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VIAGEM PRESIDENCIAL
Em Genebra, tucano afirma, no entanto, que processo é real e não adianta se manifestar contra
Também não gosto da globalização, diz FHC
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Genebra
O presidente Fernando Henrique Cardoso desembarcou ontem
em Genebra sintonizado pela metade com a inquietação universal a
respeito do processo de globalização da economia.
"Se você me perguntar se eu
gosto da globalização, eu vou dizer que também não gosto, não",
disse o presidente, mal desceu as
escadas do Boeing KC-137 da Força Aérea Brasileira, que o trouxera
de Madri.
Explicou por que não gostava de
um fenômeno que esteve na origem de protestos que degeneram
em violência na véspera de sua
chegada: "Porque acho que você
perde uma porção de graus de liberdade na política dos países".
Terminam aí as coincidências
entre FHC e os adversários da globalização. Estes pedem correções
de rumo, mas o presidente brasileiro se conforma:
"É um fato, um processo real
que está aí e não adianta se manifestar contra, não tem jeito".
O presidente acha que protestos,
como os ocorridos em Genebra,
"não levam a mudanças efetivas
porque não há como dar marcha a
ré na história. O processo de produção já está globalizado, as decisões cada vez mais implicam alguma coisa além das fronteiras".
Mas FHC discorda da tese de que
a globalização é a responsável
principal pelo desemprego, outro
fenômeno de escala planetária.
"Quando começou o capitalismo
industrial, houve até gente que
quebrava máquinas porque provocava desemprego. Depois, reorganizou-se. Vai acontecer a mesma coisa", disse o presidente.
Seu conformismo com a globalização, em todo o caso, não é total.
Ele acha possíveis "políticas de
reação a essas transformações que
estão acontecendo na base de produção econômica".
Com tais políticas, sempre segundo FHC, a globalização não
provocaria, necessariamente, o
desemprego. "Depende das políticas que sejamos capazes de implementar", concluiu.
O ambiente
O presidente brasileiro desembarcou em Genebra com pontualidade quase suíça: prevista para
20h (15h em Brasília), a chegada
ocorreu às 20h02, com dia claro,
típico na primavera européia.
Hoje, FHC faz o seu discurso nas
cerimônias de comemoração do
50 aniversário do sistema internacional de comércio.
Fará também a defesa do sistema
multilateral de comércio, do qual
o Brasil é membro fundador.
FHC tem dois encontros bilaterais
agendados. Um com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair,
que está em pleno processo de
lua-de-mel com o mandatário
brasileiro.
Blair deve formalizar, no encontro, o convite para que FHC participe do que o mandatário britânico chama de diálogo em busca da
"Terceira Via", um caminho intermediário entre o liberalismo
puro e uma atualização das antigas bandeiras sociais-democratas
de justiça social.
O segundo encontro será com o
presidente sul-africano, Nelson
Mandela, um dos dez chefes de Estado/governo que participam dos
festejos do cinquentenário do sistema global de comércio.
Uma comemoração que, no entanto, está ensombrecida pelas
crescentes dúvidas a respeito da
relação custo/benefício da globalização, cujo símbolo maior é precisamente a OMC (Organização
Mundial de Comércio), a anfitriã.
O próprio diretor-geral da OMC, o
italiano Renato Ruggiero, em seu
discurso inaugural das festividades, admitiu: "Cada vez que se fala de comércio hoje em dia, outras
questões são imediatamente evocadas: instabilidade financeira,
desenvolvimento, marginalização, proteção ao meio ambiente,
condições sociais, emprego, saúde
pública ou diversidade cultural".
Fora do ambiente oficial, há críticas ferozes ao processo de globalização. "No mundo todo, a experiência das pessoas é a de que não
podem se beneficiar de um sistema comercial dominado pelas
multinacionais", diz, por exemplo, Myriam Vander Stichele,
coordenadora de pesquisas da
TNI (Instituto Transnacional),
centro que reúne acadêmicos da
Europa, dos EUA e do chamado
Terceiro Mundo.
Os números exibidos em Genebra
pelos críticos da globalização são
fortes: "Os grandes beneficiários
da liberalização comercial são as
corporações transnacionais, 40
mil das quais controlam mais de
80% do comércio mundial", diz
Christophe Bellman, de uma coalizão de ONGs suíças.
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