São Paulo, domingo, 19 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO
Em terceiro na pesquisa Datafolha, pré-candidato do PPS reclama que não consegue ter espaço na mídia
Ciro fará panfletagem de rua contra FHC

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


O pré-candidato do PPS a presidente da República, Ciro Gomes, 40, termina neste mês sua estratégia de visitar cidades médias e capitais do país.
Em maio, fará panfletagens de rua em grandes centros. Vai distribuir, como diz, "análise contundente, porém profundamente equilibrada, do desempenho do presidente Fernando Henrique Cardoso".
O primeiro panfleto terá uma mão aberta na capa. Referência ao símbolo maior de FHC durante a campanha de 94, quando cada um dos cinco dedos representava uma meta do então candidato tucano.
Para Ciro, FHC fracassou em todas as promessas. O título do panfleto é "Você conta nos dedos o que FHC fez pelo Brasil". Será uma folha de papel ofício dobrada. Dentro, o outro título: "Se contar, ninguém acredita".
Com 10% das intenções de voto e em terceiro lugar na última pesquisa Datafolha -atrás de FHC (41%) e de Lula, do PT (25%)-, Ciro reclama que não consegue ter exposição de mídia.
Diz que, em janeiro passado, o seu espaço em jornais, revistas, rádios e TVs era "cem vezes maior" do que é hoje.
Com a panfletagem pública a partir de maio, Ciro pretende recuperar mais espaço de mídia.
Fumante contumaz -consumiu cinco cigarros durante a entrevista com a reportagem da Folha, em pouco mais de uma hora-, o pré-candidato do PPS diz estar bem de saúde.
Emagreceu quatro quilos desde o início do ano. Está pesando 85 quilos. Sua altura é 1m82.
"Quando eu chegar a 15% nas pesquisas, paro de fumar. Vou precisar da minha garanta", diz.
A seguir, os principais trechos de sua entrevista, concedida à Folha na sexta-feira:

Folha - Como vai sua campanha?
Ciro Gomes -
Estou trabalhando 15 dias por um de descanso.
Folha - O sr. quase entrou no PSB e acabou no PPS. Qual é o balanço dessa decisão hoje?
Ciro -
Foi a decisão mais acertada da minha vida pública.
Folha - Por quê?
Ciro -
Porque se eu tivesse entrado no PSB eu teria sido dado, meu pescoço, para o holocausto da contradição do PSB.
Folha - Há esperança de aliança entre o PPS e o PSB?
Ciro -
Não tenho esperança.


"Estoutrabalhando 15dias por um dedescanso"

Folha - Que partidos hoje, além do PV, poderão apoiar a sua candidatura?
Ciro -
O PL. Estamos com uma conversa bem objetiva, bem avançada. Uma ampla dissidência do PMDB está se incorporando pela base. E não será nem sequer divulgado por mim porque é necessário proteger essas pessoas do suborno, do assédio e da violência. Porque o Fernando Henrique está vigiando esses passos do PMDB.
Folha - O sr. costuma dizer que precisa ser mais conhecido pela população. De janeiro até agora, quais os avanços que o sr. obteve nessa área?
Ciro -
O conhecimento era de 25% e passou para 30% do eleitorado. É pouco. Mas isso se deve a um fato que é muito pitoresco, e que é desafiador, dentro do espírito democrático que há na imprensa brasileira.
Numa sociedade de massa, num país continental como é o Brasil, o meu esforço de estar todo dia andando vai produzir resultado. Mas o espaço que eu tinha na mídia em janeiro era cem vezes maior do que o que me dão hoje.
Folha - Cem vezes?
Ciro -
Não é chutado, não. Em números arredondados, o espaço era cem vezes maior. No dia em que eu me transformo numa alternativa concreta, disponível ao juízo livre da sociedade, o meu espaço é reduzido.
Folha - Mas o sr. tem de admitir que, no final do ano passado e em janeiro, o sr. ainda era uma novidade pelo fato de ter deixado o PSDB. Depois disso, não gerou mais fatos da mesma proporção...
Ciro -
Eu concordo. E minha avaliação é essa. Eu não estou amaldiçoando a escuridão, meu esforço é de acender velas.


"O espaço que eu tinha na mídiaem janeiro eracem vezes maiordo que o que medão hoje"

Folha - Que esforço o sr. fez para reverter esse sumiço da mídia?
Ciro -
Para produzir fatos diariamente, que tenham relevância jornalística, precisaria botar uma melancia no pescoço, pintar o fundo das calças de cor-de-rosa e ir para uma praça.
São fatos muito próprios da cultura política brasileira. E uma certa vulnerabilidade da cultura de nossa imprensa de "gossips", de fofocas.
Eu me recuso a isso. Eu pretendo gerar fatos, mas são fatos mesmo.
Folha - Por exemplo?
Ciro -
Estou diariamente discutindo com a sociedade organizada do Brasil, indo aonde ela está. Lá no município, lá na base.
É um esforço que me recompensa psicologicamente. Eu não sofro de depressão. Pelo contrário, tenho entusiasmo. Porque é maravilhoso o resultado desse esforço.
Claro que eu tenho lucidez e compreendo que esse imenso varejo vai produzir resultados, com certeza, mas muito lentos. E eu precisava de resultados um pouco mais eficazes.
Especialmente para passar uma pequena informação que eu acho justo a sociedade brasileira ter: existe um candidato chamado Ciro Gomes, que já foi deputado, prefeito, governador, ministro da Fazenda. Que se compromete com a estabilidade, mas propõe um modelo de desenvolvimento econômico e social diferente do atual.
Folha - A impressão que dá é que o sr. está fracassando nessa sua tentativa de comunicação. Como o sr. vai transmitir suas propostas para a população?
Ciro -
Haverá transmissão. Porque a dinâmica dos fatos conspiram a favor de meu objetivo.
Qual é a dinâmica dos fatos? O nível de atenção da população, especialmente nos Estados menos escolarizados e mais pobres, em relação ao assunto eleição hoje é nulo. A dinâmica econômica brasileira conspira a meu favor.
Isso se materializa diariamente na pequena empresa, no desempregado, na falência, na erosão do serviço público, no colapso das responsabilidades públicas, na lesão ética que esse governo está experimentando.


"A dinâmicaeconômicabrasileiraconspira a meufavor"

Folha - Até 30 de abril o sr. terá visitado quantas cidades?
Ciro -
Das 150 que eu planejei terei chegado a 117 cidades. São cidades de médio porte e capitais. Goiânia e Anápolis, Cuiabá e Cáceres, Campo Grande e Dourados, Recife, Petrolina, e por aí vai.
Folha - O que o sr. faz nessas suas visitas?
Ciro -
Eu visito o bispo, reúno sindicalistas, reúno o empresariado local, vou às instituições de ensino superior, vou às escolas de segundo grau. Basicamente é essa a operação padrão. Agora, em maio vou começar a tentar a rua.
Folha - Qual será a estratégia?
Ciro -
Nós do PPS vamos fazer uma panfletagem nacional em 5 de maio. Será um primeiro ensaio da mobilização dessa militância.
Folha - Qual militância? Do PPS?
Ciro -
Do PPS e das pessoas que se ofereceram para ajudar durante as minhas viagens. Já são mais de 15 mil pessoas.
Folha - Quem cadastra todas essas pessoas?
Ciro -
Eu. Tenho um computador laptop e ando com ele.
Folha - O que essas 15 mil pessoas vão fazer?
Ciro -
Uma panfletagem nacional, num único dia. Distribuiremos uma análise contundente, porém profundamente equilibrada, do desempenho do presidente Fernando Henrique Cardoso. Um panfleto com uma mão na capa.


"No último ano e meio, o Brasilperdeu um terço dos professoresqualificados nas universidades"

Folha - A mão de Fernando Henrique, dos cinco dedos?
Ciro -
É. Saúde e emprego são os problemas básicos mais visíveis. Mas a educação piorou muito. No último ano e meio, o Brasil perdeu um terço dos professores qualificados nas universidades. Isso custa 30 anos para formar e uma fortuna de dinheiro público.
A segurança é um desastre completo. Sobre agricultura, o governo está fazendo uma propaganda que me fez pensar em acionar o departamento jurídico do partido para entrar no Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária). Caiu a área plantada pela primeira vez desde Juscelino Kubitschek.
Folha - Ainda sobre a panfletagem. Será só um panfleto?
Ciro -
Vão sair cinco panfletos. O primeiro é esse, que têm uma avaliação do governo. É uma folha de papel ofício dobrada.
Na capa estará a mão aberta, com os cinco dedos representando as cinco metas desse governo. O título vai ser "Você conta nos dedos o que FHC fez pelo Brasil". Dentro, o título é "Se contar, ninguém acredita".
Um outro panfleto será sobre o desempenho econômico. A dívida brasileira, vamos dizer para o leitor, em forma de pergunta: Você sabia que a dívida cresceu de R$ 61 bilhões, produzidos em 500 anos de história, para R$ 306 bilhões em três anos deste governo? Serão coisas assim, contundentes. Por exemplo, você sabia que a estatística de falências e concordatas é a maior da história do país?
Folha - O dia 5 de maio é uma terça-feira. O sr. estará panfletando em qual cidade?
Ciro -
Eu e o Roberto Freire vamos estar ao meio-dia em São Paulo e às 17h no Rio de Janeiro.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.