na minha área".
(XICO SÁ)
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