|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOLHA ELEIÇÕES 2000
SÃO PAULO
Em ataques aos três adversários que disputam segundo lugar com pepebista,
PTN, PRN, PSC e PAN usam estratégias semelhantes e os mesmos recortes de jornais e locutores
Microcandidatos ajudam Maluf na TV
SILVIA CORREA
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em disputa acirrada com três
candidatos para chegar ao segundo turno das eleições para a prefeitura paulistana, Paulo Maluf
(PPB) conta com a proteção de
quatro micropartidos.
PTN, PRN, PSC e PAN, que juntos não têm mais do que 1% das
intenções de votos, evitam comentários sobre Maluf, mas recorrem a ataques aos adversários
diretos do pepebista: Geraldo
Alckmin (PSDB), Luiza Erundina
(PSB) e Romeu Tuma (PFL).
Para os adversários de Maluf, o
pepebista tem participação na definição das estratégias dos partidos pequenos.
Eles sustentam que os micropartidos mudaram de alvo a partir do dia 1º de setembro, quando
foi divulgado o crescimento do
tucano nas pesquisas de intenção
de votos pelo Datafolha. O caso
mais evidente, segundo eles, é o
de Ciro Moura (PRN), microcandidato que canaliza seus ataques
aos rivais diretos de Maluf, primeiro Erundina, depois Alckmin.
Os micropartidos e a coordenação de marketing de Maluf negam
qualquer vínculo entre suas campanhas, mas não explicam várias
coincidências.
A primeira delas, apontada pelos tucanos, é que existe um padrão na produção dos comerciais
do PPB, do PAN e do PSC -os
três partidos têm adotado o uso
de recortes de jornais para fazer
críticas ao governo Mário Covas,
atribuindo a responsabilidade ao
vice licenciado Geraldo Alckmin.
Segundo o PSDB, "ao que tudo
indica, a locução foi feita por uma
única voz e, provavelmente, produzida em um único estúdio". Os
tucanos afirmam que a voz é do
locutor Dedé Gomes.
Gomes diz, no entanto, que trabalha exclusivamente para Paulo
Maluf, recusando-se a detalhar
sua participação na campanha.
O estrategista de Maluf, Nelson
Biondi, afirmou que Gomes foi
contratado apenas para uma locução e que ele não é o locutor oficial da campanha pepebista.
Osmar Lins (PAN) disse que
não sabe quem fez a locução de
suas inserções. O nome, segundo
ele, teria sido sugerido por Marcelo Ferraz, dono da produtora
VTCine. Este, por sua vez, diz que
Gomes estava entre as sugestões.
A mais visível das coincidências
consiste na repetição da mesma
inserção de um comercial em TV
assinada uma vez pela coligação
do PTN e outra pelo PAN.
O comercial faz críticas a Geraldo Alckmin e exibe na tela a seguinte inscrição: "Incompetência.
Falta de segurança. Geraldo, vice
de Covas. Fuja deles".
A NewTrade, agência que detém a conta do PTN, confirma ter
sido a autora do comercial, mas
cai em contradição ao explicar de
que maneira poderia ter sido também usado pelo PAN. "Houve
uma troca. Um erro do pessoal da
produtora ao fazer a assinatura",
disse Einar Jácome da Paz, diretor
de criação dos programas do
PTN, no primeiro contato da reportagem. "A produtora estava
fazendo os dois e acabou invertendo as fitas nos pedidos de copiagem para as emissoras."
A Folha procurou o PAN. O
candidato Osmar Lins também
disse que houve um erro da produtora e negou ser o autor do comercial repetido.
Para que o erro pudesse ter
ocorrido, no entanto, o PTN e o
PAN precisavam, ao menos, compartilhar a mesma produtora, o
que ambos -e as produtoras-
negam. A inserção feita pelo PTN
foi produzida pela Y2K, cujo gerente e produtor, Robison Valério, diz nunca ter ouvido falar do
PAN, que pensou ser uma associação de aposentados.
Lins, do PAN, por sua vez, diz
que fez suas produções com a
VTCine, cujo dono, Marcelo Ferraz, nega ter produzido a peça,
mas afirma que "talvez ela estivesse em alguma das fitas que chegaram prontas apenas para eu legendar e copiar".
Hoje, porém, Zé de Abreu e Osmar Lins dividem a mesma agência de publicidade -a NewTrade.
Foi com a NewTrade que o PAN
fez a inserção do "óleo de peroba", que deve levar ao ar até o final
do horário eleitoral.
O publicitário Haroldo Cardoso
chegou a negar que tivesse criado
a peça. Ao saber que fora o próprio Lins que dera a informação à
reportagem, confirmou.
"Esse PAN é muito bem informado. A informação procede,
mas não vou falar mais nada. Eles
nos procuraram. Não cobramos
nada. Criamos, e ele produziu
com um amigo", disse Cardoso.
Propaganda do PAN mostra
imagem de reportagem com o título "Alckmin assinou contrato
sem licitação", enquanto o locutor diz: "Geraldo Alckmin, quando era prefeito de Pindamonhangaba, deu linha de ônibus por dez
anos sem licitação".
O mesmo recorte de jornal, com
a mesma dobra ao centro, aparece
na propaganda da coligação que
apóia Zé de Abreu (PTN), com a
legenda "Maracutaia!", enquanto
um locutor lê texto idêntico.
Texto Anterior: Igreja católica: D. Lucas afirma que fica em Roma
Próximo Texto: Frase foi dita em Belo Horizonte Índice
|