São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 2000

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FOLHA ELEIÇÕES 2000

SÃO PAULO
Em ataques aos três adversários que disputam segundo lugar com pepebista, PTN, PRN, PSC e PAN usam estratégias semelhantes e os mesmos recortes de jornais e locutores
Microcandidatos ajudam Maluf na TV

SILVIA CORREA
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em disputa acirrada com três candidatos para chegar ao segundo turno das eleições para a prefeitura paulistana, Paulo Maluf (PPB) conta com a proteção de quatro micropartidos.
PTN, PRN, PSC e PAN, que juntos não têm mais do que 1% das intenções de votos, evitam comentários sobre Maluf, mas recorrem a ataques aos adversários diretos do pepebista: Geraldo Alckmin (PSDB), Luiza Erundina (PSB) e Romeu Tuma (PFL).
Para os adversários de Maluf, o pepebista tem participação na definição das estratégias dos partidos pequenos.
Eles sustentam que os micropartidos mudaram de alvo a partir do dia 1º de setembro, quando foi divulgado o crescimento do tucano nas pesquisas de intenção de votos pelo Datafolha. O caso mais evidente, segundo eles, é o de Ciro Moura (PRN), microcandidato que canaliza seus ataques aos rivais diretos de Maluf, primeiro Erundina, depois Alckmin.
Os micropartidos e a coordenação de marketing de Maluf negam qualquer vínculo entre suas campanhas, mas não explicam várias coincidências.
A primeira delas, apontada pelos tucanos, é que existe um padrão na produção dos comerciais do PPB, do PAN e do PSC -os três partidos têm adotado o uso de recortes de jornais para fazer críticas ao governo Mário Covas, atribuindo a responsabilidade ao vice licenciado Geraldo Alckmin.
Segundo o PSDB, "ao que tudo indica, a locução foi feita por uma única voz e, provavelmente, produzida em um único estúdio". Os tucanos afirmam que a voz é do locutor Dedé Gomes.
Gomes diz, no entanto, que trabalha exclusivamente para Paulo Maluf, recusando-se a detalhar sua participação na campanha.
O estrategista de Maluf, Nelson Biondi, afirmou que Gomes foi contratado apenas para uma locução e que ele não é o locutor oficial da campanha pepebista.
Osmar Lins (PAN) disse que não sabe quem fez a locução de suas inserções. O nome, segundo ele, teria sido sugerido por Marcelo Ferraz, dono da produtora VTCine. Este, por sua vez, diz que Gomes estava entre as sugestões.
A mais visível das coincidências consiste na repetição da mesma inserção de um comercial em TV assinada uma vez pela coligação do PTN e outra pelo PAN.
O comercial faz críticas a Geraldo Alckmin e exibe na tela a seguinte inscrição: "Incompetência. Falta de segurança. Geraldo, vice de Covas. Fuja deles".
A NewTrade, agência que detém a conta do PTN, confirma ter sido a autora do comercial, mas cai em contradição ao explicar de que maneira poderia ter sido também usado pelo PAN. "Houve uma troca. Um erro do pessoal da produtora ao fazer a assinatura", disse Einar Jácome da Paz, diretor de criação dos programas do PTN, no primeiro contato da reportagem. "A produtora estava fazendo os dois e acabou invertendo as fitas nos pedidos de copiagem para as emissoras."
A Folha procurou o PAN. O candidato Osmar Lins também disse que houve um erro da produtora e negou ser o autor do comercial repetido.
Para que o erro pudesse ter ocorrido, no entanto, o PTN e o PAN precisavam, ao menos, compartilhar a mesma produtora, o que ambos -e as produtoras- negam. A inserção feita pelo PTN foi produzida pela Y2K, cujo gerente e produtor, Robison Valério, diz nunca ter ouvido falar do PAN, que pensou ser uma associação de aposentados.
Lins, do PAN, por sua vez, diz que fez suas produções com a VTCine, cujo dono, Marcelo Ferraz, nega ter produzido a peça, mas afirma que "talvez ela estivesse em alguma das fitas que chegaram prontas apenas para eu legendar e copiar".
Hoje, porém, Zé de Abreu e Osmar Lins dividem a mesma agência de publicidade -a NewTrade.
Foi com a NewTrade que o PAN fez a inserção do "óleo de peroba", que deve levar ao ar até o final do horário eleitoral.
O publicitário Haroldo Cardoso chegou a negar que tivesse criado a peça. Ao saber que fora o próprio Lins que dera a informação à reportagem, confirmou.
"Esse PAN é muito bem informado. A informação procede, mas não vou falar mais nada. Eles nos procuraram. Não cobramos nada. Criamos, e ele produziu com um amigo", disse Cardoso.
Propaganda do PAN mostra imagem de reportagem com o título "Alckmin assinou contrato sem licitação", enquanto o locutor diz: "Geraldo Alckmin, quando era prefeito de Pindamonhangaba, deu linha de ônibus por dez anos sem licitação".
O mesmo recorte de jornal, com a mesma dobra ao centro, aparece na propaganda da coligação que apóia Zé de Abreu (PTN), com a legenda "Maracutaia!", enquanto um locutor lê texto idêntico.


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