UOL

São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENSÃO NO CAMPO

Líder não comenta punição, mas aliado diz que houve "ciumeira" e manobra de Gilmar Mauro

MST proíbe Rainha de falar pelo movimento

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE EPITÁCIO (SP)

A direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) decidiu proibir o líder dos sem-terra no Pontal do Paranapanema José Rainha Jr. de conceder entrevistas em nome do movimento e ainda prorrogou por tempo indeterminado a suspensão de suas atividades na coordenação da entidade.
Rainha afirmou à Agência Folha que acatou a decisão por respeito à hierarquia do MST. Legalmente, ele não pode ser expulso ou suspenso, pois o movimento não existe juridicamente -uma forma que os sem-terra encontraram para se precaver de eventuais intervenções federais.
A suspensão de Rainha vem desde julho do ano passado, quando ele teria promovido uma sequência de desobediências a ordens da direção nacional do MST. Uma das alegações era a de que Rainha estava administrando de forma inadequada uma cooperativa do movimento no Pontal.
A atual situação de Rainha, que tem dado declarações sobre questões nacionais que envolvem o movimento e o governo federal, começou a ser discutida pelos integrantes da direção nacional do movimento na semana passada, em reunião em São Paulo. Como exemplo do tipo de declaração que tem dado, Rainha tem disse à Agência Folha em 23 de maio: "Eu não creio que serei e não espero ser decepcionado pelo governo Lula. Eu conheço o Lula há 20 anos e sei de seu compromisso".
No encontro, ficou acertado que os diretores nacionais do MST que atuam no Estado, entre eles Gilmar Mauro, João Pedro Stedile e Delwek Matheus, teriam carta branca para tratar da questão do líder dos sem-terra no Pontal.
No final de semana, eles então decidiram pelo silêncio de Rainha e pela prorrogação de sua suspensão. O retorno dele às antigas funções somente será discutido caso ele passe a seguir a cartilha da entidade. Rainha ficou sabendo das novas punições por meio de Matheus, José Damasceno (PR) e Irma Bruneto (SC), que foram a Presidente Epitácio (655 km a oeste de SP) só para comunicá-lo.
"Ele é um assentado do MST. Esse procedimento é normal dentro do movimento quando seus membros não cumprem as normas coletivas. Instalam-se comissões de debate, e as direções tomam a decisão. No caso, a direção regional do Pontal e depois a do MST-SP", informou a direção nacional do movimento.
As lideranças também definiram que o acampamento de Presidente Epitácio, hoje com cerca de 2.100 famílias, será mantido, mesmo tendo sido levantado fora dos padrões do MST.
Na condição de suspenso, Rainha não poderia ter lidado com a organização das famílias. Agora, segundo a direção do MST, as famílias estão sob a responsabilidade de coordenadores regionais, que, na prática, continuam avalizando as ordens de Rainha.
Rainha não comentou a punição. Apenas disse que "acata as decisões das instâncias superiores do movimento".
Manoel Messias Bispo Oliveira, coordenador regional e aliado de Rainha, no entanto, protestou. Segundo Oliveira, a punição "e os problemas que Rainha tem com o pessoal de cima são pura ciumeira de gente que não consegue organizar o povo". Oliveira não aceita a punição de Rainha e atribui isso a uma manobra de Gilmar Mauro na direção nacional do MST.
Na reunião em que foi avisado da proibição de falar em nome do MST, Rainha quis saber se a punição fora motivada por supostos problemas administrativos. Na ocasião, segundo a Agência Folha apurou, teria ouvido de Matheus que a punição era política.


Texto Anterior: Protesto: Genoíno e ministros são vaiados por estudantes durante congresso da UNE
Próximo Texto: 3.700 sem-terra invadem áreas em GO e no PR
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.