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TENSÃO NO CAMPO
Líder não comenta punição, mas aliado diz que houve "ciumeira" e manobra de Gilmar Mauro
MST proíbe Rainha de falar pelo movimento
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE EPITÁCIO (SP)
A direção nacional do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) decidiu proibir
o líder dos sem-terra no Pontal do
Paranapanema José Rainha Jr. de
conceder entrevistas em nome do
movimento e ainda prorrogou
por tempo indeterminado a suspensão de suas atividades na
coordenação da entidade.
Rainha afirmou à Agência Folha
que acatou a decisão por respeito
à hierarquia do MST. Legalmente,
ele não pode ser expulso ou suspenso, pois o movimento não
existe juridicamente -uma forma que os sem-terra encontraram
para se precaver de eventuais intervenções federais.
A suspensão de Rainha vem
desde julho do ano passado,
quando ele teria promovido uma
sequência de desobediências a ordens da direção nacional do MST.
Uma das alegações era a de que
Rainha estava administrando de
forma inadequada uma cooperativa do movimento no Pontal.
A atual situação de Rainha, que
tem dado declarações sobre questões nacionais que envolvem o
movimento e o governo federal,
começou a ser discutida pelos integrantes da direção nacional do
movimento na semana passada,
em reunião em São Paulo. Como
exemplo do tipo de declaração
que tem dado, Rainha tem disse à
Agência Folha em 23 de maio: "Eu
não creio que serei e não espero
ser decepcionado pelo governo
Lula. Eu conheço o Lula há 20
anos e sei de seu compromisso".
No encontro, ficou acertado que
os diretores nacionais do MST
que atuam no Estado, entre eles
Gilmar Mauro, João Pedro Stedile
e Delwek Matheus, teriam carta
branca para tratar da questão do
líder dos sem-terra no Pontal.
No final de semana, eles então
decidiram pelo silêncio de Rainha
e pela prorrogação de sua suspensão. O retorno dele às antigas funções somente será discutido caso
ele passe a seguir a cartilha da entidade. Rainha ficou sabendo das
novas punições por meio de Matheus, José Damasceno (PR) e Irma Bruneto (SC), que foram a
Presidente Epitácio (655 km a
oeste de SP) só para comunicá-lo.
"Ele é um assentado do MST.
Esse procedimento é normal dentro do movimento quando seus
membros não cumprem as normas coletivas. Instalam-se comissões de debate, e as direções tomam a decisão. No caso, a direção
regional do Pontal e depois a do
MST-SP", informou a direção nacional do movimento.
As lideranças também definiram que o acampamento de Presidente Epitácio, hoje com cerca
de 2.100 famílias, será mantido,
mesmo tendo sido levantado fora
dos padrões do MST.
Na condição de suspenso, Rainha não poderia ter lidado com a
organização das famílias. Agora,
segundo a direção do MST, as famílias estão sob a responsabilidade de coordenadores regionais,
que, na prática, continuam avalizando as ordens de Rainha.
Rainha não comentou a punição. Apenas disse que "acata as
decisões das instâncias superiores
do movimento".
Manoel Messias Bispo Oliveira,
coordenador regional e aliado de
Rainha, no entanto, protestou. Segundo Oliveira, a punição "e os
problemas que Rainha tem com o
pessoal de cima são pura ciumeira
de gente que não consegue organizar o povo". Oliveira não aceita
a punição de Rainha e atribui isso
a uma manobra de Gilmar Mauro
na direção nacional do MST.
Na reunião em que foi avisado
da proibição de falar em nome do
MST, Rainha quis saber se a punição fora motivada por supostos
problemas administrativos. Na
ocasião, segundo a Agência Folha
apurou, teria ouvido de Matheus
que a punição era política.
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