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JUSTIÇA
Testemunha foi cliente de ministro
Empresário nega ligação de Bastos com remessas
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O agropecuarista Ivo Morganti
Júnior, 46, eximiu ontem, em depoimento à Polícia Federal de São
Paulo, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de participação numa remessa de US$ 4 milhões do Brasil para o Uruguai em
julho de 1993.
Bastos e Júnior têm relacionamento estreito. O agropecuarista
e sua mãe, Maria Dirce Morganti,
79, foram clientes do ministro na
década de 80, após terem sido
acusados pela polícia de tramar a
morte do pai de Júnior e marido
de Maria, Ivo Morganti, assassinado com um tiro em 1982.
Bastos também teve vínculos
comerciais com a família, à qual
arrendou uma propriedade rural
em Ibaté (SP).
No depoimento de quatro horas
prestado ao delegado que cuida
do caso, Moacir Moliterno, o fazendeiro reconheceu a autenticidade dos papéis achados pela polícia em poder do comerciante
Carlos Umberto Pereira, no centro de São Paulo, em 17 de junho
último -extratos e documentos
bancários que relatavam a operação internacional. Mas negou que
o dinheiro se destinava a Bastos
como pagamento de honorários,
contrariando denúncia de Pereira
e do ex-contador de Júnior, Carlos Roberto Alves.
Morganti confirmou que sua
empresa, a Ermovale Agropecuária Ltda., tomou um empréstimo
do Banco Excel em 93. O dinheiro
foi enviado para o Uruguai. De lá
seguiu para outros bancos e serviu para compra de ações da
"offshore" Piermont Corporation, cujos donos são desconhecidos, nas Ilhas Virgens Britânicas.
A polícia investiga as denúncias
de que Bastos teria sido o verdadeiro beneficiário da remessa de
US$ 4 milhões. O assunto ganhou
o interesse da polícia há cerca de
três meses. O ministro teria comentado informalmente com o
superintendente da PF paulista,
Francisco Baltazar, que pessoas
estariam tentando vender a veículos de comunicação documentos
que "denegriam" sua imagem.
A polícia começou a investigar o
caso também extra-oficialmente
(sem abrir inquérito). Acabou
chegando ao comerciante Carlos
Umberto Pereira, que prestou
dois depoimentos: num, afirmou
que "pensava" em procurar Bastos para pedir ajuda financeira e
também que planejava vender os
papéis por US$ 5 milhões; no outro, negou que quisesse vender os
documentos.
Numa cerimônia ontem em
Presidente Prudente (SP), Thomaz Bastos se recusou, pelo segundo dia consecutivo, a falar
com a Folha a respeito da investigação da Polícia Federal.
Ele se limitou a repetir que foi
"vítima de tentativa de extorsão".
Bastos admitiu conhecer Carlos
Roberto Alves. "Conheci há muito tempo", comentou.
O advogado de Alves e Pereira,
Jonas Marzagão, 40, disse não haver provas contra seus clientes.
Colaborou a Agência Folha
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