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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ELEIÇÕES NO PT
Ex-ministro diz que "é evidente que o PT, depois dessa crise, não será o mesmo de antes; haverá novos dirigentes, novas maiorias"
Dirceu admite responsabilidade pela crise
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA, EM SÃO PAULO
Ex-presidente do PT, o deputado federal José Dirceu (SP) admitiu ontem ter "responsabilidade
política" pela maior crise da história do partido e previu a recomposição das forças internas, com o
surgimento de uma nova maioria
após o Processo de Eleição Direta.
"Eu tenho responsabilidade política no que aconteceu e, ao contrário de muitos da Executiva e da
direção nacional do PT, não fujo
das minhas responsabilidades.
Não é da minha personalidade".
Dirceu, ex-ministro da Casa Civil,
votou ontem de manhã no diretório da Vila Mariana, em São Paulo, em uma situação oposta à do
último PED, em 2001, quando
saiu consagrado com 55% dos votos para presidente do PT. Agora,
apontado como o chefe do esquema do "mensalão", o que ele nega,
luta para salvar seu mandato.
Apesar de admitir que pode ser
responsabilizado, Dirceu declara
que não merece punição: "Responsabilidade política teve todo o
Diretório Nacional, toda a Executiva, todos os integrantes do PT.
Cada um no seu grau devido. [...]
Cometemos erros e estamos respondendo por isso. Eu sou inocente, até agora não apresentaram nenhuma prova", disse.
Dirceu chegou ao diretório pouco após as 11h. Foi saudado por
cerca de 15 petistas, que tentaram
encorajá-lo. "Você vai sair dessa",
disse uma senhora, que deu forte
abraço no ex-ministro. Mas, na
saída, ele também teve que ouvir
um "pega ladrão!" vindo de uma
casa vizinha. Dentro da sala ele
encontrou Monica Valente,
membro da Executiva do PT e
mulher de Delúbio Soares, que
deve ser expulso do PT. Eles se
cumprimentaram rapidamente.
Segundo Dirceu, as forças políticas do partido vão se recompor
depois da eleição, o que pode resultar num enfraquecimento do
Campo Majoritário. "Não haverá
o mesmo espectro que existia no
PT antes, nem no Campo Majoritário nem nas alas que se auto-intitulam de esquerda". Ele disse
que a eleição é fruto de um processo de democratização iniciado
quando ele presidia o partido:
"Ao contrário do que muitos dizem, dos que me acusam de stalinismo, quando eu fui presidente,
o PT se democratizou e muito".
2006
Dirceu falou a contragosto sobre 2006. Não quis fazer previsões
sobre o efeito da vitória de um
candidato "radical" para uma
candidatura de Lula à reeleição:
"Não vou falar sobre hipóteses.
Mas é evidente que o PT, depois
dessa crise, não será o mesmo de
antes. Haverá novos dirigentes,
novas maiorias, isso é natural".
Um PT crítico ao governo Lula
não será novidade: "Não acredito
que mude a posição do PT de
apoio ao governo Lula. É natural
que em muitas questões o partido
não concorde com o governo, que
proponha muitas vezes políticas
públicas que o governo não possa
implementar". Ele afirmou ainda
que não está pleiteando um cargo
de direção, destoando do esforço
que fez para não ser expelido da
chapa do Campo Majoritário:
"Não faz parte de meu projeto. Eu
sei muito bem ser militante, não
preciso de cargos para fazer política". Ele tentou mostrar despreocupação com a defesa feita por petistas de que saia do PT: "Quando
eu comecei a militar no PT, muita
gente não me queria. É natural
que nesse momento muitos me
julguem, mas eu tenho apoio."
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