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CHOQUE ENTRE PODERES
Senador sobe tom de críticas ao presidente do Supremo, a quem acusa de querer aparecer na mídia
ACM associa Velloso ao regime militar
CLÁUDIA TREVISAN
enviada especial a Lisboa
O presidente
do Senado, Antonio Carlos
Magalhães
(PFL-BA), subiu
ontem o tom de
suas críticas ao
STF (Supremo
Tribunal Federal) e associou o presidente do órgão, Carlos Velloso,
ao regime militar (1964-85).
ACM afirmou que Velloso ingressou na magistratura por nomeação realizada durante aquele
período, e não por concurso público. Depois, acrescentou que sua indicação para o STF foi feita pelo
ex-presidente Fernando Collor de
Mello. "Os homens de bem que julguem", disse ACM, que pertenceu
à Arena, partido de sustentação do
regime militar, e apoiou Collor.
O conflito entre os dois começou
na última quarta-feira, quando o
ministro do STF Sepúlveda Pertence concedeu liminar suspendendo a quebra de sigilos do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes pela CPI dos Bancos,
realizada no Senado.
ACM classificou a decisão provisória de ""crime" e sugeriu limites
aos poderes do Supremo. Velloso
reagiu e disse que ACM deveria
acatar a Constituição.
ACM rebateu a nota divulgada
ontem por Velloso e afirmou que o
ministro é "doidinho" por aparecer na mídia. "Vedetismo é bom
em palco e não no STF."
""Respondo a todos os homens
do meu país, até mesmo àqueles
que não julgo de bem", afirmou
ACM em Lisboa na tarde de ontem, depois de tomar conhecimento da nota na qual Velloso diz que
está interessado no julgamento de
"homens de bem" do país.
"Agora o ministro Veloso é homem que tem interesse na democracia, mas começou suas funções
judicantes nomeado no arbítrio do
poder militar", afirmou.
ACM atribuiu as liminares contra decisões das CPIs à mudança
na presidência do STF. "Por mais
apreço que eu possa ter pelo ministro Veloso, nós vivíamos muito
bem com o ministro José Celso de
Mello (antecessor de Velloso), que
tinha compreensão perfeita da força do Judiciário, mas sabia também da força dos outros Poderes."
"Eu temo muito pelo ministro
Velloso. Temo que ele confunda a
posição de juiz com a de político. O
seu interesse, nunca negado, de ficar na mídia, o leva certamente a
declarações infelizes", disse.
O senador acrescentou que o STF
está agindo "erradamente" em relação aos poderes das CPIs. "É uma
maneira caolha de observar a
Constituição."
Segundo ACM, a responsabilidade por eventual conflito entre os
Poderes é de Velloso. "Até aqui,
nós vivemos na maior harmonia
com o Supremo."
Apesar do tom de suas críticas,
ACM disse que pode "tolerar" restrições do Supremo ao poder das
CPIs em decretar a indisponibilidade de bens de pessoas investigadas. Esse foi o teor de duas liminares concedidas pelo tribunal anteontem e de outra concedida ontem (leia texto na página 1-8).
Mas disse considerar "inaceitáveis" as restrições à quebra do sigilo bancário e telefônico -como
no caso de Francisco Lopes.
"Se você não quebra o sigilo telefônico e não quebra sigilo bancário, Nicolau (dos Santos Neto) vai
ser amanhã candidato a ministro
do Supremo", afirmou ACM.
Ex-presidente do TRT (Tribunal
Regional do Trabalho) de São Paulo, Santos Neto é acusado de ter
enriquecido ilicitamente.
Para ACM, as liminares podem
estimular irregularidades. "O STF
é o guardião da Constituição, jamais da corrupção."
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