São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2004 / VOTO AGRÁRIO

Todos são filiados à Contag; 22% estão em partidos conservadores quanto à questão da reforma agrária, como PFL, PP e PMDB

Mais de 900 líderes sem terra são candidatos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos 907 líderes da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) decidiram atender aos apelos da entidade e se lançaram candidatos nas próximas eleições municipais em todo o país.
"A classe dos trabalhadores rurais é muito numerosa, mas pouco representada na política. É necessário levar a demanda pela reforma agrária e por créditos à agricultura familiar para os municípios", diz o presidente da Contag, Manoel José dos Santos, 52, filiado ao PT há 24 anos.
O que chama a atenção é que 22% dos candidatos da Contag encontram-se filiados a legendas conservadoras em relação à política de reforma agrária. Disputarão postos de prefeito, vice-prefeito e vereador por partidos como PFL, PP e PMDB.
"Nós não indicamos esses partidos", diz o presidente da Contag. "Mostramos que eles estão na contramão da idéia dos trabalhadores rurais. Mas respeitamos a relação do indivíduo com o partido, sem perseguição."
As legendas da preferência da Contag são PT, PSB, PC do B e PDT. "O PDT, mesmo sendo oposição ao governo Lula, não é considerado por nós como ausente das preocupações dos trabalhadores rurais", afirma Santos.
O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriga 41% (273) dos camponeses candidatos vinculados à Contag. Na seqüência, aparecem o PC do B (89), o PMDB (49), o PSB (46), o PDT (37) e o PP (35).
Os dados sobre a cartada eleitoral da Contag constam de documento interno da própria entidade, ao qual a Folha teve acesso. São informações ainda parciais no que diz respeito à filiação partidária dos candidatos. Não há menção às legendas que foram escolhidas por 244 dos candidatos vinculados à confederação.
A Contag possui hoje 27 federações estaduais (duas no Pará e nenhuma no Amapá), além de 4.103 sindicatos filiados em todo o país -a maioria ligada ao PT.
A máquina da entidade sindical, segundo o presidente da entidade, não se envolverá com a logística das campanhas políticas. "A estrutura da Contag não será usada", diz Santos.
De acordo o levantamento obtido pela reportagem, 90% (815) dos candidatos buscam uma vaga de vereador, 4% (34) de vice-prefeito e 6% (58) de prefeito. As mulheres representam 18% (167).
O maior número de candidatos está em Pernambuco (210), seguido de Bahia (190), Rio Grande do Sul (78), Paraíba (75) e Ceará (49). Pernambuco, aliás, é o Estado que lidera o ranking de famílias acampadas (cerca de 20 mil) e de invasões de terra (50 casos entre janeiro e maio deste ano). Lá, até o presidente da federação local, Aristides dos Santos, pediu licença do cargo para ser candidato a vice-prefeito do município de Itabira.

MST
A estratégia de estimular "candidaturas camponesas" não é seguida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "Nunca deliberamos isso como linha política. O MST não interfere, não impede nem estimula as candidaturas", diz o coordenador nacional do movimento João Pedro Stedile.
Para o MST, que historicamente segue caminhos diferentes dos da Contag, a participação política dos trabalhadores rurais é importante, mas isso não significa a ocupação de cargos públicos. "É necessário e urgente desenvolver novos espaços de participação política do povo. Eles são muito mais importantes do que apenas eleger candidatos e achar que eles resolvem alguma coisa."
Na semana passada, porém, integrantes do MST levaram a sério a campanha municipal no interior da Bahia. Na segunda-feira, eles invadiram a sede do PT de Itabuna (sul do Estado). Protestavam contra a retirada do nome de um sem-terra da lista de candidatos a vereador do partido.
Para Stedile, a cabeça de seus dirigentes deve estar voltada para a reforma agrária. "Nossa deliberação é apenas que os dirigentes e militantes que tenham responsabilidades estaduais e nacionais evitem concorrer a cargos, para que priorizem as atividades relacionadas com a reforma agrária." (EDUARDO SCOLESE)


Texto Anterior: CNBB critica vínculo entre voto e fé
Próximo Texto: PT cede e aceita candidato do MST na Bahia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.