São Paulo, Quinta-feira, 19 de Agosto de 1999
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PREVIDÊNCIA
Salário mais alto é prejudicado
Classe média perde com as novas regras

GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia da Sucursal de Brasília

A classe média tende a ser prejudicada com as novas regras propostas pelo governo para a aposentadoria dos trabalhadores do setor privado.
O caso mais claro é o de quem tem salário igual ou superior a R$ 1.255,32 mensais, o teto dos benefícios do INSS. Nessa categoria, só é possível perder; não há ganho em nenhuma hipótese.
Perderá, por exemplo, um trabalhador dessa faixa de renda que começou a trabalhar aos 20 anos e, portanto, pode se aposentar aos 55 anos.
Hoje, esse homem teria direito à aposentadoria máxima do INSS. Com a nova regra, só receberia R$ 1.077,06 mensais se aposentando logo que possível.
Para receber o benefício a que teria direito hoje, seria preciso contribuir para o INSS por mais dois anos. E, mesmo se aposentando depois dos 58 anos, não receberia nada a mais.
Ainda no mesmo exemplo, esse trabalhador contribuirá com R$ 138,08 mensais para o INSS. Se depositasse essa mesma quantia na caderneta de poupança por 37 anos, poderia se aposentar em melhores condições.
Mesmo sem considerar o rendimento da TR (Taxa Referencial, indexador da poupança), seria possível economizar R$ 225,2 mil. Aplicando esse dinheiro a juros mensais de 1%, seria possível fazer retiradas mensais de R$ 2.252 sem mexer no valor principal depositado no banco.
Também pode haver perda para a classe média com a nova regra proposta para o período de cálculo do benefício.
Hoje, o benefício equivale ao salário médio dos últimos 36 meses, sempre respeitando o teto do INSS. Essa regra beneficia os trabalhadores com maior escolaridade, que tipicamente ganham mais no final da carreira.
Pelo que pretende o governo, o cálculo passaria a levar em conta a média dos salários desde julho de 94, até o limite de 30 anos para mulheres e 35 para homens.
No futuro, portanto, os salários de início de carreira entrarão no cálculo do benefício. Para os trabalhadores de baixa escolaridade, a regra pode ser vantajosa, uma vez que seus rendimentos tendem a cair com a idade.
A classe média, em especial a com rendimentos mensais acima de R$ 1.255,32, é francamente minoritária entre os segurados do INSS. No entanto, é politicamente organizada e bem representada no Congresso, que examinará as medidas.


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