São Paulo, Quinta-feira, 19 de Agosto de 1999
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CAMINHONAÇO
Presidente faz pronunciamento e afirma que vai privilegiar crédito a pequenos agricultores
FHC nega ajuda a "devedor contumaz"

AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o governo já respondeu às reivindicações dos produtores rurais e, por isso, vetará o projeto que perdoa até 60% dos débitos caso ele venha a ser aprovado.
O governo não pretende fazer nenhuma concessão aos agricultores endividados além das que foram anunciadas anteontem e que custarão aos cofres públicos cerca de R$ 4,5 bilhões nos próximos anos. ""Não há mais nada a fazer", disse o ministro Pratini de Moraes (Agricultura).
FHC afirmou que as medidas anunciadas serão colocadas em prática e que elas deixam "muito claro que o governo federal tem o maior interesse em apoiar a agricultura brasileira."
O presidente tomou, na tarde de ontem, a decisão de realizar o pronunciamento -depois de os deputados aprovarem a urgência para o projeto de perdão das dívidas agrícolas e de o mercado ter um dia nervoso (o dólar chegou a R$ 1,908). A fala começou às 17h35 e durou dez minutos.
"Espero que o Congresso Nacional tome em consideração o interesse geral do país (...) e que não se tome uma decisão que aumenta a desigualdade, porque toma recursos de todos para dar apenas a alguns", disse.
As dívidas dos produtores rurais, afirmou FHC, devem alcançar R$ 18 bilhões.
"Tenho certeza de que o Congresso saberá encaminhar essa situação, de tal maneira que eu não seja levado a vetar (o projeto ruralista). Todos sabem que nunca temi vetar nada que fosse contra o interesse do país."
No primeiro mandato de FHC, o presidente teve um veto seu derrubado pelos ruralistas.
O deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), relator do projeto de perdão das dívidas, classificou a fala de FHC como "uma punhalada na esperança da agricultura".
Durante o discurso, FHC procurou diferenciar os pequenos e médios produtores endividados dos grandes agricultores, "devedores contumazes".
De acordo com ele, 86% dos devedores têm débitos de menos de R$ 200 mil, enquanto 1% do total é responsável por mais da metade da dívida geral.
O presidente afirmou que "compreende a razão" de muito dos agricultores que realizam protesto em Brasília.
"Mas o governo não pode concordar, e eu não concordarei, com perdão para os que são grande devedores, sobretudo quando são devedores contumazes."


Colaborou Marta Salomon, da Sucursal de Brasília

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