São Paulo, domingo, 19 de julho de 1998

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DOMINGUEIRA
O fantasma de outubro

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo

Se há, hoje, no Brasil, um consenso na área econômica, ele forma-se em torno da avaliação de que o desenvolvimento do Plano Real enroscou-se no chamado "nó cambial" e nas contas externas.
Todos, da esquerda à direita, concordam que há uma bomba a ser desativada. Resta saber o tempo disponível e -eis a questão- como o artefato será desarmado.
Esse é o fantasma que assombra a eleição de outubro, embora para a maioria dos brasileiros, que sofrerá as consequências, ele permaneça invisível.
A questão é duplamente complicada: primeiro pela complexidade "técnica"; segundo, por ser uma ação a ser desenvolvida à sombra -e sem aviso prévio.
Não há no governo quem possa negar a existência da bomba, não há na oposição quem não a aponte, mas não há nem de um lado nem de outro quem diga o que nos espera.
De agora a outubro, muito será dito sobre a necessidade de crescer, sobre o desemprego e os juros altos. Muito será dito, igualmente, sobre a importância da estabilidade econômica e os benefícios da nova moeda.
Muito pouco, porém, poderá se ouvir sobre como corrigir o erro de percurso da política cambial.
Do governo, teremos a "confiança" de que tudo está sob controle. A ameaça será gradualmente afastada.
De Lula e Brizola, pelo que se viu, virão muitos planos e poucas explicações.
Será paranóia ou estamos caminhando para o matadouro?

A Copa se foi. Todos sabem as causas estruturais da derrota: a incompetência do grupo que comandou a seleção nos últimos quatro anos.
Outro caso, esse conjuntural, diz respeito às circunstâncias da partida final. A seleção brasileira, ninguém duvida disso, poderia ter vencido a da França e conquistado a Copa. Mas não entrou em campo.
Fica como explicação mais uma trágica falha "psicocultural" brazuca: a convulsão que tomou conta de todos depois do pânico de Ronaldo.
Mas também aqui o fator incompetência entrou em campo: ninguém teve autoridade para tomar a decisão acertada e difícil.
No mais, viva Zizou e viva a França, o novo país do futebol!




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