São Paulo, Quinta-feira, 19 de Agosto de 1999
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Pneumonia atinge marcha de sem-terra

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Um surto de pneumonia e doenças nas vias respiratórias, agravado pela onda de frio, e feridas causadas pelo excesso de caminhada estão provocando baixas na "Marcha Popular pelo Brasil".
Até ontem, 150 pessoas haviam retornado às suas cidades de origem no Nordeste, em ônibus fornecidos pelos organizadores.
Além deles, 28 manifestantes com problemas de saúde estão alojados em uma escola de formação sindical na periferia de Belo Horizonte, com febre e dores no corpo. A maioria espera receber alta para retornar à caminhada.
Os mais atingidos são os manifestantes oriundos de regiões quentes e que não estão acostumados com o frio que vem fazendo em Minas Gerais, com temperaturas abaixo de 10C.
Segundo os organizadores, as pessoas que retornaram a suas regiões já foram substituídas por outras 150, mantendo o número anterior de mil manifestantes.
A marcha é organizada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), sindicatos e organizações populares. Eles planejam chegar a Brasília em meados de outubro.
Ontem, a marcha chegou a Belo Horizonte, onde foi recebida pelo prefeito Célio de Castro (PSB). Em seguida, foi saudada por um representante do governador Itamar Franco (PMDB), que também apóia a manifestação.
O governador cedeu o parque de exposições da Gameleira (região oeste de Belo Horizonte) para os manifestantes permanecerem até amanhã, quando seguem em direção ao Triângulo Mineiro.
Os manifestantes foram instalados nos estábulos, geralmente usados em feiras agropecuárias.
""Os estábulos da burguesia são melhores do que muitas casas do povo brasileiro", disse Ênio Bonenberger, da direção nacional do MST. Ele disse que os organizadores não esperavam o frio intenso nem tantos problemas de saúde.
Os primeiros dias foram os mais árduos porque não havia agasalhos e cobertores para todos.
A equipe de saúde da marcha conta com três enfermeiras. As prefeituras das cidades localizadas no trajeto da marcha têm fornecido ambulâncias, consultas médicas e remédios aos doentes.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por exemplo, montou ontem um posto de saúde no parque da Gameleira, com dois médicos, só para atender os manifestantes.
Em uma hora, dez manifestantes tinham sido atendidos, sendo que quatro foram encaminhados, com suspeita de pneumonia, para exames em uma unidade de urgência da prefeitura.
O médico Adriano Rodrigues Diniz, do posto de saúde, disse que não há risco de contágio de pneumonia de um manifestante para o outro, mas recomendou que os doentes se alimentem corretamente, não tomem sol em exagero, não se exponham ao frio e não façam exercícios demais.
As recomendações, no entanto, são impossíveis de serem seguidas pelos manifestantes. Os que não aguentam a caminhada são transportados em caminhões.
Ontem, por exemplo, eles passaram a madrugada em barracas de lona, sob um frio de pelo menos 12C. Pela manhã, tomaram café com leite e comeram um pão com margarina e uma banana.
Depois, caminharam mais de 20 quilômetros sob o sol, durante mais de sete horas. Às 16h, muitos ainda estavam na fila do almoço.


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