São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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MISTÉRIO EM AL
Debate entre legistas compromete laudo de Badan Palhares e reforça tese da polícia de duplo homicídio
Ex-seguranças deverão ir a julgamento

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


Quatro ex-seguranças do empresário Paulo César Farias deverão ser denunciados em agosto pelo Ministério Público de Alagoas por co-autoria da morte de Suzana Marcolino e, talvez, também pela de PC.
O debate entre peritos encerrado na madrugada de ontem, depois de 8 horas e 59 minutos, reforçou a convicção do promotor Luiz Vasconcelos de que Suzana não se suicidou e que pode não ter assassinado o namorado.
Os delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade já indiciaram os quatro seguranças por duplo homicídio. Lessa e Andrade ainda ouvirão novas testemunhas e entregarão o relatório em julho.
Realizado no fórum de Maceió, o debate opôs os peritos que assinaram os dois laudos contraditórios sobre o caso PC.
Os cinco consultores que farão um parecer do confronto para o promotor devem condenar a versão do legista Fortunato Badan Palhares, coordenador do primeiro laudo, segundo o qual Suzana matou PC e se suicidou.
Se o juiz Alberto Jorge Correia aceitar a provável denúncia do promotor Vasconcelos, dificilmente o julgamento será realizado ainda neste ano, embora a possibilidade exista.
A equipe de Badan Palhares debateu com os autores do contralaudo elaborado em 1997, no qual foi questionada a tese de crime passional.
Badan não apresentou nenhum novo teste científico, apenas uma simulação em vídeo com um barbante reproduzindo trajetória da bala.
Os legistas Daniel Muñoz e Genival Veloso de França e os peritos criminalísticos Domingos Tochetto e Nicholas Passos mostraram nove novas experiências feitas em laboratório.
Nas discussões, os consultores do Ministério Público manifestaram várias divergências com Badan Palhares e nenhuma com os autores do contralaudo.
Quando Badan insistiu na tese de que Suzana media 1,67 m, e não cerca de 10 cm a menos, foi criticado por Marcos Almeida, professor de medicina legal da Universidade Federal de São Paulo: "Suzana tinha muito menos de 1,67 m. Posso afirmar isso além de qualquer dúvida razoável".
Sobre a hipótese de Suzana ter atirado em 23 de junho de 1996, a perita Miriam Garavelli, do Instituto de Criminalística de São Paulo, polemizou com Badan: "Para ter atirado, Suzana precisaria ter resíduos de chumbo, bário e antimônio nas mãos, o que não havia".
Os consultores devem entregar em duas semanas ao Ministério Público um parecer sobre o debate e os laudos divergentes.
O juiz Alberto Jorge Correia afirmou que "não há prova técnica e científica de que Suzana atirou. Na dúvida, se faz necessário o processo, desde que haja indícios de autoria".
Na opinião do delegado Antônio Carlos Lessa, "o debate serviu para robustecer nossa linha de investigação, que aponta para o duplo homicídio".
Embora tenha reafirmado "globalmente" suas conclusões, pela primeira vez Badan Palhares reconheceu haver falhas em seu laudo. Ele concordou com afirmação do juiz Correia, segundo o qual "as premissas do laudo são frágeis".
O juiz ainda não decidiu se quebrará o sigilo bancário, fiscal e telefônico de Badan Palhares, conforme pedido feito pela polícia.
A Justiça alagoana recebeu de volta o crânio de Suzana analisado para a elaboração do contralaudo. A família será informada para que o crânio seja enterrado com o resto do corpo.


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