São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 2000

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IGREJA CATÓLICA
Cardeal renunciou a postos de chefia, mas continua no Vaticano
D. Lucas afirma que fica em Roma

DA REPORTAGEM LOCAL

O cardeal brasileiro Lucas Moreira Neves, 75, que renunciou no último sábado a dois dos principais postos hierárquicos do Vaticano, reiterou ontem à Folha que tomou a decisão por motivos de saúde.
Tais razões também estão expressas em uma carta que mandou para d. Raymundo Damasceno Assis, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Na correspondência, o cardeal explica que, em agosto passado, escreveu duas vezes ao papa João Paulo 2º, manifestando o desejo de renunciar. Dizia-se "seriamente doente pelas consequências do diabetes e de uma recente insuficiência renal".
Desde 1998, d. Lucas era prefeito da Congregação para os Bispos na Santa Sé. Ele presidia, ainda, a Pontifícia Comissão para a América Latina.
Apontado como um dos possíveis sucessores de João Paulo 2º, tinha reuniões semanais com o Santo Padre. A renúncia, porém, deverá afastá-lo definitivamente do papado.
Entre suas atribuições, estavam a de indicar novos bispos para dioceses de todo o mundo e a de acompanhar o desempenho da igreja latino-americana.
Na rápida entrevista que concedeu à Folha por telefone, de Roma, falou em voz baixa e com dificuldade.

Folha - Quais as razões que o levaram à renúncia?
D. Lucas Moreira Neves -
Não tenho nada de novo a acrescentar. Cheguei à idade de 75 anos e sofro de diabetes. Por isso, julguei melhor que houvesse força nova na Congregação para os Bispos.

Folha - Como o sr. avalia o período em que permaneceu à frente da congregação? Setores progressistas da igreja costumam afirmar que, durante sua gestão, aumentou a indicação de bispos conservadores para o Brasil.
D. Lucas
- Limito-me a dizer que foi uma experiência excelente. Entreguei-me totalmente às minhas funções, sem reserva.

Folha - Certos analistas o apontavam como um dos possíveis sucessores do papa. O sr. chegou a considerar tal hipótese?
D. Lucas -
Não, isso não passou pela minha cabeça, nem pela de ninguém.

Folha - Por que não passou se muitos especialistas insistiam nessa possibilidade?
D. Lucas -
Porque não passou.

Folha - Depois da renúncia, o sr. pretende voltar para o Brasil?
D. Lucas -
Não, agora não. Continuarei morando em Roma.

Folha - Fazendo o quê?
D. Lucas -
Nada, nada. Tenho outros encargos no Vaticano, mas não de chefia.


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