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São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

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JUSTIÇA

Testemunha foi cliente de ministro

Empresário nega ligação de Bastos com remessas

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O agropecuarista Ivo Morganti Júnior, 46, eximiu ontem, em depoimento à Polícia Federal de São Paulo, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de participação numa remessa de US$ 4 milhões do Brasil para o Uruguai em julho de 1993.
Bastos e Júnior têm relacionamento estreito. O agropecuarista e sua mãe, Maria Dirce Morganti, 79, foram clientes do ministro na década de 80, após terem sido acusados pela polícia de tramar a morte do pai de Júnior e marido de Maria, Ivo Morganti, assassinado com um tiro em 1982.
Bastos também teve vínculos comerciais com a família, à qual arrendou uma propriedade rural em Ibaté (SP).
No depoimento de quatro horas prestado ao delegado que cuida do caso, Moacir Moliterno, o fazendeiro reconheceu a autenticidade dos papéis achados pela polícia em poder do comerciante Carlos Umberto Pereira, no centro de São Paulo, em 17 de junho último -extratos e documentos bancários que relatavam a operação internacional. Mas negou que o dinheiro se destinava a Bastos como pagamento de honorários, contrariando denúncia de Pereira e do ex-contador de Júnior, Carlos Roberto Alves.
Morganti confirmou que sua empresa, a Ermovale Agropecuária Ltda., tomou um empréstimo do Banco Excel em 93. O dinheiro foi enviado para o Uruguai. De lá seguiu para outros bancos e serviu para compra de ações da "offshore" Piermont Corporation, cujos donos são desconhecidos, nas Ilhas Virgens Britânicas.
A polícia investiga as denúncias de que Bastos teria sido o verdadeiro beneficiário da remessa de US$ 4 milhões. O assunto ganhou o interesse da polícia há cerca de três meses. O ministro teria comentado informalmente com o superintendente da PF paulista, Francisco Baltazar, que pessoas estariam tentando vender a veículos de comunicação documentos que "denegriam" sua imagem.
A polícia começou a investigar o caso também extra-oficialmente (sem abrir inquérito). Acabou chegando ao comerciante Carlos Umberto Pereira, que prestou dois depoimentos: num, afirmou que "pensava" em procurar Bastos para pedir ajuda financeira e também que planejava vender os papéis por US$ 5 milhões; no outro, negou que quisesse vender os documentos.
Numa cerimônia ontem em Presidente Prudente (SP), Thomaz Bastos se recusou, pelo segundo dia consecutivo, a falar com a Folha a respeito da investigação da Polícia Federal.
Ele se limitou a repetir que foi "vítima de tentativa de extorsão".
Bastos admitiu conhecer Carlos Roberto Alves. "Conheci há muito tempo", comentou.
O advogado de Alves e Pereira, Jonas Marzagão, 40, disse não haver provas contra seus clientes.


Colaborou a Agência Folha


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