São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ELEIÇÕES NO PT

Ex-ministro diz que "é evidente que o PT, depois dessa crise, não será o mesmo de antes; haverá novos dirigentes, novas maiorias"

Dirceu admite responsabilidade pela crise

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA, EM SÃO PAULO

Ex-presidente do PT, o deputado federal José Dirceu (SP) admitiu ontem ter "responsabilidade política" pela maior crise da história do partido e previu a recomposição das forças internas, com o surgimento de uma nova maioria após o Processo de Eleição Direta.
"Eu tenho responsabilidade política no que aconteceu e, ao contrário de muitos da Executiva e da direção nacional do PT, não fujo das minhas responsabilidades. Não é da minha personalidade". Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, votou ontem de manhã no diretório da Vila Mariana, em São Paulo, em uma situação oposta à do último PED, em 2001, quando saiu consagrado com 55% dos votos para presidente do PT. Agora, apontado como o chefe do esquema do "mensalão", o que ele nega, luta para salvar seu mandato.
Apesar de admitir que pode ser responsabilizado, Dirceu declara que não merece punição: "Responsabilidade política teve todo o Diretório Nacional, toda a Executiva, todos os integrantes do PT. Cada um no seu grau devido. [...] Cometemos erros e estamos respondendo por isso. Eu sou inocente, até agora não apresentaram nenhuma prova", disse.
Dirceu chegou ao diretório pouco após as 11h. Foi saudado por cerca de 15 petistas, que tentaram encorajá-lo. "Você vai sair dessa", disse uma senhora, que deu forte abraço no ex-ministro. Mas, na saída, ele também teve que ouvir um "pega ladrão!" vindo de uma casa vizinha. Dentro da sala ele encontrou Monica Valente, membro da Executiva do PT e mulher de Delúbio Soares, que deve ser expulso do PT. Eles se cumprimentaram rapidamente.
Segundo Dirceu, as forças políticas do partido vão se recompor depois da eleição, o que pode resultar num enfraquecimento do Campo Majoritário. "Não haverá o mesmo espectro que existia no PT antes, nem no Campo Majoritário nem nas alas que se auto-intitulam de esquerda". Ele disse que a eleição é fruto de um processo de democratização iniciado quando ele presidia o partido: "Ao contrário do que muitos dizem, dos que me acusam de stalinismo, quando eu fui presidente, o PT se democratizou e muito".

2006
Dirceu falou a contragosto sobre 2006. Não quis fazer previsões sobre o efeito da vitória de um candidato "radical" para uma candidatura de Lula à reeleição: "Não vou falar sobre hipóteses. Mas é evidente que o PT, depois dessa crise, não será o mesmo de antes. Haverá novos dirigentes, novas maiorias, isso é natural".
Um PT crítico ao governo Lula não será novidade: "Não acredito que mude a posição do PT de apoio ao governo Lula. É natural que em muitas questões o partido não concorde com o governo, que proponha muitas vezes políticas públicas que o governo não possa implementar". Ele afirmou ainda que não está pleiteando um cargo de direção, destoando do esforço que fez para não ser expelido da chapa do Campo Majoritário: "Não faz parte de meu projeto. Eu sei muito bem ser militante, não preciso de cargos para fazer política". Ele tentou mostrar despreocupação com a defesa feita por petistas de que saia do PT: "Quando eu comecei a militar no PT, muita gente não me queria. É natural que nesse momento muitos me julguem, mas eu tenho apoio."


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