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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento teria mandado embora, com violência, grupo que não concordava com regras do acampamento
Famílias dizem ter sido expulsas pelo MST
MARCOS VITA
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM WENCESLAU GUIMARÃES (BA)
Vinte e oito famílias de ex-integrantes do MST afirmam ter sido
expulsas com violência do assentamento Che Guevara, em Wenceslau Guimarães (280 km de Salvador), por não concordarem
com as regras do movimento.
A denúncia da expulsão, que teria acontecido em março de 1999,
foi enviada à Justiça pelo Ministério Público há dois meses.
O líder do MST no acampamento, Rosalvo José dos Santos, 41,
confirma que as famílias deixaram o assentamento por "divergências", mas reconhece a expulsão -"sem violência"- de apenas um assentado. Ele diz não enxergar ilegalidade no ato.
"A maioria é que deve decidir,
em assembléia, pela expulsão de
quem não segue os princípios do
assentamento, e não o Incra. Não
é uma questão de direito, mas de
coerência. Quem vive no assentamento, o Incra ou os assentados?"
As famílias vivem hoje num
acampamento na fazenda Jutacy,
a 16 km do Che Guevara. Quando
deixaram o assentamento, elas representavam quase metade dos
60 núcleos familiares assentados.
Todas as famílias eram parceleiras e tinham contrato com o Incra
desde janeiro de 1998, depois de
dois anos acampadas com os outros integrantes do MST.
Elas comparam o assentamento
a um "cativeiro". Contam que
eram obrigadas a participar de
marchas de protesto sob pena de
perder a terra conquistada.
"Em vez de plantar e produzir,
tínhamos que andar até 32 dias
com crianças e mulheres grávidas
para Salvador para invadir a sede
do Incra", afirma Elias da Silva
Santos, 32, pai de três filhos.
As famílias discordavam também do sistema coletivo de plantio implantado pelo MST no Che
Guevara. "Trabalhávamos quase
todos os dias na área destinada ao
coletivo e à venda e não tínhamos
tempo de plantar a comida para
nossas próprias famílias", diz Rosalino dos Santos, 76.
"Se já tínhamos conquistado a
terra, por que a gente deveria continuar fazendo protesto e plantando para o MST?", questiona
Verônica de Jesus, 42, sete filhos.
As famílias dizem que foram expulsas por 300 integrantes do
MST vindos de outras regiões.
Eles teriam chegado ao Che Guevara às 20h do dia 2 de março de
1999 e, às 2h30 da madrugada, começaram a ameaçar as famílias
com facões e revólveres, além de
ameaçar colocar fogo nas casas.
Os que tentaram resistir teriam
sido espancados. Marivaldo de Jesus dos Santos, 24, diz ter sido um
dos resistentes. "Tinha 600 pés de
banana plantados e não queria
perder minha roça", afirma.
Marivaldo vive hoje do aluguel
de dois pontos comerciais deixados pelo pai em Wenceslau Guimarães. Ele é o único que o líder
do MST, Rosalvo dos Santos, reconhece como expulso pelos assentados do Che Guevara.
Segundo o líder do MST, as famílias não foram expulsas, mas
"seguiram por vontade espontânea" Marivaldo de Jesus depois
do assentamento ter decidido, em
assembléia, pela expulsão. "O
Marivaldo roubava as colheitas."
Logo após o ocorrido, as famílias registraram queixa na delegacia da cidade. O inquérito foi
aberto, mas perícia feita no local
não constatou indício de violência. No inquérito, enviado à Justiça depois de um ano, não consta
exame de corpo de delito.
De acordo com o promotor de
Wenceslau Guimarães, Pedro
Araújo Castro, o Ministério Público se baseou nos testemunhos para encaminhar o processo.
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