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IMAGEM
Para Peter Mandelson, governo deve equilibrar esforço administrativo com a divulgação de suas realizações
Conselheiro de Blair visita FHC amanhã
de Londres
O governo brasileiro, como o de
qualquer país, deve sempre buscar
um equilíbrio entre o trabalho diário de administrar a nação e um
esforço coordenado de divulgação
das suas realizações.
O conselho é de Peter Mandelson, um dos principais estrategistas da bem-sucedida campanha
eleitoral do Partido Trabalhista
britânico no ano passado.
Ministro sem pasta do governo
do premiê Tony Blair -cargo que
reúne as funções de um chefe da
Casa Civil e um secretário de Comunicações-, Mandelson chega
ao Brasil amanhã.
Ele atende a um convite feito pelo próprio Fernando Henrique
Cardoso em sua visita ao Reino
Unido, em dezembro passado.
Considerado um dos políticos
mais influentes do governo trabalhista, Mandelson tem um jantar
marcado com Fernando Henrique, amanhã, no Palácio do Alvorada. Ele também se reunirá com
os secretários de Comunicação,
Sérgio Amaral, e de Assuntos Estratégicos, Ronaldo Sardenberg.
(ISABEL VERSIANI)
Folha - O que o senhor espera da
visita ao Brasil?
Peter Mandelson - Estreitar
ainda mais o relacionamento entre
os dois governos e os dois países,
com a promoção de comércio.
O Brasil, com uma economia em
expansão e uma política estável,
está se tornando um dos mercados
mais importantes para o Reino
Unido. As visitas entre os dois países têm sido cada vez mais frequentes, e eu estou satisfeito em
contribuir nesse processo.
Folha - O presidente Fernando
Henrique Cardoso é candidato à
reeleição. Considerando que o senhor foi um dos principais arquitetos da campanha de Blair, pode-se
esperar que assunto vá ser discutido durante a visita?
Mandelson - Eu não acho que
nós vamos discutir isso, porque eu
não sou "expert" na política doméstica de campanha no Brasil.
Mas há uma similaridade de idéias
e de abordagem entre o presidente
Cardoso e o primeiro-ministro
Blair, e isso criou uma amizade
muito forte entre os dois líderes e
aproximou os dois países. Eu acho
que minha visita reflete isso.
Folha - O senhor considera que
Tony Blair e Fernando Henrique
podem preencher a chamada terceira via (na teoria, uma espécie
de caminho político alternativo
entre o liberalismo total e o protecionismo estatal)?
Mandelson - Há um novo consenso internacional entre vários
governantes, incluindo o presidente Cardoso e Tony Blair, de que
nós precisamos de uma nova via,
que combine o dinamismo econômico e a justiça social.
No passado, pessoas da direita,
como Thatcher (Margaret Thatcher, ex-premiê conservadora britânica), defenderam muitas reformas necessárias. No entanto, colocaram toda a ênfase nos mercados
e ligaram muito pouco para a inclusão social e a unidade da nação.
Ela argumentava que você não
podia ter ao mesmo tempo eficiência e complacência, que você tinha
que escolher.
Nós rejeitamos isso. Nós achamos que você pode ter competência e eficiência e também ter políticas que se importam com as pessoas, que criam justiça e oportunidades para todo mundo ter um lugar na sociedade.
Isso, se você quiser, é a terceira
via. Não o dogma da direita, do livre mercado, mas também não os
estilos e as idéias antigas da esquerda tradicional, que acreditava
em gastos altos, taxação alta, no
Estado atuando como empresa e
governo centralizado.
Folha - O senhor é considerado
muito habilidoso no trato com a
mídia e no trabalho de divulgar
para o público as realizações positivas do governo. Que conselhos o
senhor poderia dar para um governo como o de FHC?
Mandelson - Em todos os países
e governos você se torna tão absorvido pela administração diária e
pelo trabalho do seu departamento, que muitas vezes você perde de
vista o quadro geral e a necessidade constante de se comunicar direto com o eleitorado.
A mídia não tem mais nada a fazer a não ser reportar as más notícias. Quer dizer, esse é o seu trabalho, não estou fazendo uma crítica.
Se os ministros passassem todo o
seu tempo lidando com a mídia,
eles teriam pouco tempo de sobra
para administrar o país. Então você tem que achar um equilíbrio.
Os ministros devem ter equipes
apropriadas e bem treinadas para
lidar com essas demandas e dar
uma direção para que essas equipes possam responder às demandas. Você precisa do pessoal, da
organização, o pessoal tem que ser
profissional, deve receber bem.
Os que lidam com a mídia devem
sempre ter em mente que eles são
menos importantes do que os próprios ministros mas, ao mesmo
tempo, é preciso haver um trabalho de equipe.
Folha - Na opinião do senhor,
que papel o Brasil pode desempenhar no cenário mundial?
Mandelson - O presidente Cardoso é um homem de enorme
prestígio internacional, um homem de considerável carisma. Eu
acredito que, com seu apelo pessoal, ele está elevando o status do
Brasil internacionalmente.
Ele está fazendo a voz do país ser
ouvida com as relações pessoais
que ele está construindo, o que é
importante.
Folha - Fernando Henrique pode
não ser reeleito. Até que ponto a
imagem internacional do Brasil depende da sua figura?
Mandelson - O prestígio internacional de Cardoso ajuda o Brasil, mas a força principal do país
vem da estabilidade de sua política, da força de sua sociedade, da
cultura e do crescimento de sua
economia. Isso é o que está fazendo do Brasil um país no qual se deve prestar atenção.
Folha - O senhor foi uma figura
importante no trabalho de reformulação do Partido Trabalhista.
Como foi esse processo e quais as
principais dificuldades?
Mandelson - Se nós quiséssemos ser eleitos, precisávamos repensar completamente nossas políticas, organização e até nossa
constituição como partido. Tínhamos que nos modernizar, nos fazer relevantes para o país de novo,
criar uma coalizão de apoio ampla.
A resistência a essa modernização veio primeiro de gente de dentro do nosso próprio partido, que
preferia se ater às velhas maneiras
de fazer as coisas, às velhas idéias.
Depois, é claro, nós tivemos a intervenção pouco útil de nossos
oponentes e também de parte da
mídia. Mas nós vencemos os obstáculos e as resistências que foram
colocados no nosso caminho.
Folha - Nesse processo, o partido
não se afastou dos sindicatos, seu
eleitorado tradicional?
Mandelson - Eu acho que sim.
Nós não cortamos os nosso laços
com os sindicatos, mas estamos
menos dependentes deles.
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